Rio de Janeiro, 04 de Janeiro de 2012
Posted by Nitschka
Posted in Caetité (BA) - Contaminação , Notícias
por: ZoraideVilasboas
Vamos começar pontuando que ninguém se informa quando a barriga ronca. Portanto, que cresça a responsabilidade dos alimentados. Mas quem não come precisa saber, precisa participar, precisa antes comer. A imagem bonita de ser pescador para não ter que querer receber peixes, se sai por sala de espera de uma nova massa: a margem de manobra.
Some os fatores efervescentes de uma economia instável, a pressa e o lobby permeando os meios de comunicação. Assim se propagam tais alienações.
“...Pois se foi permitido ao homem,
Tantas coisas conhecer,
É melhor que todos saibam
O que pode acontecer.”
A trajetória dos projetos nucleares, quando acompanhada de perto, revela o quanto desconhecemos de nossas diretrizes primordiais. Nossas leis e políticas mostram que a ditadura mudou.
O ponto mais preocupante de transformar as vítimas em acusados da tragédia com o Césio 137 é a perda dos pesos e das medidas. Há um detalhe na história que eu gosto de citar: A Coca-Cola.
Parece que Maria Gabriela suspeitou quando todos na família começaram a passar mal. Ela relacionou um fato presente marcante, na feijoada de final de semana todos haviam bebido da Coca-Cola, até quem não era muito chegado. Todos passavam mal.
Na sexta feira ela deixou o resto do refrigerante na sede da vigilância sanitária. Na segunda feira ela voltou com a cápsula contendo Césio 137 e disse: “é isso aqui que está matando o meu povo”. Aquele que não conhece os riscos e efeitos da radiação, comete gafes imprescindíveis para sua segurança. Maria Gabriela foi a segunda vítima fatal da tragédia.
Quero chamar a atenção para o mesmo mecanismo que fez com que o corpo de bombeiros da cidade pensasse em jogar a cápsula em um rio da região. A tragédia atingiria dimensões inimagináveis.
Espanto maior são as entidades competentes que deveriam fiscalizar tais fontes, seus usos e manutenções, falharem ao ponto de um equipamento de radioterapia ficar abandonado no centro de uma cidade grande por mais de quatro meses.
Passaram 25 anos desde aquela época. O que aprendemos com isso? Como funcionam hoje os órgãos que fiscalizam esta área? Ao constatar as respostas destas perguntas, fica claro que a mudança de discurso sobre o papel das vítimas na tragédia. Veremos que a versão mais difundida desculpa e alivia os furos de nossos projetos nucleares.
Rio de Janeiro, 03 de Janeiro de 2012
Passar a virada do ano em Copacabana é de fato um desafio. O mar de gente que toma a orla e as ruas da praia não deixam dúvidas de que algo em nossa civilização vai mal. Saber que essa cidade maravilhosa, recebendo multidões muito além da capacidade de hospedar, tem no estado 70% do fornecimento de energia sendo de energia nuclear, piora.
A poderosa histeria coletiva, essa que tem o poder de transformar grandes festas em perigosos pesadelos, é um tempero amargo no caso de qualquer acidente nuclear. Sejamos positivos, sendo essa uma indústria que cresce por duas vias: as pesquisas e os acidentes, uma tragédia em Angra poderia quem sabe, ser encarada com euforia.
Se voltarmos no tempo, até o dia 5 de Outubro de 1987, veremos que ante um risco nuclear, o invisível ganha as proporções de nossas fantasias. Os cinco sensores que a natureza nos deu para perceber a vida, não são capazes de detectar a radiação no ambiente. Quem garante que uma tragédia nuclear não esteja acontecendo agora mesmo?
Por isso festas como o réveillon em Copacabana me assustam. Tantas foram as dificuldades de ordenar o compasso da população, quanto a precariedade das rotas para chegada e saída da festa. Imagino que se somos bárbaros e mesquinhos desta forma quando o dia é de festa e comunhão, quem dirá o que pode passar quando dias mais terríveis se dão?
