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Pra não dizer que não falei das flores
Crimes da terra, como perdoá-los? Tomei parte em muitos, outros escondi. Alguns achei belos, foram publicados. Crimes suaves, que ajudam a viver. Como as crianças mudas telepáticas, ou os ferozes padeiros do mal. Como as meninas cegas inexatas, ou os ferozes leiteiros do mal. 

Somos todos iguais, braços dados ou não. Nas escolas, nas ruas, campos, construções. Queremos saber, queremos viver, confiantes no futuro. Por isso se faz necessário prever qual o itinerário da ilusão, a ilusão do poder. 

Pensemos nas mulheres, rotas alteradas. Pensemos nas feridas como rosas cálidas. Sua cor não se percebe. Suas pétalas não se abrem. É feia. Mas é realmente uma flor. 

Todos os homens voltam pra casa. Estão menos livres, mas levam jornais e soletram o mundo, sabendo que o perdem. Ração diária de erro distribuída em casa. Pois se foi permitido ao homem tantas coisas conhecer, é melhor que todos saibam o que pode acontecer.

Mas, não se esqueçam da rosa da rosa. Da rosa de Hiroshima, a rosa hereditária, a rosa radioativa estúpida e inválida. A rosa com cirrose, a anti-rosa atômica. Sem cor, sem perfume, sem rosa, sem nada


Os Relatos


Assista a versão do inicio do acidente segundo o "Linha Direta" (até 1:35) 
"Centro de Goiânia, 13 de Setembro de 1987. Os amigos Wagner e Roberto, entram no prédio abandonado de uma clinica médica"



Cápsula de Césio-137, um dos roubos mais estúpidos do mundo

Em setembro de 1987, um aparelho de radioterapia foi roubado do Instituto Goiano de Radioterapia pelos catadores de papel Wagner Motta Pereira e Roberto Santos Alves. O cilindro de ferro foi desmembrado a marretadas e depois vendido como sucata ao ferro-velho de Devair Alves Ferreira.


O Césio 137
Em Goiânia, havia um equipamento radioativo com uma cápsula contendo somente Césio 137 em dezenas de gramas e com vida média de 30 anos. Um roubo, seguido do rompimento da peça, fez com que o pó se espalhasse sobre o chão, materiais e no corpo humano em uma área limitada, contaminando centenas de pessoas. No entanto, a gravidade foi o registro de casos agudos de doenças e mortes na população e não somente em técnicos.


Os Fatos
Os dados a baixo estão disponíveis ( de muito fácil acesso) a qualquer pessoa: 


- Fotos (da época) do terreno e do "prédio" da clinica.




- Processo Judicial.



Em 1972, o INSTITUTO GOIANO DE RADIOTERAPIA - IGR, então com sede na Avenida Paranaíba, nº 1.587, Setor Central, nesta Capital, devidamente autorizado pela COMISSÃO NACIONAL DE ENERGIA NUCLEAR, ESTADO DE GOIÁS - CNEN, adquiriu em São Paulo-SP uma bomba de Césio 137, de fabricação italiana, a fim de utilizá-la na prestação de serviços radiológicos.

O terreno em que funcionava o IGR era pertencente à Santa Casa de Misericórdia, que o vendeu ao INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA E ASSISTÊNCIA SOCIAL DO ESTADO DE GOIÁS - IPASGO. Então, pressionado a deixar o aludido local, o IGR transferiu sua sede a outro endereço, terminando por abandonar no antigo prédio a já obsoleta bomba de Césio 137, sem ao menos comunicar o fato à CNEN ou à Secretaria Estadual de Saúde. Em 04/05/87, iniciou-se a demolição da construção, a mando do ex-sócio do IGR, AMAURILLO MONTEIRO DE OLIVEIRAculminando com a destruição quase total do prédio original, que o deixou sem telhado, portas ou janelas, a despeito da existência no local, sem quaisquer avisos ou advertências, da mencionada bomba de Césio 137. No dia 13/09/87, dois catadores de papel adentraram os escombros e levaram consigo, entre outros objetos, a bomba abandonada.



- Jornal da época

Assista até 0:58
"A Policia Federal decidiu que as 3 pessoas que retiraram a bomba de césio do antigo prédio do IGR aparecerão sempre no inquérito como vítimas  e não como ladrões, porque se caracterizou o abandono do aparelho."


