O terrorismo radiológico pode ser definido como a liberação intencional de material radioativo para o meio ambiente ou o uso de uma fonte de radiação com o propósito de causar dano à saude ou a segurança pública. Qualquer material radioativo pode ser utilizado neste tipo de terrorismo, numa diversidade de dispositivos tão ilimitada quanto a imaginação humana. Terroristas deliberadamente escolhem eventos inesperados e muitas vezes considerados improváveis. O ato terrorista pode inclusive combinar danos radiológicos, químicos e biológicos.
Os atos de terrorismo que podem trazer sérias consequencias radiológicas podem ser classificados em duas categorias principais, a primeira utilizando mecanismos de dispersão através explosivos convencionais , as chamadas bombas sujas ou RDD (radiological disperse devices) a segunda armas nucleares improvisadas (IND, improvised nuclear devices).
As RDD podem envolver o uso de materiais explosivos convencionais, como dinamite, para espalhar a fonte de radição. Na maioria das vezes, o explosivo provocaria letalidade maior do que o material radioativo. Entretanto a contaminação e a dispersão do material radioativo poderia contaminar algumas áreas adjacentes, criando pânico e medo. A explosão inclui uma quantidade grande de debris e partículas, mas somente as partículas menores podem ser levadas para longe do local da explosão.
Um outro tipo de RDD pode envolver uma fonte radioativa colocada num lugar público, como um ônibus, ou um trem, onde pessoas poderiam se posicionar por um certo tempo perto da fonte, e receber uma quantidade significante de radiação.
O RDD pode também envolver um material radioativo em pó espalhado numa área de grande densidade populacional ou pode envolver a contaminação de comida ou reservatórios de água.
Fontes de radiação são utilizadas em medicina, nas indústrias, na agricultura, e existem em grandes quantidade e podem ser obtidas com relativa facilidade. Como o número de fontes radioativas é muito grande (2.000.000 só nos Estados Unidos), eventualmente estas fontes perdem o seu uso, e milhares delas são abandonadas: são as chamadas fontes orfãs. Alguns acidentes, como o que aconteceu em Goiânia, em 1987, mostraram o potencial letal deste tipo de fonte de radiação.
Este potencial letal e as consequências psicológicas e econômicas, podem se mostrar atrativas para grupos terroristas. Existem documentadas algumas tentativas da utilização deste tipo de terrorismo,como por exemplo o episódio da prisão no aeroporto Chicago, em 2003, de um americano acusado de trazer do Paquistão uma bomba suja e a ameaça da República da Chechenia, em 1995, de colocar uma fonte de Césio (Cs-137) num mercado em Moscou. Recentemente o caso Litvinenko, mostrou como o elemento radioativo Polônio (Po-210), pode ser utilizado para eliminar pessoas indesejadas.
As consequências de uma bomba suja são limitadas. As “bombas sujas” tem um alcance limitado, podem provocar um número de mortes semelhante a de um ato terrorrista convencional.
Uma RDD (bomba suja) é muito diferente de uma arma nuclear. O seu uso não provoca destruição em massa. Ela é um armamento de pânico ( Weapon of Mass Disruption). O RDD pode causar grandes preocupações e danos econômicos, mas não é uma ameaça significativa para a população.
A IND (Improvised Nuclear Weapon), por outro lado, utiliza material nuclear fissionável, capaz de produzir uma reação nuclear em cadeia. Este tipo de arma pode ser improvisado ou pode ser um armamento nuclear militar. A IND é um armamento nuclear ilícito, comprado, roubado, ou fabricado por grupos terroristas ou ainda originário de um Estado (País) com capacidade Nuclear.
A IND pode produzir devastações significantes dependendo do seu grau de sofisticação. Um armamento simples pode criar uma explosão pequena, mas um armamento mais sofisticado pode produzir efeitos semelhantes aos produzidos em Hiroshima e Nagasaki. A IND pode produzir muito calor (incêndios) e os efeitos das radiações vão ser letais num certo perímetro da explosão. Os efeitos à saúde provocados pela utilização de uma IND vão ser agravados pelos efeitos ocasionados na infraestrutura local, tais como destruição de prédios, pontes, etc. Os sobreviventes poderão ainda sofrer efeitos deletérios à saude, da mesma forma que aconteceu em Hiroshima e Nagasaki.
Hoje em dia a palavra mágica utilizada por todos os países que se preparam para enfrentar o terrorrismo nuclear é segurança. Mas o que significa segurança quando se trata de armamentos radiológicos com altos poderes de destruição?
Há alguns meses, o reator de Al Kibar, que a Síria estava construindo, com a ajuda da Coréia do Norte, para produção de plutônio para armamento nuclear, foi seriamente danificado. A Síria nega a existência de um programa para armamentos nucleares, mas até hoje não autorizou inspeções das instalações solicitadas pela Agência Internacional de Energia Atômica, e aparentemente construiu por cima das instalações destruidas, para esconder o programa nuclear.
Por sua vez o Iran não parece ter abandonado suas ambições nucleares. Informações obtidas pela Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA) sugerem que o Iran teria um programa de enriquecimento de urânio não declarado, ligado a um projeto de construção de mísseis. Apesar dos protestos do Iran, a IAEA está solicitando mais informações relacionadas ao programa nuclear e às atividades relacionadas ao mísseis e aos testes realizados com explosivos.
A cooperação da Coréia do Norte com a Síria, demonstrou que uma vez que um país alcança o estágio de produção de armamento nuclear, não existe mais controle nem normas internacionais de segurança. A Coréia do Norte não se constrange de vender tecnologia nuclear para quem for de seu interesse, indiferente a reação da comunidade internacional.
As consequências de um programa nuclear iraniano bem sucedido são catastróficas. A comunidade internacional estaria impotente em relação a utilização de IND por grupos que classificamos como terroristas, mas que se classificam a si mesmos como idealistas. Os entendimentos entre Estados são inóquos quando se trata de ideologias. Os Estados agem no interesse dos seus cidadãos, mas quando o Estado é dominado por fundamentalistas ou por ideologias, os interesses dos cidadãos são desprezados. Por entendimento entre Estados, mesmo com a existência de armamento atômico por mais de 60 anos, esta tecnologia não foi utilizada após Hiroshima e Nagasaki. Com os fundamentalistas não existe possibilidade de diálogo. Eles agem em nome de uma ideologia e são indiferentes às possíveis retaliações e ao sofrimento das suas próprias populações. Não existe limite para eles. Israel é um alvo declarado. O mundo ocidental todo está sobre o mesmo alcance.
Não existe segurança para ninguém a não ser que exista segurança para todos.
Fonte:
Joyce Landmann Lipsztein, Ph.D.
Membro do International Commission on Radiological Protection
Membro do Comitê Científico do National Council on Radiological Protection and Measurements (EUA)
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