Depois de 35 anos, o governo Lula cumpriu a ameaça e retirou o projeto da usina nuclear de Angra 3 da gaveta, em vez de preferir renováveis.
No Diário Oficial da última segunda-feira, 31 de maio, saiu finalmente a autorização para dar início às obras da usina nuclear Angra 3. As empreiteiras e os militares e civis que controlam o programa nuclear brasileiro desde os tempos da ditadura, exultaram.
O resto dos brasileiros, infelizmente, tem pouco a celebrar. O país vai pagar muito por uma tecnologia ultrapassada, que gera rejeitos tóxicos para os quais ainda não se encontrou uma solução e é tocada por setores do governo que não gostam de transparência.
A Eletronuclear falava, inicialmente, em investimentos em Angra 3 da ordem de R$ 7 bilhões, agora já são R$ 9 bilhões. Angra 3 é um ótimo exemplo de indústria zumbi, ressuscitada à força quando deveria ter sido mantida no caixão. Seu reator foi desenhado nos anos 70, antes dos grandes acidentes nucleares de Chernobyl, Three Mile Island e outros tantos, que forçaram inclusive mudanças nos padrões de segurança dos reatores. Estamos colocando um calhambeque atômico no nosso quintal e pagando caro por ele.
Isso sem mencionar o problema do lixo nuclear. Construir outro reator implica em milhões de toneladas de resíduo radioativo, que é produzido nas diversas etapas da cadeia do combustível nuclear. Só na fase da mineração serão gerados mais de 6 milhões de toneladas .
Solução para esse lixo não existe em lugar algum no mundo. Mas alternativas a ele, sim. As energias renováveis, nas quais o governo deveria investir, são mantidas na gaveta por falta de vontade política. Hoje, o incentivo às fontes renováveis está no PL 630/03, empacado na Câmara dos Deputados e esquecido pelo governo e pelos parlamentares, que preferem empurrar para nossos filhos e netos a conta do lixo nuclear, empatando todos os esforços rumo a um desenvolvimento verde.
Segundo o presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), a licença de Angra é um marco. Para nós também. Marco de retrocesso. O sobrepreço da energia nuclear é paga pelo contribuinte, assim como os constantes déficits apresentados pela Eletronuclear. Para quem não sabe, o Brasil é o país com o segundo pior desempenho nuclear, perdendo apenas para o Paquistão. Para a CNEN, porém, Angra 3 é negócio. Como dona da INB e da NUCLEP, empresas que venderão combustível nuclear e peças, respectivamente, para Angra 3, o licenciamento do reator era óbvio, pois significa ampliação dos negócios e, consequentemente, lucro.
A licença de Angra 3 não poderia ser expedida por um órgão como a CNEN que, além de licenciar e fiscalizar, é responsável pela promoção da energia nuclear e tem interesses diretos com a construção de novos reatores. Fica claro que o interesse público não é considerado.
O avanço de Angra 3 somente corrobora a visão retrógrada que o governo Lula tem sobre o desenvolvimento do país. Ao permitir o avanço de projetos velhos, como Angra 3 e Belo Monte, Lula perde uma enorme oportunidade de avançar em alternativas energéticas que olham para um futuro condizente com as demandas sociais e ambientais do mundo de hoje. Favorecem-se, assim, as grandes empreiteiras em detrimento de uma nação inteira. Não há nada a comemorar.
Esse dinheiro deveria ser investido nas energias renováveis, que vêm conquistando o mercado internacional devido à relação custo versus benefício incomparável. Somente em 2009, a capacidade instalada de eólicas no mundo todo superou a quantidade nucleares instaladas nos últimos 15 anos. Nos últimos dez anos, foram desligados mais reatores nucleares do que instalados, em demonstração da decadência da indústria no mundo todo. Menos, agora sabe-se, no Brasil.
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