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Possibilidade de Novos Acidentes

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Relatório da Associação de fiscais de Radioproteção aponta falhas da Cnen e possibilidade de novos acidentes


A Questão Nuclear

ANDRÉ SOLIANI

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

MICHELE OLIVEIRA

DA REDAÇÃO


O Brasil pretende ampliar o seu programa nuclear, mas ainda conta com uma fiscalização frágil e desestruturada para garantir a segurança das instalações radioativas no país.


A Afen (Associação dos Fiscais de Radioproteção e Segurança Nuclear) e especialistas consultados pela Folha apontam a falta de poder da Cnen (Comissão Nacional de Energia Nuclear) para obrigar usuários de fontes nucleares a seguir normas de segurança, o conflito de interesses dentro da comissão -que tem a função de estimular e, ao mesmo tempo, fiscalizar o uso de energia atômica- e falhas no controle das fontes existentes no país como problemas carentes de correção.


Relatório elaborado pela Afen em 2000 e reconfirmado neste ano afirma que há "a possibilidade de ocorrência de acidentes nucleares e radiológicos em território brasileiro, fruto das vulnerabilidades existentes". A Afen representa 150 dos 310 fiscais da Cnen, que tem 3.000 funcionários.


Uma série de eventos, compilados pelo deputado federal Edson Duarte (PV-BA) e confirmados pela Cnen, demonstra a necessidade de rever a atual legislação que regulamenta o setor. "Parece que não aprendemos o necessário com o acidente nuclear com o césio-137, em Goiânia", afirma Duarte. Em 1987, uma fonte de césio abandonada em Goiânia matou sete pessoas.


"O problema é que a Cnen tem, ao mesmo tempo, a responsabilidade pelo fomento e pela fiscalização da energia nuclear no Brasil. Isso claramente tem aspectos conflitantes. É preciso existir duas administrações independentes para que não haja conflitos de interesses", diz o professor Anselmo Paschoa, da PUC-RJ. A Cnen não tem instrumento legal para punir os controladores de usinas de energia, hospitais, clínicas, indústrias e mineradoras que não observam as normas de segurança ao manusear material radioativo.


"Temos o poder de fechar a operação em casos extremos", diz Odair Dias Gonçalves, presidente da Cnen. Mas práticas inadequadas que não justifiquem a suspensão da concessão costumam passar impunes. Mesmo o poder de cassar as autorizações de operação é limitado. "Não é claro se podemos fechar operações com fontes radiológicas", diz o presidente da Comissão.


Fontes radiológicas, como o raio-x de aeroportos, emitem radioatividade a partir de aceleradores movidos a energia elétrica. Nesses casos, a comissão depende da ajuda da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).


A falta de poder de polícia da Cnen faz com que muitos usuários não invistam na segurança. Em 2002, duas fontes de césio-137 foram roubadas da Companhia Siderúrgica de Tubarão, no Espírito Santo. As fontes foram encontradas num terreno baldio. Era o mesmo material que causou o acidente em Goiânia. A fragilidade também se revela quando a comissão precisa resgatar fontes em desuso. Muitas dessas fontes, se roubadas, poderiam ser usadas para fabricar as chamadas bombas "sujas". Neste ano, um incêndio na Poesi (fábrica de lingerie, no Rio de Janeiro), que estava falida, também revelou que o cadastro de fontes da Cnen é incompleto. Quando os bombeiros chegaram, acharam um equipamento de baixa radioatividade usado para medir a espessura dos tecidos. A fonte não estava no cadastro da comissão. Mais grave: uma das duas fontes havia sido roubada.


A Cnen, segundo documento elaborado por sua diretoria, também sofre com a falta de recursos humanos para cumprir suas funções. "Considerando-se o elevado número de instalações e atividades fiscalizadas pela Cnen, torna-se evidente a insuficiência desse corpo técnico de fiscalização."


Para corrigir essas deficiências, a Afen quer uma legislação que garanta aos fiscais nucleares os mesmos poderes de fiscais do Ibama, da Receita Federal e da Anvisa. Os membros da Afen defendem uma nova legislação com punições claras para condutas que fujam das normas de segurança. A Cnen apóia a nova legislação, mas discorda em dar aos fiscais o poder de polícia.


Dupla função da Cnen é criticada por cientistas


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

DA REDAÇÃO


Especialistas, cientistas e ambientalistas se posicionaram contra o fato de a Cnen (Comissão Nacional de Energia Nuclear) acumular a função de fiscalização da atividade nuclear no país e o monopólio da exploração de urânio. O alerta já foi dado pela comunidade científica, preocupada com um suposto conflito de interesses e os riscos que a sobreposição de atribuições poderia gerar.


