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O MAIOR ACIDENTE RADIOLÓGICO URBANO DO MUNDO - GOIÂNIA 1987

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O Instituto Goiano de Radioterapia (IGR) foi pressionado a deixar o local onde funcionava, transferiu sua sede a outro endereço, terminando por abandonar no antigo prédio um aparelho que era usado no tratamento de quimioterapia a base Césio-137 (o aparelho não era mais usado em tratamentos médicos e foi proibido, por uma liminar judicial, de ser retirado do local). Em 04 de Maio de 1987 iniciou-se a demolição da construção a mando de um ex-sócio do IGR, culminando com a destruição quase total do prédio original, que o deixou sem telhado, portas ou janelas.

Ruínas do IGR

Em 13 de setembro de 1987 dois rapazes que estavam desempregados, encontraram nos escombros o aparelho. A estrutura de metal e chumbo chamou a atenção dos dois, perceberam que poderiam retirar partes e vender já que o aparelho estava sem símbolos ou advertências que pudessem identifica-lo como perigoso. Levaram a peça para a Rua 57 nº. 68 no Setor Central, ali a mesma começou a ser desmontada e o lacre que protegia a cápsula de cloreto de césio foi rompido, dispersando os primeiros fragmentos de Césio-137 no ambiente.

Devair Alves Ferreira era o dono do ferro-velho que comprou a peça. A cápsula que continha césio foi chamada de marmita graças ao seu formato e tamanho. Esta “marmita” veio de “brinde” na negociação, pois seus 22kg de revestimento eram compostos de chumbo e recoberta por aço inoxidável, ou seja, não tinham valor comercial. Não demorou muito para que ele descobrisse que a substância, em ambientes escuros, emite uma luz azulada encantadora. Devair resolveu partilhar do encanto com todos aqueles que mais amava. Sempre ao receber as visitas de parentes, vizinhos e amigos lhes apresentava a descoberta, e a maioria reagia interessada em conhecer a misteriosa luz azul. Depois de descoberto o acidente Devair descreveu o que viveu com a frase “eu me apaixonei pelo brilho da morte”.

Devair Ferreira em tratamento

A complexidade nociva do material radioativo é imensurável, assim cada organismo reagiu de uma forma. Os sintomas sentidos após o contato variaram, alguns já no primeiro momento apresentaram febre alta, náuseas, vômitos, diarréias, urticária, insônia, dores de cabeça e nas juntas, sangramentos (principalmente nas gengivas), escurecimento de pele (queimaduras), de perda de olfato, tato, paladar e amolecimento dos dentes. Com o adoecimento das pessoas a contaminação se alastrou. A busca por médicos, farmacêuticos, drogarias, assim como as visitas de parentes e amigos, contribuiu para um intenso contato físico e direto, aumentando assim o número de pessoas e objetos contaminados e/ou irradiados, cada novo contato passava ser uma fonte radioativa em potencial.São “detalhes” como estes que fazem do acidente com o césio não ser somente o maior acidente radioativo urbano do mundo, mas também o mais perverso.

O acidente foi descoberto dia 29 de Setembro de 1987. Após tamanha coincidência de sintomas entre familiares começaram as desconfianças. O depoimento a seguir narra esta etapa: “Me lembro da Maria Gabriela (Esposa de Devair) levando uma Coca- Cola em uma sexta-feira, na Vigilância Sanitária, onde eu fazia os registros. Ela achava que o refrigerante estava estragado e fazendo mal a todos. Fiz o registro, mas nem deu tempo de fazer o exame. Ela voltou na segunda com a cápsula e tudo foi descoberto” Dulce Helena Silveira dos Santos. Uma vez anunciado, inicia uma segunda etapa na historia do acidente. Uma etapa onde a desinformação gerou o pânico e o preconceito.

Maria Gabriela Ferreira em tratamento - Heroína do Acidente e vítima fatal

112.800 pessoas foram monitoradas. Segundo os técnicos apenas 6.500 pessoas tiveram algum nível de contaminação e/ou irradiação. Em 249 pessoas esta exposição era merecedora de atenção e destas apenas 120 pessoas foram internadas para descontaminação e/ou tratamento. 16 pessoas exigiam atenção redobrada pois a medula óssea estavam comprometida e/ou desenvolviam ulcerações (radiodermites) em partes do corpo. De 16 pessoas, 14 em estado mais grave, foram levadas para o Hospital Naval Marcílio Dias no Rio de Janeiro. 04 morreram após um mês, de Síndrome da Radiação. Dos focos irradiados ou contaminados retiraram 13.4 toneladas de lixo radioativo. Os móveis, roupas, animais, casas e até documentos das vítimas diretas viraram e hoje são rejeitos depositados no depósito de Abadia de Goiás.

Muitos servidores foram expostos a radiação devido o desempenho de suas funções e falta de equipamentos de proteção. Muitas pessoas optaram por não se submeter as medições com medo do preconceito, cada vez maior naquela época. Muitas pessoas foram expostas ao perigo devido a interesses políticos em abafar o ocorrido e o habitual jogo de culpas fez com que pessoas atingidas pela tragédia não fossem reconhecidas como vítimas - entre elas parentes das vítimas mais afetadas. Técnico da CNEN iniciaram um procedimento inédito no mundo, aprenderam na prática, seus acertos salvaram vidas, seus erros destruíram outras. Passados pouco mais de 22 anos pós-acidente, os avanços e estudos com o acidente, nem de longe, superam as perdas e dores que o mesmo causou.

E como se não bastasse, hoje a historia se repete. As vítimas do Césio-137 se solidarizam com a população de Caetité, que estão com a água dos poços contaminadas por Urânio, assistindo a saúde e a vida perderem para o poder e a burocracia.






NÃO DEIXE DE VER - Imagens da época












Comment (1)

O primeiro culpado com certeza é o juiz que proibiu a remoção do aparelho para um local onde pudesse ser manejado com segurança.

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