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O município de Caetité, distante 750 quilômetros de Salvador, está em estado de emergência desde o dia 24 de setembro. Encravada no meio do sertão baiano, a cidade tem sofrido com a estiagem que atinge a região nos últimos meses. Para agravar a situação, duas das principais fontes de água de Caetité, os poços localizados nas comunidades de Maniaçu e Lagoa Grande, estão interditados há mais de um ano. O motivo: contaminação por urânio. A denúncia foi feita pelo Greenpeace e os resultados das análises têm confirmado a tese da ONG. Segundo João Antônio Portella, secretário municipal do Meio Ambiente, o teor de urânio na água de Caetité chega a 0,25 miligrama por litro, mais de 15 vezes o limite recomendado pela Organização Mundial de Saúde, de 0,015 miligrama por litro.
Para o Greenpeace, a grande vilã dessa história é a mina de urânio instalada na cidade pela Indústrias Nucleares do Brasil – INB, estatal que detém o monopólio sobre a extração e produção de urânio no país. Inaugurado há 10 anos, o empreendimento deveria trazer o progresso à região, mas acabou se tornando o terror dos moradores de Caetité. Hoje, poucos são os que ainda se arriscam a beber a água fornecida pela rede pública. “Não dá para dizer nem que a água está nem que não está contaminada. Ninguém sabe ao certo se esses índices são normais ou causados por algum vazamento na mina”, diz Portella.
A INB, por sua vez, alega que por se tratar de uma região cujo solo é rico em urânio, é natural que os índices estejam acima da média. “O urânio está lá há 400 milhões de anos”, afirma Otto Bittencourt Netto, diretor de recursos naturais da estatal. “A atividade da INB em nada contribuiu para elevar os índices.” Segundo a empresa, mais de 16 000 análises são realizadas todos os anos, em 150 poços da região, sem qualquer caso comprovado de aumento na concentração de urânio na água. O Instituto de Gestão das Águas e Clima da Bahia, órgão responsável pelas análises oficiais no estado, confirma que os poços sofrem de radiação natural, mas estão liberados desde o dia 17 de setembro, com a condição de que a água seja previamente tratada por dessalinizadores. A prefeitura, porém, não dispõe de tais equipamentos.
O fato é que, desde que o problema veio à tona, há pouco mais de um ano, a vida dos 45 000 moradores de Caetité mudou. O clima de insegurança tomou conta da cidade. A desinformação é total. Os agricultores sofrem com a desconfiança dos vizinhos. Por enquanto, só resta aos moradores de Caetité se conformar com a água trazida de outras cidades por caminhões-pipa e distribuída pela prefeitura – que já gastou quase 200 000 reais na operação.