"A Cnen se divide entre fiscalizar e pesquisar/desenvolver. Isso é um problema institucional que tem de ser resolvido. Há um conflito de ações, que é mais antigo do que andar para frente. Todo mundo concorda com isso [separação das funções], mas não se faz nada", afirma o professor de energia nuclear Aquilino Senra, da Coppe (Coordenação dos Programas de Pós-Graduação e Engenharia) da UFRJ. "É importante ter um órgão fiscalizador forte, independente e atuante." Senra questiona um dos argumentos utilizados para justificar a não-separação imediata: o alto custo gerado por duas administrações distintas. Na avaliação da Cnen, o mercado nuclear é restrito no país e a divisão da comissão em duas entidades - uma só para fiscalizar e outra para incentivar e desenvolver a tecnologia nuclear - poderia enfraquecer ainda mais o setor.


"Custar caro não é um argumento viável. É muito melhor gastar antecipadamente. Antes do acidente, Goiânia era um dos Estados que mais crescia no país. Depois, ficou parado por 14 anos", diz o professor Anselmo Paschoa, do Departamento de Física da PUC-RJ. Para Paschoa, a possibilidade de acidentes envolvendo fontes radioativas no Brasil não pode ser relacionada ao acúmulo de funções da Cnen. "Qualquer país com atividade nuclear tem risco. Ele existe. Acredito que estamos preparados, mas deveríamos estar melhor", afirma. Segundo ele a separação de funções na comissão serviria para acabar com suspeitas. "Os conflitos não se dão por má-fé. Mas, enquanto houver isso [múltiplas funções da Cnen], fica a suspeita de que tem algo errado."


Transparência


Outra crítica à atuação da Cnen é a falta de divulgação do trabalho realizado e dos danos que a radioatividade pode causar. Para Marcelo Furtado, do Greenpeace, há "falta de transparência no processo de fiscalização". "Não temos noção do tamanho do problema e isso nos preocupa."


Já Senra, da UFRJ, cita a questão da falta de informação da sociedade sobre o assunto nuclear. "É preciso uma campanha de divulgação para a população sobre o risco de manuseio de materiais radioativos. A Cnen não tem feito a divulgação na medida certa."

(AS E MO)


Fonte: FOLHA DE SÃO PAULO - 12 de dezembro de 2004

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Construção da Bomba Atômica Brasileira

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O cientista nuclear José Luiz Santana, ex-presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), disse ontem que o Brasil esteve perto de produzir uma bomba nuclear no início dos anos 90, mesmo depois que o ex-presidente José Sarney (1985-90) mandou desativar o buraco de testes na Serra do Cachimbo (PA). Ele revelou que peças chegaram a ser fabricadas e um dos estoques de urânio enriquecido disponíveis para o artefato estava dentro de um contêiner no campus da USP.

Assumi em abril de 1990, no início do governo Collor, mas só em agosto a CNEN conseguiu submeter o contêiner ao seu controle -— declarou.

A desmontagem do processo de construção da bomba atômica brasileira, segundo o cientista, levou sete meses. Mais de 50 equipes estavam mobilizadas para desenvolvê-la. Além do urânio, Santana disse que suas equipes também encontraram um disparador e partes de uma esfera que formariam o artefato.

É provável que parte dos técnicos mobilizados nem soubesse que estava fazendo uma bomba.

Em entrevista ao “Fantástico”, exibida na noite de ontem, Santana contou que teve acesso a um relatório ultra-secreto que detalhava a construção da bomba. Segundo ele, a potência do artefato seria equivalente à das bombas lançadas no Japão em 1945.

No programa, o ex-presidente da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Pedro Paulo Leoni Ramos (governo Collor), também revelou ter interceptado uma Kombi que deixava as instalações do antigo Serviço Nacional de Informações, no início de sua gestão, carregada de documentos. Entre eles, havia papéis referentes ao programa nuclear.

Santana ordenou rastreamento nas unidades

Santana disse que, ao assumir, encarregou a química nuclear Zelinda Gonçalves, diretora de Pesquisa e Desenvolvimento da CNEN, de percorrer as 44 unidades vinculadas à comissão, à procura de coisas que pudessem ter dualidade (material para fins pacíficos e bélicos).
São Paulo - Instalações do Centro Experimental de Aramar, na cidade de Iperó, a cerca de 130 quilômetros da capital paulista, local onde a Marinha desenvolve seu programa nuclear
São Paulo - Instalações do Centro Experimental de Aramar, na cidade de Iperó, a cerca de 130 quilômetros da capital paulista, local onde a Marinha desenvolve seu programa nuclear
O rastreamento, que mobilizou outros dez técnicos da CNEN, levou à descoberta do contêiner numa área ocupada pelo Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) na USP. Santana afirma que o urânio enriquecido chegou ao Brasil por conta de um acordo bilateral com um país cujo nome recusou-se a fornecer.
O ex-presidente disse que sua estratégia, para desativar o programa, foi transferir equipes para outros setores e, no caso de instalações militares, redirecionar recursos. Santana disse que a última instalação submetida ao controle da CNEN foi Aramar, gerida pela Marinha. Ele contou que, durante a desativação, sofreu três atentados.


