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Política Energética Internacional

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É possível um caminho com menos barragens e sem nuclear

A Quercus, Associação Nacional de Conservação da Natureza, reconhece as energias renováveis como uma peça fundamental para uma aposta energética sólida em Portugal e defende um debate claro e sério sobre a forma diversificada de produção de energia (mix energético) mais conveniente para o nosso país a médio (2020) e longo prazo (2050).
A Quercus considera que as prioridades do governo não estão correctamente ordenadas nesta área, pelo que em primeiro lugar deveria estar a redução de consumo e eficiência energética, seguida das energias renováveis e, por fim, a mobilidade sustentável. A associação reconhece que há muito por clarificar na área das energias renováveis em termos de investimento, formulação e garantia de preços de venda à rede.

É prioritário um investimento forte na redução do consumo de energia e na eficiência energética, que não deve ser deixada para segundo plano, como aconteceu até aqui. Mantendo a tendência actual de crescimento do consumo energético, não vai ser possível cumprir o objectivo de redução anual do mesmo em 1% até 2016.

A aposta nas energias renováveis é uma aposta também na independência energética do país. A subsidiação das energias renováveis é uma realidade, mas também é ainda mais avultado o investimento nos combustíveis fósseis e na investigação nuclear.

No âmbito da estratégia europeia energia-clima, Portugal tem a obrigação de produzir 31% da energia final consumida por fontes de energias renováveis. Esta é uma meta legal que terá de ser cumprida.

Dar prioridade às energias renováveis é também essencial para promover a independência energética do país, que a energia nuclear não assegura. Mais ainda, é igualmente uma forma de incentivar o desenvolvimento tecnológico nacional mais vantajosa do que quaisquer modelos de produção energética centralizada e em grande escala.

Neste momento, o governo aposta sobretudo na potência instalada de energia renovável pela grande hídrica, que no entender da Quercus deve ser revista, já que o peso da energia hídrica tem vindo a diminuir em relação ao crescente contributo da energia eólica na produção de electricidade.

Em paralelo, a Quercus ressalva ainda outros pontos que carecem de revisão, no quadro da política energética apresentada recentemente:

- Rever a política de eficiência energética para que Portugal tenha condições para cumprir as suas obrigações comunitárias e conseguir efectivamente reduzir o consumo de energia e melhorar a intensidade energética;

- Analisar a capacidade total de potência instalada prevista, que pode promover o aumento de consumo e fazer fracassar na política de eficiência energética;

- Clarificar a capacidade de armazenamento de energia eólica das dez novas barragens previstas no Plano Nacional de Barragens com Elevado Potencial Hidroeléctrico.


Lisboa, 7 de Abril de 2010

A Direcção Nacional da
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza

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O ACIDENTE COM O CÉSIO 137 SOB O OLHAR DOS TRABALHADORES DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA

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(Texto escrito em 2007)
1 – Introdução
No ano em que o acidente com o césio 137 ocorrido na cidade de Goiânia está completando 20 anos, trabalhadores de Vigilância Sanitária, vítimas, trazem o resultado de análise de informações, apresentando na forma de relato histórico e numérico o que presenciaram, questionando se o ocorrido se enquadraria como acidente ou como desastre, apresentando suas necessidades e situação atual e ainda descortinando os processos de aprendizagem a que ficaram sujeitos.

O acidente com césio 137, classificado como o pior acidente no mundo desencadeado pelo manuseio incorreto de lixo nuclear, ocorreu em Goiânia no dia 13 de setembro de 1987, fazendo sete vítimas fatais, contaminando e irradiando outras tantas, entre as quais 81 funcionários da extinta Organização de Saúde do Estado de Goiás (Osego), lotados na então Coordenação de Vigilância Sanitária, atualmente Superintendência de Vigilância Sanitária e Ambiental (Svisa/GO).

