Rio
de Janeiro, 5 de Março de 2012
Não é a primeira vez na história que a sociedade
assiste com espantos o efeito devastador de uma tragédia nuclear. Infelizmente,
as diretrizes que o mundo vem adotando em relação ao tema nos afirmam que tão
pouco a tragédia em Fukushima será a última.
Em Setembro de 1987 os olhos do mundo se voltaram para
o Brasil. No inicio do mês recebemos notícias do “êxito” em nosso programa
nuclear (paralelo) que anunciava a capacidade tecnológica própria para
enriquecer urânio a 20%. Ao final do mês é anunciada a “derrota”, a tragédia
causada pela exposição à radiação sofrida pela população em Goiânia e a
contaminação sofrida pelas vítimas do contato direto com o elemento radioativo
Césio-137. Na qualidade de presidente da AVCésio, associação criada pelas
vítimas diretas da tragédia, venho oferecer condolências e solidariedade as
vítimas e futuras vítimas do terror e silêncio que hoje vem de Fukushima.
Nós conhecemos o sabor do medo que a falta de
informação em um momento de crise causa. Sabemos como são dolorosas as feridas
feitas pela brutalidade quando o pânico e a falta de informação inflamam a
população. Sofremos literalmente na pele angústias que apenas a radioatividade
pode causar. Nossas propriedades, bens, documentos, memórias, fotografias,
saúde física, parentes, amigos, relações profissionais, animais de estimação,
entre muitos outros, foram todos violentamente extintos ou prejudicados. Por
este motivo manifestamos aqui nossa compaixão, carinho e acolhimento as vítimas
e futuras vítimas de Fukushima.
Sempre nos comove ver a movimentação e a solidariedade
de técnicos e centros tecnológicos do mundo inteiro ante uma emergência
nuclear. Tal imagem nos gera a sensação de comunicação e redes de apoio, dois
pontos frágeis e inoperantes dentro da temática nuclear. A falta de informação
“crônica” é a responsável por gerar e elevar a perda de confiança nas
autoridades competentes.
Infelizmente as tragédias nucleares mundo a fora
seguem o mesmo desesperante roteiro: Poucas informações desmentindo a gravidade
do problema, “pequenas” inverdades em nome do bem geral da nação, desconfiança
e mobilização internacional, truculência nos procedimentos envolvendo vítimas,
até que enfim cheguem informações a população local e mundial das reais
dimensões da tragédia. Esta política esmagadora não deveria seguir vigorando,
cartas como esta são também tristes alardes de danos incalculáveis.
Esperamos, e faremos pressão, para que o governo
brasileiro siga o exemplo dos países da Europa que agora se movimentam para
desacelerar e extinguir seus respectivos programas nucleares. As defasagens,
abusos e omissões no programa nuclear brasileiro são inúmeras e graves. A
presidenta Dilma Rousseff já avisou aos brasileiros que seu governo será
lembrado pelo respeito aos direitos humanos, pagaremos todos para ver o quanto,
quando e como nosso governo democrático irá nos proteger. Nossas ações,
reclamações, manifestações e movimentos são a parte que nos cabem nesta luta,
cuja as vítimas de Fukushima acabaram ingressar.
It is not the first time in history that society watches with astonishment the devastating effect of a nuclear tragedy. Unfortunately, the guidelines that the world has adopted in relation to the subject tell us the tragedy in Fukushima will not be the last.
In September of 1987, the eyes of the world turned to Brazil. In the beginning, we had news of how the "success" in our (parallel) nuclear program, announcing its technological capacity to enrich uranium to 20%. Later in September the "defeat" was announced, by the nuclear catastrophe which happened to the population of Goiania caused by the radiation exposure and contamination with the radioactive element Cesium 137. As president of the AVCesio, association created by the contaminated victims of Cesium 137, I offer my condolences and solidarity to all the victims and future victims of the terror and silence that today come from Fukushima.
We know the fear that the lack of information in a crises like today in Japan causes. We know how painful are the wounds made by the brutality when panic and lack of information inflame the society. We literally suffer the agony that only radiation can cause, directly on our skin. Our properties, documents, memories, photographs, physical health, family, friends, professional relations, stuffed animals, and many others, were violently extinguished, or harmed. Our past and future was stolen because they became radioactive! For this reason, we manifest here our companion, affection, and refuge to them future and present victims of Fukushima.
Unfortunately the nuclear tragedies world-wide follow the same bad script: Little information dismissing the seriousness of the problem, "small " falsehoods in the name of the general “well-being” of the nation, distrust and international mobilization, brutality in the procedures involving victims, until the information finally reaches the local and global populations and the people can see the real dimensions of the tragedy. This overwhelming policy should not follow in vigor. Letters like these are also sad notices of incalculable damage.
We hope, and will pressure the Brazilian government to follow the example of most of the European countries that do not invest in nuclear energy or are slowing down and extinguishing there nuclear programs. The gaps, omissions and abuses in the Brazilian nuclear program are numerous and serious. Our actions, complaints, demonstrations and movements are part of that fight, in witch the victims of Fukushima have just joined.
Tradução Joy Gomes
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