Marinha Espera Concluir Usina para Produzir Combustível Nuclear em 2010

Alex Rodrigues
Repórter da Agência Brasil


Brasília - A Marinha espera concluir até 2010 sua própria usina para transformar o concentrado de urânio em gás e assim produzir combustível nuclear na quantidade necessária para continuar desenvolvendo seu programa nuclear.


Valter Campanato/ABr

São Paulo - O superintendente do Programa Nuclear da Marinha, comandante Arthur Campos, no interior da Usina de Hexafluoreto de Urânio (Usexa), onde a Marinha passará a realizar uma das duas etapas do processo de produção do combustível nuclear em que o Brasil ainda é dependente de outros países, a conversão do urânio em pó em gás
São Paulo - O superintendente do Programa Nuclear da Marinha, comandante Arthur Campos, no interior da Usina de Hexafluoreto de Urânio (Usexa), onde a Marinha passará a realizar uma das duas etapas do processo de produção do combustível nuclear em que o Brasil ainda é dependente de outros países, a conversão do urânio em pó em gás

Com o fôlego renovado desde a promessa do governo federal de destinar R$ 1 bilhão para que dê continuidade ao programa, a Marinha estima construir até 2014 um laboratório onde poderá gerar energia elétrica a partir da tecnologia nuclear.
Tanto a Usexa (Usina de Hexafluoreto de Urânio, o gás UF6) quanto o Laboratório de Geração Núcleo-Elétrica (Labgene) irão funcionar no Centro Experimental de Aramar (CEA), instalação que a Marinha mantém no município de Iperó, no interior de São Paulo, a cerca de 130 quilômetros da capital paulista.
Embora já domine todo o ciclo de produção do combustível nuclear, da prospecção mineral à fabricação das pastilhas de urânio que alimentam os reatores nucleares, o Brasil segue dependente de outros países para produzir a quantidade de combustível necessária para alimentar as Usinas de Angra 1 e 2, por não conseguir produzir nem o gás UF6 nem o urânio enriquecido nos volumes necessários.
Segundo o superintendente do Programa Nuclear da Marinha, comandante Arthur Campos, a conversão do urânio em pó (yellowcake) no gás UF6 - processo que poderá ser feito na Usexa tão logo ela fique pronta - hoje é realizada no Canadá. Já o enriquecimento do urânio é feito na Europa, pela companhia Urenco (do inglês Uranium Enrichment Services Worldwide), um consórcio formado pela Inglaterra, Alemanha e a Holanda.
Atualmente, apenas sete países realizam o enriquecimento do urânio: Estados Unidos, França, Rússia, Grã-Bretanha, Alemanha, Japão e Holanda.
Com a Usexa em funcionamento, a Marinha será capaz de produzir 40 toneladas de UF6. Pouco, mas suficiente para suas necessidades. Além disso, o conhecimento tecnológico adquirido pelos pesquisadores da força certamente servirão a outros setores, como já aconteceu no final 2005, quando as Indústrias Nucleares do Brasil (INB) comprou da Marinha e instalou em Resende (RJ) o modelo avançado de ultracentrífugas desenvolvido pelos militares em 1988 para a produção contínua de urânio enriquecido. O valor pago à Marinha é mantido em sigilo.
Para se ter uma noção do potencial energético do material obtido na Usexa, o chefe da divisão do Laboratório de Materiais Nucleares do CEA, Lauro Roberto, explica que com 24 quilos de UF6 podem ser produzidos cerca de 17 quilos de dióxido de urânio (UO2), matéria-prima para a fabricação de quase 3 mil pastilhas utilizadas como combustível nos reatores nucleares.
“A energia contida em uma só pastilha de urânio de 7 gramas, enriquecida a 3,5%, equivale a três barris de petróleo e a uma tonelada de carvão. Não significa que você vá obter toda essa energia, mas é possível ver o potencial do material”, explica Roberto.
Já o projeto do Labgene visa a construção de uma planta nuclear capaz de gerar energia elétrica. O reator que deverá ser utilizado terá cerca de 11 megawatts de potência, o que, segundo a Marinha, é suficiente para iluminar uma cidade de aproximadamente 20 mil habitantes. Sozinha, Angra 1 gera cerca de 600 megawatts.
Além de garantir que as instalações do laboratório servirão de base para um eventual projeto de desenvolvimento de um reator nuclear brasileiro, a Marinha também assegura que o Labgene servirá como um protótipo do sistema de propulsão naval, que permitirá a obtenção de parte do conhecimento necessário à possível construção de um submarino nuclear.
As empreiteiras contratadas pela Marinha preparam o terreno onde serão construídos os prédios que vão abrigar o reator e o protótipo de uma turbina. De acordo com o engenheiro civil consultor da obra Roberto Marczynski, o local foi escolhido devido a estabilidade geológica, já que seu subsolo rochoso atinge cem metros de profundidade. Além disso, o projeto dos dois prédios, interligados por uma ponte rolante e licenciados pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cenen), prevê as mesmas contenções de proteção que usadas nas Usinas de Angra dos Reis (RJ).
“A população pode estar segura”, garante o engenheiro.