2 – Resumo da história 
A peça radioativa (um cilindro com aspecto de alumínio dentro de um saco de plástico trançado) chegou à Vigilância Sanitária de Goiânia (Visa–GO), instalada num sobrado da Rua 16-A, no Setor Aeroporto, por volta das 10 horas de uma segunda-feira, no dia 28 de setembro de 1987, isto é, onze dias após ter sido desmontada. A peça foi trazida por um casal, que se encaminhou à então Divisão de Cadastro para fazer a reclamação de que “aquela peça tinha uma pedra dentro que estava fazendo mal para sua família, e que um médico sugeriu levar para a Visa–GO para ser examinada". O saco foi então levado da sala da Divisão de Cadastro para uma mesa na Divisão de Alimentos, no andar inferior, aí permanecendo até o outro dia, sendo retirada da mesa e colocada em uma cadeira, até que por ordem do então chefe de Divisão de Alimentos, o referido saco foi levado por dois funcionários para o pátio de entrada da Visa–GO, pois estava atrapalhando já que emitia reflexos na parede, dificultando o trabalho dos funcionários.

Os funcionários tiveram nestes dois dias, 28 e 29, expediente normal, trabalhando junto à fonte radioativa, ainda não identificada com tal. Vários funcionários olharam a peça de perto, abriram o saco, cheiraram, ou para verem seu brilho quando a luz era apagada, ou na tentativa de identificar o material. Um deles deduziu que o material seria radioativo.

Um dos funcionários encaminhou o casal que trouxe a peça para a Vigilância Sanitária, para o Centro de Informações Toxicológicas, que na ocasião funcionava no Hospital de Doenças Tropicais (HDT). O médico que os atendeu desconfiou de contaminação e comunicou isso ao funcionário que havia encaminhado o casal. Este funcionário, juntamente com outro colega, dirigiu-se ao depósito de ferro-velho onde a peça havia sido desmontada e, após ouvir os familiares, outros contaminados foram encaminhados ao HDT. Também entraram em contato com um físico, indicado pelo médico. Este físico fez contato com a Nucleobrás, que cedeu os aparelhos de medição de radiação.**(aqui não é dito que os bombeiros também foram chamados e foi cogitada a idéia de jogar a fonte em um córrego da cidade - Leia mais aqui)** A partir dessa medição, estes dois funcionários alertaram autoridades da Secretaria de Saúde, que se decidiram pela interdição da sede onde funcionava a Vigilância Sanitária com a retirada dos funcionários do local.

No dia 30 de setembro, alguns funcionários dirigiram-se ao Estádio Olímpico para medir a radiação com técnicos da Cnen. Nem todos foram atendidos e receberam informações diversas, inclusive a de que o exame de contagem de corpo inteiro era só para a pessoa que houvesse tido contato direto com o césio.

Alguns funcionários receberam notificação para fazer exames médicos, não tendo sido essa notificação estendida a todos. Outros solicitaram à Cnen que seus exames fossem feitos e outros realizaram exames por conta própria em laboratórios particulares. Dos que receberam notificação alguns fizeram, na ocasião, exames de corpo inteiro, urina, fezes, citogenético e micronúcleo, ou apenas um ou outro dentre esses. Os resultados nunca foram oficialmente divulgados aos funcionários.

Os nomes dos funcionários da Visa–GO foram veiculados na imprensa escrita, em reportagens com títulos como “Veja a lista dos contaminados”. Os funcionários e suas famílias sofreram discriminação em diversos ambientes.

A falta de informação coerente com o ocorrido, a confusão e aglomeração de pessoas no Estádio Olímpico, o medo gerado pelas notícias veiculadas, a discriminação por parte de muitos, quando um funcionário da Visa–GO era identificado, o desconhecimento sobre os termos usados pelos técnicos da Cnen, o que dificultavam saber da contaminação, da irradiação ou de ambos, foram situações vividas na ocasião pelos funcionários da Visa–GO.

