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Menos de três meses antes de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva iniciar uma polêmica visita ao Irã, cujo programa nuclear inquieta o Ocidente, o Brasil se prepara para começar os testes de uma usina para produção do gás hexafluoreto de urânio (UF-6), fechando o domínio do ciclo nuclear.
Trecho - A decisão do Governo Federal de construir a usina Angra 3 esconde, na verdade, a sua intenção de recriar o malfadado Programa Nuclear brasileiro, pressionado por grandes construtoras, pelos funcionários das estatais do setor e por um grupo de militares, principalmente da Marinha.)
O objetivo da Marinha é produzir, no Centro Experimental Aramar, em Iperó (SP), 40 toneladas por ano do UF-6 para ser enriquecido a quase 20% e gerar material para alimentar o reator do futuro submarino brasileiro a propulsão atômica e, antes disso, para um protótipo de testes.
Hoje, só Estados Unidos, Reino Unido, China, França e Rússia têm submarinos nucleares e fazem o combustível para movê-los - o Brasil poderá ser o sexto desse clube. A Índia também tem um avançado programa na área.
A usina brasileira será acionada em julho, mas só a partir do meio de 2011 começará a operar de fato. Sua produção será suficiente apenas para a Marinha e seu futuro submarino. A planta de Iperó não tem capacidade para suprir as usinas nucleares de Angra 1 e Angra 2, cujo combustível necessita do equivalente a 500 toneladas por ano de UF-6.
"Um reator de propulsão naval tem 1% da potência de Angra 2", diz o superintendente do Programa Nuclear da Marinha, capitão de mar e guerra e engenheiro Luciano Pagano Júnior. "Tem de ser muito compacto, e sua demanda por insumos é muito menor. A usina não é industrial, é uma unidade-piloto."
Decisão política. A Marinha já tem em Aramar equipamentos para enriquecimento e usa neles UF-6 gerado, nos anos 80 e início dos 90, por um laboratório do Ipem na USP.
O País domina a tecnologia para produzir urânio altamente enriquecido (a 20% ou mais), mas tomou a decisão política de fazer urânio de baixo enriquecimento (abaixo de 20%). Isso afasta desconfianças da comunidade internacional.
(Veja também -> Insinceridade Atômica
Trecho -> As providências armamentistas do Brasil suscitaram desconfianças antes inexistentes. A AIEA e a orientação geral da ONU não querem mais dúvida como a havida com o Iraque, nem mais surpresas como as causadas por Coreia do Norte e Irã. A posição do governo Lula em relação ao Irã de Ahmadinejad provoca suspeitas generalizadas. As quais se combinam, e se fortalecem mutuamente, com as suspeitas decorrentes da "aliança estratégica" decidida por Lula, só ele, com a nuclearizada e comercial França de Nicolas Sarkozy.)
Um submarino pode ficar vários anos com o mesmo combustível - os dos países centrais nunca o trocam, segundo o engenheiro. A produção brasileira será suficiente para abastecer "uma flotilha" de submarinos nucleares, afirma ele. "Estamos implantando a unidade modularmente."
Pagano explica que a Marinha está "verticalizando" atividades para atender às suas necessidades - ou seja, vai dominar todas as fases do processo. "Em alguns anos, vamos adequar a capacidade." Ele diz que, com o "renascimento" da energia nuclear no mundo, que pode produzir eletricidade sem emissão de gases-estufa, é provável que o material do setor fique mais caro e difícil de obter.
(Veja também -> Efeitos (desconhecidos) da Mineração de Urânio
Trecho - No momento, os meios de comunicação começam a produzir campanhas com a falsa idéia de que a energia nuclear é limpa e segura. Acidentes em usinas nucleares, em complexos de mineração e com lixo radioativo são tratados como episódios isolados, devido à falha humana e à tecnologia obsoleta. A medicina nuclear surge como fada madrinha, salvando vidas.
Mas, estas campanhas falam da energia nuclear sem mostrar o custo ambiental e humano da mineração do urânio. Também ignoram os resultados de pesquisas médicas mundiais que comprovam a baixa eficácia da medicina nuclear, além dos malefícios do uso do Raio-X, conforme ainda é utilizado no Brasil )
Fiscalização. A movimentação nuclear brasileira ajuda a entender a posição do País em relação ao Irã. Enquanto os Estados Unidos e seus aliados pressionam para que Teerã suspenda seu programa atômico, Brasília tem defendido o direito iraniano ao uso pacífico da energia nuclear.
Diferentemente do Irã, porém, o Brasil, além de ter inserido em sua Constituição um dispositivo que só admite atividade nuclear em território nacional com fins pacíficos e mediante aprovação do Congresso, considera-se em plena sintonia com os controles internacionais. Para Pagano, o País não terá dificuldades internacionais por causa do início da produção do UF-6: "Zero problema."
(Veja também -> Construção da Bomba Atômica Brasileira
Trecho -> O cientista nuclear José Luiz Santana, ex-presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), disse ontem que o Brasil esteve perto de produzir uma bomba nuclear no início dos anos 90, mesmo depois que o ex-presidente José Sarney (1985-90) mandou desativar o buraco de testes na Serra do Cachimbo (PA). Ele revelou que peças chegaram a ser fabricadas e um dos estoques de urânio enriquecido disponíveis para o artefato estava dentro de um contêiner no campus da USP.)
Fonte: O Estado de S. Paulo - 28/03/2010
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