Fonte: http://www.afen.org.br/noticias_conteudo.php?id=8
http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2008/08/29/materia.2008-08-29.7130929900/view
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O Fantasma do Inferno Azul

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Quinze anos depois do desastre do césio-137 em Goiânia, o governo ainda não sabe quantas pessoas foram irradiadas. Novas revelações comprovam o descaso com a população atingida


Ana Carvalho – Goiânia

Bira, Jair Careca, Rodneyre e Elpídio não se conheciam, mas tinham em comum uma rápida passagem pelos bancos escolares e o jeitinho brasileiro de driblar o desemprego: viver de bico. Foi em setembro de 1987 que uma oferta tentadora os uniu. Na ocasião, correu por toda Goiânia a necessidade de se contratarem “chapas” (trabalhadores braçais) para quebrar paredes, asfalto, derrubar casas e remover objetos. Em troca, receberiam salário e mais diárias que, ao fim de uma semana, representavam o que conseguiam ganhar no mês. 


Jair José Pereira, pedreiro, recebeu a proposta na praça A, no bairro de Campinas, ponto de braçais. Aceitou e na mesma hora foi posto em uma Kombi branca, sem logotipo. Ubirajara Rosa de Souza fez o mesmo. Elpídio Evangelista da Silva e Rodneyre Ferreira souberam por amigos das contratações e apresentaram-se no escritório da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) em busca de uma vaga. Os quatro começaram a trabalhar na rua 57, no centro de Goiânia, foco inicial do maior acidente radiológico do mundo: o vazamento de pouco mais de 17 g de cloreto de césio-137, que se encontrava em um aparelho abandonado no Instituto Goiano de Radioterapia.

Os quatro não tinham noção do que era radiação e muito menos do que era césio. Tampouco foram informados dos cuidados necessários para a execução dos trabalhos, inclusive no depósito de lixo radioativo de Abadia, cidade a 20 quilômetros de Goiânia, para onde foram transferidos após a limpeza das áreas “quentes” (de alto grau de radiação). A contratação de “chapas” e a convocação de militares e civis do Consórcio Rodoviário Intermunicipal (Crisa), da Companhia de Limpeza Urbana e até da empreiteira Andrade Gutierrez marcavam o início de uma guerra surda para salvar Goiânia do brilho azul fluorescente, que encantou a família de Leide das Neves Ferreira. Aos seis anos, Leide foi a primeira das quatro vítimas fatais da tragédia que não só abalou o País como mostrou e ainda mostra sua face mais perversa: o preconceito contra os radioacidentados.

O festim diabólico do césio-137 se anuncia antes mesmo de seu début, em setembro. O número de vítimas desse acidente está longe de ser fechado. Ele ultrapassa as 621 pessoas classificadas em três grupos de contaminação (I, II e III). Entre civis, a CNEN e depois o Crisa contrataram, nas ruas e através de empresas terceirizadas, cerca de 250 braçais para juntar-se aos cerca de 220 funcionários do consórcio. 


Todos que trabalharam nas áreas isoladas ou no depósito de Abadia entraram em contato com a radiação em vários graus. O mesmo aconteceu com centenas de PMs, bombeiros e até soldados do Exército, conforme apura inquérito aberto pelo Ministério Público Estadual. O promotor Marcus Antônio Ferreira Alves, do Centro Operacional de Defesa do cidadão, luta para que o governo de Goiás indenize e ampare as vítimas da radiação, até então não reconhecidas. “A versão da CNEN é de que a radiação não afetou o grupo que trabalhou nas áreas quentes. Mas tenho o relatório de doses, e não é bem isso que ele mostra. Tenho depoimentos que relatam que os medidores tinham os alarmes sonoros desligados para não causar pânico nos trabalhadores.” Ferreira Alves quer incluir na lista de vítimas do césio mais de 600 pessoas. Ele propõe pensão vitalícia de R$ 360, e para os militares uma promoção de três patentes. 