Em nenhum momento durante o período após a interdição da sede da Vigilância Sanitária – quando muitos ficaram nos corredores da então Coordenação de Vigilância Epidemiológica, hoje Superintendência de Políticas e Ação Integral à Saúde (Spais) – os funcionários da Vigilância Sanitária tiveram tratamento como vítimas contaminadas ou irradiadas e nem receberam esclarecimentos oficiais sobre a conduta correta a ser adotada.

Os funcionários da Visa–GO foram diferenciados nas ações e decisões pós-acidente, tais como encaminhamento ou não-encaminhamento a exames completos; acompanhamento médico ou não; pensão vitalícia ou não; liberação do pagamento ao Ipasgo ou não; inclusão em algum grupo ou não.

Até a presente data, funcionários da Svisa–GO continuam discriminados e excluídos de direitos concedidos a outros acidentados. Todos os 81 funcionários possuem documentos oficiais que comprovam sua presença na então Coordenação de Vigilância Sanitária nos dois dias em que a peça radioativa esteve no local, o que os autoriza inclusive a refazer parte da história do acidente, a parte que entenderam e sentiram.

3 – A história em números
- 87 funcionários constam na lista de freqüência nos dias 28 e 29 de setembro de 1987. Cinco estavam em gozo de férias e dois, de licença. Um dos funcionários que estavam oficialmente de licença, por solicitação da instituição, interrompeu sua licença-maternidade para acompanhar a elaboração de relatório de inspeção de indústria farmacêutica, junto com técnicos do Ministério de Saúde. São então, de fato, 81 vítimas diretas, contaminadas e/ou irradiadas;

- Dos 81 presentes nos dois dias junto à fonte de césio, doze foram enquadrados no Grupo II e os outros 69 foram enquadrados no Grupo III;

- Destes 81, dez já faleceram ao longo destes quase 20 anos, sendo seis com diagnóstico de câncer (garganta, rins, pulmão, cérebro, esôfago, mama), um por acidente de trânsito, dois por “problema de fígado” e um por trombose;

- Nenhum integrante do Grupo II veio a falecer até a presente data; 

- 10 integrantes do Grupo III vieram a óbito;

- Dos 81 funcionários, 22 estão lotados na Svisa-GO. 

- Dos 22 atualmente lotados na Svisa–GO dois deles travam luta contra o câncer, sendo um do Grupo III e um do Grupo II. Os outros 20 apresentam problemas de saúde diversos e nunca houve um estudo ou acompanhamento para tentar estabelecer nexo causal entre os adoecimentos e o acidente;

- Até o ano de 1992, vez e outra, a Superintendência Leide das Neves convocou também os integrantes do Grupo III para exames. Uma vez tiveram o sangue coletado para pesquisa, supostamente enviado ao Canadá, porém, oficialmente, o resultado nunca chegou aos integrantes do grupo;

- Não existem informações oficiais e disponíveis sobre o estado de saúde dos 71 funcionários vivos. Dos 49 que já estão fora da Svisa–GO, as notícias são vagas e imprecisas, sabendo-se com certeza que pelo menos um deles, do Grupo II, trava luta contra o câncer;

- Dos 81 funcionários, doze foram beneficiados pela Lei Estadual 10.977 de 3 de outubro de 1989, enquadrados como vítimas do Grupo II e passando a receber pensão estadual mensal de cerca de 1,5 salário mínimo, assistência médica, odontológica e psicológica. Outros 69 enquadrados no Grupo III ficaram sem esses benefícios;

- Dos 69 funcionários não enquadrados pela Lei 10.977, três obtiveram direito à mesma pensão mensal de 1,5 salário mínimo, por meio da Lei Estadual nº 14.226, de 8 de julho de 2002, isto é, 15 anos após o ocorrido. Desse grupo, dois já faleceram;

- A Lei Federal 9.425/96 concedeu pensão mensal federal às 12 vítimas do Grupo II, nove anos após o acidente;

- 69 ficaram enquadrados no Grupo III, sem os benefícios das Leis Estadual 10.977/89 e Federal 9.425/96;

- Mesmo estando excluídos das leis mencionadas, muitos entraram com processo na Agência Goiana de Administração e Negócios Públicos, reinvidicando o direito a pensão como auxílio para tratamento de saúde. A maioria dos processos foi arquivada, com concessão de pensão apenas aos três funcionários citados. O restante ainda aguarda decisão sobre a solicitação. 