Debate
Erro grave de pesquisa ou reconstrução de uma versão? 


Ao dizer que houve um roubo se omite a questão primordial - Falhou a fiscalização.


O Roubo - Roubo é o ato de subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência. Ou seja, Wagner e Roberto não roubaram o aparelho. 


A Fiscalização - Como é que um aparelho de radioterapia fica abandonado, sem segurança, em pleno centro de uma grande cidade? Que tipo de fiscalização é feita em relação as fontes radioativas do país? Existem outras fora de controle hoje? (Conheça a AFEN - Associação dos Fiscais de Radioproteção e Segurança Nuclear)


O que diz a CNEN:
A CNEN não aborda em sua versão a questão da grave falha de fiscalização. Seria esta uma forma de desviar o foco da uma grave falha da instituição?


Conseqüência


O maior acidente radioativo em área urbana do mundo aconteceu no Brasil. Setembro de 1987 o mundo olhou para Goiânia.





Mas não foi apenas pelo acidente no fim daquele Setembro que o Brasil foi parar nas capas dos jornais do mundo. No inicio daquele mês o então presidente José Sarney havia anunciado que o programa nuclear paralelo havia conseguido desenvolver a tecnologia para enriquecer urânio a 20%. 


No dia 27 de Setembro do mesmo ano acontecia em Goiânia a etapa do circuito mundial de motovelocidade. O acidente foi descoberto no dia 29 de Setembro de 1987 (mas seu inicio se deu dia 13 de Setembro).





Quem se beneficiaria com essa "nova" de memória? 

Comments (5)

gostei muito das informações sobre o Césio , tudo muito bem feito e estruturado , Parabéns .

gostei muito das informaçoes sobre o Césio , tudo muito bem feito e
estruturado , Parabéns .[2]

Parabéns pelas informações apresentadas. No entanto, discordo completamente quando você diz que houve falha de fiscalização por parte do CNEN. Na verdade foi falha dos médicos Orlando Teixeira, Criseide Dourado e Carlos Bezerril e do físico hospitalar Flamarion Goulart, os quais abandonaram o equipamento médico que continha Césio 137. Esses sim, são os verdadeiros culpados, pois sabiam da periculosidade do elemento radioativo e mesmo assim deixaram o equipamento dentro da clínica abandonada.
Pense um pouco: um médico pode adquirir um equipamento desse porte, cabe ao CNEN fiscalizar esses equipamentos, no entanto, se a fiscalização for anual e depois de 6 meses o médico resolver jogar o aparelho no lixo, o CNEN só saberá o que aconteceu 6 meses depois, quando do aparelho estiver em local público por um período de 6 meses.

Olá Anônimo, acredito que seja muito vago falar em culpa. Opto por discutir as responsabilidades. De fato, os (ir)responsáveis pelo aparelho são os médicos citados, porém como não acreditar em falha na estrutura (modus operandi) da fiscalização? Uma vez que estamos lidando com um elemento de alta periculosidade (caso seja manipulado de forma irregular, omissa ou irresponsável) não deveria a CNEN investir em precaver ao invés de correr para remediar?

Acredito que os civis tem "direito" a certos erros que já o governo não pode se dar ao luxo. Falha grave sim, na estrutura de fiscalização, responsabilidade partilhada entre médicos e governo.

Hoje no Brasil há algumas centenas de fontes radioativas fora do controle da CNEN, será que não aprendemos nada com essa tragédia? A AFEN ("braço" da CNEN que é responsável pela fiscalização) segue fazendo denúncias de irregularidades, infelizmente o descaso e autoritarismo presenciados por Goiânia em 1987 seguem da mesma forma. Basta entrar em contato com os outros casos de contaminação no Brasil para perceber que o discurso estatal é o mesmo. Pode a agência reguladora "não saber de nada"?

Os medicos de maneira alguma deixam de serem culpados. Mas ce a cnen tivese um controle rigoroso com periodos curtos de observação do equipamento, poderia ter evitado o ocorrido até por que, eles tem a verdadeira dimensão do perigo do cesio 137, bem como todo o material radiativo e seus efeitos.

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