Quanto aos “chapas”, vai encaminhar o inquérito de mais de oito volumes e três mil páginas para o Ministério Público Federal. “Costumo dizer que tamparam o lixo e ele agora está vazando. Preocuparam-se com o lado material e esqueceram o humano. Quem paga pelo abandono dessas pessoas?”, questiona. O assessor da presidência da CNEN, Alfredo Tranjan, afirma que todos que trabalharam em áreas controladas foram monitorados e cadastrados. “Acompanhávamos as doses, e muitos que estão reclamando não eram cadastrados. Acho estranho que os servidores da CNEN, que receberam doses mais altas do que os que estão reclamando, não tiveram nada”, afirmou.

Farsa – Quinze anos depois, Bira, Jair, Rodneyre e Elpídio continuam “chapas” em todos os sentidos. Mas não é só a camaradagem que os une. Eles já apresentam sintomas da radiação que tomaram durante o tempo que trabalharam diretamente no acidente. Até 1993, apenas os quatro eram os encarregados pelo depósito provisório e trabalhavam das 8 às 18h. Em depoimento, contaram que viajaram junto com tambores de lixo radioativo, além de colocá-los e retirá-los de caminhões e kombis, principalmente quando as empilhadeiras quebravam. De serventes, conforme os contratos, foram alçados a técnicos da CNEN. A imprensa registrou inúmeras vezes os braçais vestidos de macacões e contadores Geiger à mão passeando entre as 13,4 toneladas de lixo radioativo. Segundo eles, uma farsa. “Ninguém sabia que não éramos técnicos.

Durante muito tempo, não havia restrição para nós. Permanecíamos em áreas controladas sem saber ao certo o tempo permitido. As canetas dosimétricas estouravam com frequência”, ou seja: atingiam a carga máxima de radiação, revelou Elpídio, que chegou a chefiar os companheiros em Abadia. Munido de fotos suas e de Bira no depósito, publicadas na revista Manchete, ele acusou os técnicos da CNEN de não terem informado quais os locais de maior radiação ou como utilizar os aparelhos medidores.

O fato mais grave revelado por Elpídio e confirmado pelos outros três está relacionado à deterioração dos tambores de lixo. “Tirávamos os rejeitos do tambor furado ou enferrujado e passávamos para outro, manualmente. O danificado era amassado a marretadas e colocado em uma caixa metálica”, afirma Elpídio em seu depoimento. Rodneyre faz coro e acusa o físico Walter Mendes Ferreira de negligência.


Segundo os “chapas”, ele só comparecia ao depósito provisório para receber equipes de reportagem ou técnicos internacionais. Fora isso, tratava os problemas que lá ocorriam pelo rádio. A ordem, em dia de visita, era virar os tambores enferrujados, remendá-los e pintá-los com spray amarelo ou cobri-los com lona para que as câmeras não pudessem filmá-los ou fotografá-los, contaram eles ao MP. Segundo Tranjan, a maioria que atuou em Abadia era do Exército, especializada em armas químicas. “Do Crisa, usamos motoristas e alguns operadores de máquinas.”

Elpídio está no grupo III, Rodneyre e Jair não se enquadram em lugar algum. Bira disse que chegou a ficar um mês afastado por ter sofrido forte dose de radiação. Rodneyre e Jair moram em casas humildes na periferia da capital e continuam vivendo de bicos. Elpídio pediu demissão do hotel em que trabalhava como copeiro para cuidar da saúde. Eles evitam contar que atuaram no acidente. “Se a gente fala, tá lascado. Aí é que não arruma nada mesmo. O pessoal acha que, se a gente adoece, pode passar pra eles”, diz Jair, que leva a vida “sem pensar muito nessas coisas”. Jair só lembra do césio quando se dá conta de que não consegue mais exercer seu ofício de pedreiro. “Não posso me abaixar para assentar um piso. Sinto muitas dores no corpo. Dente, perdi um monte. Não sou mais o mesmo. Naquele dia, eu ainda brinquei dizendo que não voltava para casa sem o feijão. Se eles tivessem contado o que era, eu não ia.

A situação de Rodneyre também é dramática. Desempregado, fez uma cirurgia em 1998, sete anos após ser demitido do depósito de Abadia, para tirar uma massa com um líquido escuro da perna. “Eu tinha tanta dor e febre altíssima que chegava a delirar. Nem o médico soube me dizer o que era aquilo.” No fim de 2001, teve uma ruptura intestinal e passou oito meses com uma bolsa de colostomia (externa ao corpo). Rodneyre também não contou aos médicos que trabalhou na remoção e no depósito dos rejeitos do césio. “Se contasse, corria o risco de não ser operado”, afirma ele, traduzindo o preconceito que ainda existe na cidade.