- Dos 81 funcionários, doze do Grupo II deveriam ter acompanhamento médico, odontológico e psicológico, regular ou quando necessitarem, desde a época do acidente. Os outros 69 ficaram fora deste possível acompanhamento regular;

- Dos 22 lotados atualmente na Svisa–GO, dois pertencem ao Grupo II e vinte estão enquadrados no Grupo III;

- Dos 81 funcionários, atualmente 22 ainda estão lotados na Svisa–GO, dez faleceram, 26 solicitaram transferência, cinco abandonaram o serviço público, três estão de licença por interesse particular, catorze aposentaram-se e um pediu exoneração do cargo, conforme se vê na tabela a seguir:

Situação atual dos 81 funcionários da Svisa-GO vítimas do acidente com o césio 137


Situação atual
Quantidade
%
Lotados na Svisa-GO
22
27,2%
Solicitaram transferência
26
32,1%
Solicitaram exoneração
1
1,2%
Falecidos
10
12,3%
Abandonaram o serviço público
5
6,2%
Aposentados
14
17,3%
Em licença por interesse particular
3
3,7%

4 – Questionamento sobre a classificação do evento
Mesmo dentro do limitado universo de conhecimentos sobre epidemiologia do grupo em questão, de tanto ser ouvida a palavra “acidente”, em um dado momento passou a ser feito o questionamento de que um acidente seria algo ínfimo frente à proporção tomada pelo evento com o césio 137.

De acordo com o 
Glossário de Defesa Civil – Estudos de riscos e medicina de desastres (2ª ed. Brasília,1998), publicado pelo Departamento de Defesa Civil, órgão da Secretaria Especial de Políticas Regionais do Ministério do Planejamento e Orçamento, desastre se define como o resultado de eventos adversos, naturais ou provocados, sobre um ecossistema (vulnerável), causando danos humanos, materiais e/ou ambientais e conseqüentes prejuízos econômicos e sociais. Já um acidente é definido como um evento ou seqüência de eventos fortuitos e não planejados, que dão origem a uma conseqüência específica e indesejada, em termos de danos humanos, materiais ou ambientais.

A definição dos dois termos confunde-se em determinado momento, pelo menos aos olhos do grupo em questão. Seria o episódio do dia 13 de setembro de 1987 um acidente que se tornou um desastre? Uma peça contaminada, onze dias após ter sido desmontada, que percorreu diversos caminhos, irradiando e causando danos a pessoas, materiais e ambientais – seria isso um acidente ou um desastre? Não apresentamos avanços neste questionamento por entendermos que a Epidemiologia é um campo do conhecimento bastante especializado e o grupo não teria autoridade para definir a questão. Deixamos a sugestão para epidemiologistas, se entenderem que se trata de algo importante para a saúde pública em Goiás.

