Boa parte do custo nuclear é paga pelo governo de forma obscura. Um exemplo é o custo de destinação dos rejeitos radioativos. Nenhum país do mundo encontrou uma solução definitiva para estocar esse material. Os EUA estão construindo um depósito nas montanhas de Nevada, ao custo de US$ 5 bilhões. No Brasil, isso não foi nem orçado. A Eletronuclear, empresa estatal responsável pelo setor, não divulga o valor gasto com o armazenamento de rejeitos nucleares de Angra 1 e 2, provisoriamente guardados no interior das próprias usinas, em piscinas de contenção. Dentro de alguns anos, os rejeitos terão de ser remanejados para um local mais seguro. O presidente da Eletronuclear, s Othon Pinheiro da Silva, não tem informações exatas sobre como isso será feito. “Os depósitos de longa duração estão sendo trabalhados. Só teremos de pensar nisso daqui a uns 20 anos”, afirma.
O país não tem um bom histórico na previsão de gastos nucleares. O governo diz que a conclusão de Angra 3 vai custar R$ 7,2 bilhões, equivalentes a US$ 3,6 bilhões. Em 2003, o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciava que a obra sairia por US$ 1,8 bilhão. As projeções do MIT sugerem que uma usina com a mesma potência de Angra 3 custa, no mercado internacional, 40% abaixo do que o governo diz que pretende gastar. Mudanças de previsão de gastos são comuns na história nuclear do país. A construção de Angra 2, orçada inicialmente em US$ 2 bilhões, terminou custando o quíntuplo.
Fonte: - Revista Época - 29/06/2007
- http://www.afen.org.br/noticias_conteudo.php?id=139
Energia nuclear, mesmo sem licença
Washington Novaes
Fonte:- O Estado de São Paulo 02/05/2008
- http://www.afen.org.br/noticias_conteudo.php?id=196
Segurança Nuclear
Como em outros países, a Comissão de Energia Nuclear foi criada como uma repartição pública com a finalidade dupla de promover energia nuclear e fiscalizar o seu uso, para garantir que fosse utilizada sem riscos para a população.
A promoção da energia nuclear não se restringe a estudos e à construção de reatores nucleares, mas também ao uso de substâncias radioativas na medicina e na indústria.
A segurança nuclear ou proteção contra radiações nucleares envolve tecnologias complexas, e por esta razão a promoção da energia nuclear e a segurança nuclear se desenvolveram juntas nos mesmos laboratórios, apesar de haver uma contradição profunda entre as duas atividades. O interesse em promover o uso de energia nuclear leva naturalmente a minimizar os riscos que decorrem do seu uso. Quando as duas atividades têm lugar sob a mesma autoridade governamental ou ministério, quem sofre é a segurança nuclear.
Por esta razão é que vários países como os Estados Unidos e a Espanha separaram as duas atividades, dando às Comissões de Segurança Nuclear um status administrativamente elevado, para que pudesse resistir às pressões dos interessados no uso indiscriminado de energia nuclear.
Após os acidentes com reatores nucleares, dos quais o de Chernobyl é o mais dramático, a sensibilidade das populações em relação ao uso de energia nuclear aumentou muito.
Uma Comissão de Segurança Nuclear que fiscalize o uso de substâncias radioativas em geral precisa de uma grande independência, o que pode ser assegurado dando a seus membros garantias de estabilidade na função, que funcionários públicos em geral não possuem.
Foi isso o que fez a Espanha já em 1980, separando claramente as funções de promoção e fiscalização nuclear, que estavam reunidas na Junta de Energia Nuclear desde 1951. Os membros da Comissão de Segurança Nuclear são escolhidos pelo Executivo, mas seus nomes precisam ser aprovados por três quintos do Congresso e recebem mandatos de seis anos. O mesmo sistema foi adotado há décadas nos Estados Unidos.
Este sistema se baseia no princípio de que quem promove não pode ao mesmo tempo fiscalizar. A aplicação deste princípio é que justifica a vinculação do Tribunal de Contas, que fiscaliza os gastos que são realizados pelo Executivo, ao Congresso Nacional.
Este é o caminho que deveria ser seguido no Brasil, em lugar de manter a ficção de que a atual Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) não é suficientemente forte para ser subdividida.
Este é um argumento falaciosos. Os institutos de pesquisa da CNEN se enfraqueceram muito e ela acabou por fazer mal as suas duas funções. Este processo se iniciou quando o Acordo Nuclear com a Alemanha passou a ser desenvolvido pela Comissão Brasileira de Tecnologia Nuclear (Nuclebrás e Furnas), e continuou quando boa parte das atividades nucleares se concentrou na Coordenadoria de Projetos Especiais da Marinha.
O que restava à CNEN na ocasião era fazer bem a proteção da população, o que ela não fez com sucesso, como demonstra o acidente de Goiânia.
O presidente Itamar tem agora uma nova oportunidade de remediar esta situação, seguindo as recomendações do relatório coordenado pelo professor Vargas (seu atual ministro da Ciência e Tecnologia), que há anos recomendou a solução da divisão da Comissão de Energia Nuclear em duas, com funções claras, que talvez lhe restituam o prestígio que já teve em laguns períodos no passado.
José Goldemberg foi reitor da USP, Secretário nacional de Ciência e Tecnologia e Ministro da Educação.
Fonte:- Jornal do Brasil 12/01/1993
- http://www.afen.org.br/noticias_conteudo.php?id=44
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