O médico americano Robert Gale, que cuidou das vítimas de Chernobyl, o maior acidente nuclear do planeta, ocorrido na antiga União Soviética em 1986, chegou a estimar que de cinco a dez mil pessoas precisariam de acompanhamento em Goiânia, mesmo com riscos mínimos, por serem vizinhas das principais áreas de foco de radiação. 


Ele defendeu o monitoramento para que surpresas fossem evitadas no futuro. No dia 19 de dezembro de 2001, uma nota técnica da Fundação Nacional de Saúde admitiu que o tempo médio de latência do césio é de 15 anos e há possibilidade de um crescimento progressivo de incidência de câncer naqueles que foram expostos diretamente ao acidente (5,4 vezes em homens e 3,3 vezes em mulheres). 


A nota abre ainda a possibilidade de existirem mais vítimas do que as já cadastradas quando recomenda que seja contratado um centro qualificado de epidemiologia para pesquisa e acompanhamento “visando incluir a totalidade da população exposta ao césio, uma vez que essa atividade ainda não foi contemplada.”

Latência Em depoimento ao MP, a oncologista Maria Paula Curado, que acompanha os radioacidentados há 15 anos, reconhece que o critério para classificação das vítimas não corresponde à realidade constatada. Segundo ela, as pessoas que receberam baixas doses de radiação desenvolveram câncer e outras doenças. Ela advertiu que é um erro pensar que a radiação provoca apenas câncer. O mais comum, disse, é a ocorrência de doenças como hipertensão, gastrite, síndrome do pânico, radiodermite, doenças periodontais, má-formação congênita em crianças e atraso no crescimento. Ela confirmou ser consenso que a radiação contínua pode causar várias doenças.

O segundo-tenente da PM Edvaldo Martins Gomes, hoje com 38 anos, o mecânico Nilton Pereira dos Santos, 56, e o motorista Nephtali Barbosa Lagares – que aos 42 anos morreu de câncer em vários órgãos em janeiro de 2001 – são alguns dos muitos que não estão na listagem das vítimas do césio. Nephtali e Nilton estavam entre os funcionários do Crisa. Nilton tem um tumor maligno no pescoço e há suspeita de que esteja desenvolvendo um câncer linfático. 


Edvaldo, 38 anos, se emociona ao contar o que tem passado. Ele trabalhou como subcomandante da fiscalização do depósito de Abadia entre 1996 e 1997. Um melanoma (câncer de pele) na altura do tórax desestruturou sua vida. Em seguida, apareceram dois nódulos nas costas. “Os policiais quando examinados mostravam grau de radiação e a CNEN mandava que se afastassem, mas eles já tinham passado mais de 24 horas no local”, lembra. Edvaldo vive em tratamento psicológico. Perdeu a casa onde morava, trancou a faculdade e ganhou medo e revolta. “Meu dinheiro era para comprar remédio. Não tinha como pagar aluguel e pôr comida em casa. Agora, descubro que estou com a próstata aumentada e há possibilidade de recidiva do melanoma em 30%. Mas os médicos não acham que fui uma das vítimas do césio.” Por ironia, hoje ele mora e vigia o antigo escritório da CNEN montado na rua 57, a três casas de onde o inferno azul começou.



Dias de terror
13/14 de setembro de 1987 – Os sucateiros Roberto Alves e Wagner Mota Pereira retiram do abandonado Instituto Goiano de Radioterapia um equipamento contendo césio-137. No número 68 da rua 57, rompem o lacre a marretadas.
18/19 – Contaminados, vendem a peça para Devair Alves Ferreira, dono de um ferro-velho na rua 26-A. Encantado com o brilho forte e azulado, chama vizinhos, amigos e irmãos e distribui pedrinhas de césio.
28 – Maria Gabriela, mulher de Devair, aciona Geraldo da Silva para levar o que restou do césio para a Vigilância Sanitária. É dado o alarme do maior acidente radiológico do mundo.
23 a 28 de outubro – Morrem Maria Gabriela e a sobrinha Leide das Neves, seis anos, que engoliu a substância, o funcionário de Devair, Israel dos Santos, 22 anos, e o catador de papel Admilson Alves de Souza, 18, que morava nos fundos da casa do dono do ferro-velho.


- Revista Isto É - Edição nº 1703 - Especial – Brasil - 17/05/2002
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Mosaico da Segurança Nuclear

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Fragmentos da Situação Nuclear Brasileira

Boa parte do custo nuclear é paga pelo governo de forma obscura. Um exemplo é o custo de destinação dos rejeitos radioativos. Nenhum país do mundo encontrou uma solução definitiva para estocar esse material. Os EUA estão construindo um depósito nas montanhas de Nevada, ao custo de US$ 5 bilhões. No Brasil, isso não foi nem orçado. A Eletronuclear, empresa estatal responsável pelo setor, não divulga o valor gasto com o armazenamento de rejeitos nucleares de Angra 1 e 2, provisoriamente guardados no interior das próprias usinas, em piscinas de contenção. Dentro de alguns anos, os rejeitos terão de ser remanejados para um local mais seguro. O presidente da Eletronuclear, s Othon Pinheiro da Silva, não tem informações exatas sobre como isso será feito. “Os depósitos de longa duração estão sendo trabalhados. Só teremos de pensar nisso daqui a uns 20 anos”, afirma.