5 – O processo de aprendizagem 
As vítimas sobreviventes do desastre com o césio 137, funcionários da Vigilância Sanitária, devem aprender a conviver com alguns fatos:

- Compreender de que a vida de cada um estava agora demarcada: o antes e o pós- desastre; 

- Aprender a duras penas que dor, medo, humilhação, rejeição, e até vergonha por ser vítima, serão emoções que se alternarão em suas vidas;

- Entender o que ocorreu politicamente durante e após o desastre: a razão do enquadramento apressado das vítimas em grupos, as leis, as instituições criadas para oferecer amparo aos grupos;

- Entender por que um mesmo grupo de colegas, que esteve no mesmo local junto à fonte, que supostamente foi exposto à mesma radiação, teve enquadramento em grupos diferentes;

- Aceitar o fato de que mesmo tendo Declaração de Freqüência fornecida pelo Departamento de Pessoal da Secretaria de Saúde, Folha de Ponto com freqüência dos dois dias em questão, os processos a que deram entrada serão arquivados com a alegação de que não existe prova de que foram contaminados ou irradiados; 

- Vencer o medo inicial e aprender a conviver com a angústia da incerteza sobre as conseqüências da radiação para a saúde de cada um;

- Aprender a conviver com o estigma de que, por querer justiça, são mentirosos, malandros e aproveitadores, estigma imputado por autoridades e até por colegas de trabalho, surgindo em muitas circunstâncias a necessidade profunda de defenderem sua honra – como se não a tivessem – pelo fato de estarem sendo julgados de forma tão arbitrária e cruel; 

- Aceitar o fato de que o desastre do qual saíram como vítimas acabou por propiciar a produção do conhecimento científico por parte de especialistas, cientistas e estudiosos da área. Na época do acidente ficaram a mercê de ausência destes conhecimentos;

- Aceitar o fato de que este conhecimento produzido – as teses escritas, os artigos, a ascensão de estudiosos e autoridades – não significa necessariamente que o grupo será atendido em suas necessidades vitais;

- Lutar pelo não-esquecimento do desastre, já que o poder institucional situa o desastre no passado, restringindo o número de atingidos aos primeiros casos que foram enquadrados nos Grupos I e II;

- Entender que mesmo não havendo estudos em seres humanos que especificamente associem a exposição ao césio radioativo com o aumento do risco de câncer, o Grupo III não foi destacado como um grupo de controle para acompanhamento e observação;

- Compreender que por diversos motivos, alguns especialistas insistem em afirmar que não houve conseqüência para o Grupo III, mesmos sabendo que, ao atuarem sobre tecidos orgânicos, as radiações ionizantes tendem a destruir, com maior intensidade, as células que se encontram em processo rápido de divisão, como as células da derme, dos tecidos hematopoiéticos e dos tumores cancerosos; 

- Entender por que autoridades no assunto não levantaram a hipótese de que indivíduos expostos de forma aguda a altos níveis de radiação de uma fonte de césio radioativo poderão desenvolver algum tipo de câncer, mesmo sem estudo em seres humanos que associem a exposição ao césio radioativo com o aumento do risco de câncer, se o césio radioativo emite radiação ionizante; 

- Conviver com o sofrimento originado pelo embate entre a experiência dos sobreviventes do desastre, o conhecimento científico produzido pelos especialistas nucleares convocados na ocasião e o uso desse conhecimento pelo poder institucional a fim de definir a categoria de “vítima”;

- Conviver com o sofrimento originado pela indefinição a respeito do embate sobre a quem caberia o atendimento à saúde das vítimas; 

- Conviver com o temor de algo tenebroso e desconhecido a cada desequilíbrio no corpo físico ou no corpo psicológico, seja isto gerado por falta de informações sobre as conseqüências do desastre para suas vidas, ou por se sentirem totalmente sós na experiência de vítimas;

- Aceitar o fato já comprovado de que frente a uma doença mais grave ficarão dependentes de familiares e da boa vontade de colegas de trabalho, até para ajuda financeira para os medicamentos;

- Aceitar o fato de que nos Grupos II e III, funcionários da Vigilância Sanitária Estadual – apesar de lotados dentro de uma instituição governamental, apesar dos inúmeros contatos que já tentaram estabelecer – não conseguiram ter tratamento uniforme e nem impor sua experiência de dor perante o conhecimento dos especialistas e autoridades públicas. Tampouco conseguiram assegurar o respaldo legal e jurídico para o acompanhamento de sua saúde, passados já vinte anos do acidente.

