Acho que seria oportuno analisar alguns aspectos da ação da indústria nuclear nos últimos tempos (principalmente dentro do Governo Lula) e suscitar uma reflexão sobre o quanto essa estratégia não é recorrente dentro do setor elétrico como um todo.
-> Fatos consumados: a indústria nuclear está muito empenhada em aprovar o pacote do Governo Lula para o setor o quanto antes e em tornar irreversível o máximo de projetos nele contidos.
-> Tudo ao mesmo tempo e agora: rapidez na tramitação das propostas e um número muito grande de ‘frentes de batalha’ abertas simultaneamente obrigam os opositores a se dividirem (em número de militantes, recursos financeiros e tempo) para conseguirem acompanhar o ritmo e a dispersão das ações ofensivas da indústria.
-> ‘Investimento’ na formação de uma nova opinião pública: a conquista de setores importantes da sociedade, promovendo a visita de universitários, jornalistas e parlamentares (vindos de várias partes do país e com todas as despesas pagas) às dependências da indústria.
-> Aproximação com a comunidade científica: ajudar a academia a superar a eterna barreira das parcas verbas de pesquisa, contratando seus pesquisadores, encomendando seus serviços, colaborando na melhoria de seus laboratórios e gabinetes e garantindo que tenha uma visão mais generosa de seus mecenas.
-> Responsabilidade social: satisfação de aspirações e necessidades de comunidades carentes (e, às vezes, não tão carentes) existentes nas proximidades dos empreendimentos propostos, antecipando-se ao surgimento de opositores.
-> Progresso e desenvolvimento: a oferta de vantagens como empregos (de todos os tipos: qualificados ou não, bem remunerados ou nem tanto, temporários ou permanentes, em empresas terceirizadas ou em cargos de confiança do serviço público), de benfeitorias (que rendam ganhos eleitorais para os políticos locais) e, mais modernamente, de royalties sobre aquilo que for produzido.
-> Revisão daquilo que ignoramos: eliminação ‘a posteriori’ dos entraves legais à realização de projetos concebidos e propostos em desacordo com a legislação vigente; esta prática tem sido muito usual e é conhecida popularmente como ‘levar no peito’.
-> Uma mão lava a outra: uma empresa estatal detentora de péssima imagem pública ‘compra’ espaços publicitários em um respeitado jornal de circulação nacional, colaborando para o equilíbrio financeiro daquele veículo, mas garantindo que esse órgão de imprensa passe a ter a ‘visão certa’ de temas ou projetos de seu interesse.
-> Cozinha: uma variação da prática acima: uma empresa estatal de irresponsável conduta pública produz internamente reportagens que lhe são muito favoráveis e faz parecer que estas foram realizadas de maneira independente pelo jornal que as publicou.
-> Fritar o peixe olhando o gato: uma sofisticação da prática anterior, um grandessíssimo banco público ou uma empresa petrolífera estatal muito falada ‘compra’ enormes espaços publicitários em um respeitado jornal de circulação nacional, colaborando para sobrevivência financeira daquele veículo, mas, em troca exige que outro jornal ou revista do mesmo grupo econômico passe a ter a ‘visão certa’ de temas ou projetos de interesse do governo.
Para finalizar, um exemplo da comunicação da indústria nuclear com as crianças e adolescentes das comunidades afetadas por seus projetos. Essa cartilha tem sido largamente distribuída nas escolas públicas de diferentes pontos do país.
Fonte: Este relatório foi escrito pelo ambientalista Sérgio Dialetachi e reflete as suas observações do workshop “Energia Nuclear no Nordeste” e as suas opiniões pessoais sobre os planos de construção de novas usinas nucleares no Brasil.
Sérgio Dialetachi participou do evento em Recife a convite da Fundação Heinrich Boell.
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