O país não tem um bom histórico na previsão de gastos nucleares. O governo diz que a conclusão de Angra 3 vai custar R$ 7,2 bilhões, equivalentes a US$ 3,6 bilhões. Em 2003, o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciava que a obra sairia por US$ 1,8 bilhão. As projeções do MIT sugerem que uma usina com a mesma potência de Angra 3 custa, no mercado internacional, 40% abaixo do que o governo diz que pretende gastar. Mudanças de previsão de gastos são comuns na história nuclear do país. A construção de Angra 2, orçada inicialmente em US$ 2 bilhões, terminou custando o quíntuplo.


Fonte: - Revista Época - 29/06/2007

- http://www.afen.org.br/noticias_conteudo.php?id=139


Energia nuclear, mesmo sem licença

Washington Novaes

No mesmo dia em que o governo de Goiás reconhecia o direito de mais 199 servidores estaduais receberem indenizações mensais por danos à saúde provocados, em 1987, pelo acidente com a cápsula de césio 137 em Goiânia (agora são 422 reconhecidos, mais 800 reivindicam), o presidente da Eletronuclear anunciava que começará no segundo semestre deste ano a implantação da usina nuclear de Angra 3 - embora ela não esteja ainda licenciada pelo Ibama e como se isso fosse apenas um pormenor irrelevante. E exatamente um dos pontos a serem apreciados no licenciamento é a falta de destinação para os resíduos nucleares altamente radiativos que serão produzidos pela usina - e que deverão ser ainda muito perigosos daqui a 10 mil anos. Perto deles, os 19 gramas de césio que se espalharam em Goiânia naquele acidente são uma brincadeira de criança.

A usina, que a Eletronuclear prevê em funcionamento em 2014, não só não tem o licenciamento do Ibama como está sendo questionada na Justiça pelo Partido Verde e pelo Greenpeace, que consideram inconstitucional a permissão do Conselho Nacional de Política Energética, que autorizou em junho de 2007 a implantação. Como mostra no processo o professor emérito da USP e da UFMG José Afonso da Silva, a autorização sofre de dupla ilegalidade: falta-lhe um ato autorizativo prévio da Presidência da República, assim como a indispensável aprovação do Congresso Nacional, posterior a essa autorização (artigos 21, 49 e 225 da Constituição). A autorização por decreto de 1975, invocada pela Eletronuclear, foi revogada em 1991 pelo então presidente Collor. Não bastasse, questiona-se ainda a validade do contrato para a usina firmado em 1983 com uma mega-empreiteira. E nem Angra 1 nem Angra 2, segundo as notícias, têm licença de operação.

Diz a Eletronuclear que os reatores de Angra 3 produzirão “apenas” 28 metros cúbicos de rejeitos de alta radiatividade, que “podem ser estocados numa salinha” por cem anos. Mas a destinação final dos rejeitos - diz a empreendedora - só estará decidida em 2013 (inclusive para o lixo nuclear de Angra 1 e Angra 2, estocado nas próprias usinas) e o Ministério Público acha indispensável definição prévia à implantação. No mundo todo, ninguém conseguiu até hoje encontrar essa solução. Os EUA já investiram mais de US$ 30 bilhões num projeto em Serra Nevada, embargado pela Justiça por falta de garantias para os milhares de anos de sobrevida da radiatividade. O que se pretende aqui é fazer um leilão entre municípios que se candidatem a recebê-los, contra “pagamento de royalties”. É o que se chama de abusar da falta de informação e do miserê dos municípios.

Por exigência do Ministério Público, novas audiências públicas sobre Angra 3 tiveram de ser realizadas. E ali desfilaram os temores de moradores da região: sobre a insegurança do transporte de materiais radiativos por rodovia até Angra; sobre o plano de emergência em caso de acidente, que só abrange uma área até cinco quilômetros da usina; sobre a sensibilidade da região de Cunha, próxima à usina, a abalos sísmicos, como já aconteceram; sobre a fragilidade dos planos de evacuação; sobre as emissões de gases ao longo de todo o processo de extração, transporte e utilização do urânio, que seriam superiores às de outras fontes energéticas; sobre a falta de proteção para os habitantes das ilhas, que representam 60% dos habitantes do município de Angra; sobre a falta de médicos especialistas em radiações - entre outros ângulos.