Fonte:


Participação de Ivanilde Vieira Batista (Articulação Nacional de Movimentos e Práticas de Educação Popular em Saúde)
Marivalda Marinho de Sousa (Sindisaúde)

Farmacêutica Bioquímica pela UFG, especialista em Saúde Pública pela Fiocruz, Microbiologia pela UFG e Vigilância Sanitária pela UnB, lotada na Svisa–GO desde maio de 1984, vítima do acidente com o césio 137.
Assistente de Saúde, lotada na Svisa–GO desde março de 1978, vítima do acidente com o césio 137.
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Os propósitos e os holofotes

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No roteiro de Lula, a negociação é o antídoto contra as sanções. No roteiro proposto pelos americanos, talvez as sanções sejam a alternativa ao caminho das armas. Pelo menos é possível que russos e chineses enxerguem assim





É discutível a atitude brasileira de deixar a reunião do Conselho de Segurança da ONU em que se discutiam as possíveis sanções contra o Irã. Se o Brasil tem uma posição, deve defendê-la em qualquer instância. Por que não? 

O Brasil parece ter ficado surpreso com a velocidade de reação das potências no CS, e com a unanimidade a favor do rascunho das sanções. 

Na teoria, a declaração obtida por Luiz Inácio Lula da Silva em Teerã deveria ter dividido o bloco dos países com poder de veto. Deveria ter facilitado o descolamento entre de um lado Estados Unidos e de outro Rússia e China. 

Mas não aconteceu. Um motivo é que as medidas vêm sendo costuradas faz tempo entre os protagonistas do CS. E costuras envolvem compromissos. 

Um exemplo: os americanos toparam ceder aos russos no escudo antimísseis do leste da Europa. Os russos não podem agora simplesmente desconhecer as preocupações dos Estados Unidos com o Irã. 

Os chineses também carregam um portfólio de pontos estratégicos delicados na relação com Washington. Não podem se dar ao luxo de flutuar ao sabor dos acontecimentos. 

Outra razão é que nem russos, nem chineses, nem franceses nem súditos de Sua Majestade estão dispostos a conviver com um Irãnuclearizado. A França não se alinha automaticamente aos Estados Unidos, ao contrário: na crise do Iraque peitou o aliado do começo ao fim. Rússia e China tampouco. 



Circula a teoria de que as sanções são um primeiro passo para os Estados Unidos intervirem militarmente no Irã. O histórico das guerras recentes encoraja a hipótese. Mas há nela um buraco lógico. Por que motivo russos e chineses iriam estimular a presença de tropas americanas no Irã? Qual o interesse dessas duas potências em incentivar a expansão bélica da superpotência? 

Interesse nenhum. O que faz obrigatório levantar uma possibilidade: talvez os parceiros dos Estados Unidos no CS vejam as sanções como um caminho não para impulsionar a eventual agressão militar, mas para diminuir a probabilidade de ela acontecer. 

No roteiro de Lula, a negociação é o antídoto contra as sanções. No roteiro proposto pelos americanos, talvez as sanções sejam a alternativa ao caminho das armas. Pelo menos é possível que russos e chineses enxerguem assim. 

Também por isso escrevi na coluna de terça-feira que a tática brasileira levaria a aumentar as pressões sobre Teerã, em vez de diminuir. O Irã tem um histórico de enrolar o CS, e se as potências enxergassem a aceitação tardia da algumas condições pelos iranianos como manobra para novamente “comprar tempo” provavelmente dariam mais uma volta no parafuso. Uma mais algumas. 

O Irã trabalha com a hipótese de os Estados Unidos não conseguirem abrir uma terceira frente, além do Iraque e do Afeganistão. É razoável. Como também é razoável imaginar que Washington esteja a rascunhar caminhos para enfrentar o problema, de um jeito ou de outro. 