Mas os prefeitos de Parati e Angra dos Reis, por exemplo, se manifestaram a favor do projeto, desde que a mão-de-obra usada na construção (9 mil vagas) seja de seus municípios, não venha de fora. E desde que existam garantias, “como em Angra 1 e 2”, de que não haja acidentes graves. A Eletronuclear garante, lembrando que há no País 3.700 instalações industriais, médicas, etc., que usam materiais ou fontes radiativos e são seguras (como a de Goiânia...). Por isso mesmo, prevê mais quatro a oito reatores em outros pontos do País até 2030.


Fonte:- O Estado de São Paulo 02/05/2008

- http://www.afen.org.br/noticias_conteudo.php?id=196



Segurança Nuclear


José Goldemberg

Há anos que o governo se debate em dúvidas sobre que destino dar à Comissão de Energia Nuclear. Criada na década de 50 para promover o uso da energia atômica, ela teve períodos de maior ou menor prestígio, foi ligada administrativamente a vários ministérios ou à Presidência da República e, atuamente, enfrenta um problema de identidade.

Como em outros países, a Comissão de Energia Nuclear foi criada como uma repartição pública com a finalidade dupla de promover energia nuclear e fiscalizar o seu uso, para garantir que fosse utilizada sem riscos para a população.

A promoção da energia nuclear não se restringe a estudos e à construção de reatores nucleares, mas também ao uso de substâncias radioativas na medicina e na indústria.

A segurança nuclear ou proteção contra radiações nucleares envolve tecnologias complexas, e por esta razão a promoção da energia nuclear e a segurança nuclear se desenvolveram juntas nos mesmos laboratórios, apesar de haver uma contradição profunda entre as duas atividades. O interesse em promover o uso de energia nuclear leva naturalmente a minimizar os riscos que decorrem do seu uso. Quando as duas atividades têm lugar sob a mesma autoridade governamental ou ministério, quem sofre é a segurança nuclear.

Por esta razão é que vários países como os Estados Unidos e a Espanha separaram as duas atividades, dando às Comissões de Segurança Nuclear um status administrativamente elevado, para que pudesse resistir às pressões dos interessados no uso indiscriminado de energia nuclear.

Após os acidentes com reatores nucleares, dos quais o de Chernobyl é o mais dramático, a sensibilidade das populações em relação ao uso de energia nuclear aumentou muito.

Uma Comissão de Segurança Nuclear que fiscalize o uso de substâncias radioativas em geral precisa de uma grande independência, o que pode ser assegurado dando a seus membros garantias de estabilidade na função, que funcionários públicos em geral não possuem.

Foi isso o que fez a Espanha já em 1980, separando claramente as funções de promoção e fiscalização nuclear, que estavam reunidas na Junta de Energia Nuclear desde 1951. Os membros da Comissão de Segurança Nuclear são escolhidos pelo Executivo, mas seus nomes precisam ser aprovados por três quintos do Congresso e recebem mandatos de seis anos. O mesmo sistema foi adotado há décadas nos Estados Unidos.

Este sistema se baseia no princípio de que quem promove não pode ao mesmo tempo fiscalizar. A aplicação deste princípio é que justifica a vinculação do Tribunal de Contas, que fiscaliza os gastos que são realizados pelo Executivo, ao Congresso Nacional.

Este é o caminho que deveria ser seguido no Brasil, em lugar de manter a ficção de que a atual Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) não é suficientemente forte para ser subdividida.

Este é um argumento falaciosos. Os institutos de pesquisa da CNEN se enfraqueceram muito e ela acabou por fazer mal as suas duas funções. Este processo se iniciou quando o Acordo Nuclear com a Alemanha passou a ser desenvolvido pela Comissão Brasileira de Tecnologia Nuclear (Nuclebrás e Furnas), e continuou quando boa parte das atividades nucleares se concentrou na Coordenadoria de Projetos Especiais da Marinha.

O que restava à CNEN na ocasião era fazer bem a proteção da população, o que ela não fez com sucesso, como demonstra o acidente de Goiânia.

O presidente Itamar tem agora uma nova oportunidade de remediar esta situação, seguindo as recomendações do relatório coordenado pelo professor Vargas (seu atual ministro da Ciência e Tecnologia), que há anos recomendou a solução da divisão da Comissão de Energia Nuclear em duas, com funções claras, que talvez lhe restituam o prestígio que já teve em laguns períodos no passado.

José Goldemberg foi reitor da USP, Secretário nacional de Ciência e Tecnologia e Ministro da Educação.


Fonte:- Jornal do Brasil 12/01/1993

- http://www.afen.org.br/noticias_conteudo.php?id=44

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