O documento assinado em Teerã rendeu dividendos políticos a Lula, mas é preciso agora ir além do brilhareco. Se o Brasil está sinceramente interessado numa saída pacífica — e não apenas em fazer propaganda de si próprio — talvez devesse considerar que os termos acertados no domingo com Mahmoud Ahmadinejad são, infelizmente, insuficientes. E que é preciso avançar. 

A questão-chave do affair iraniano é o monitoramento internacional do programa atômico. O próprio Itamaraty admite isso, quando caracteriza o trato do último fim de semana como “primeiro passo”. Qual é a dificuldade, então? O ritmo. Brasil e Irã caminham a passo de tartaruga, mas os fatos já adquiriram velocidade de coelho. 

Em resumo, a permanência do Irã como nação soberana depende da renúncia definitiva ao uso da energia nuclear para fins militares. E de isso poder ser efetivamente verificado e fiscalizado pelas potências. Em suma, para manter sua soberania o Irã deverá renunciar a uma parte dela. 



Justa ou injusta, essa é a situação. E os dirigentes iranianos estão diante da encruzilhada. Na qual, aliás, eles mesmos fizeram tudo para se meter. As escolhas colocadas aos países nos momentos-chave da História nunca são fáceis. 

Será ótimo se o Brasil e Lula puderem ajudar o Irã a fazer a escolha correta. É o que farão, se estiverem movidos pelos propósitos certos, e não apenas pela busca dos holofotes.



Fonte: 


Nas Entrelinhas - Alon Feuerwerker
Correio Braziliense - 20/05/2010
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Irã, o boi de piranha das ambições nucleares brasileiras

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Uma vez no jogo, o Brasil será instado a somar esforços para garantir que o Irã não construa a bomba. Objetivo que poderá ser obtido no âmbito do protocolo adicional do TNP, com o rigoroso e completo monitoramento internacional sobre Teerã
 
 
 

Qual é o principal efeito prático da carta de intenções assinada por Brasil, Turquia e Irã no último fim de semana? Introduzir mais efetivamente os dois primeiros na mesa de negociação sobre o programa 
nucleariraniano. Era algo que Luiz Inácio Lula da Silva desejava muito, e conseguiu.

O cacife das outras potências reside na força militar e econômica. Para ser chamado ao pôquer, o Brasil apresentou certas credenciais: ofereceu-se como interlocutor possível entre Teerã e os adversários. Interessa aos iranianos, ativos na busca de “comprar tempo” na corrida pela bomba. E interessa ao Brasil, em busca de protagonismo e espaço globais.

Onde está o desafio para Lula? A entrada na festa não é grátis. E nela os trouxas ficaram do lado de fora, não conseguiram convite.

O Brasil apoia os esforços planetários para evitar que o Irã tenha a bomba, apenas opõe-se ao método das sanções. Mas as palavras precisam ter reflexo nos atos. Se você está na mesa de pôquer não vai sair quando quiser, só porque ganhou umas fichas a mais.

Ficaria mal para o Brasil aparecer aos olhos do mundo como inocente útil dos aiatolás. Nem é razoável imaginar que Lula trabalhe com essa possibilidade. Outra hipótese é o Brasil tratar o Irã como boi de piranha das ambições 
nucleares brasileiras. O Itamaraty e o Palácio do Planalto negam. É um vetor no nosso establishment político e militar, mais ainda não parece ter alcançado dominância explícita.

Assim, uma vez dentro do jogo, o Brasil será instado a somar esforços para garantir, de fato, que o Irã não alcance a tecnologia e as condições materiais para construir a bomba. A troca do urânio enriquecido é apenas um aspecto. Há outros. Deverá haver garantias reais da neutralização atômica de Teerã. O que fará manter e até aumentar a pressão sobre os iranianos.

O Irã não tem uma terceira opção, é a capitulação ou a guerra. Segundo o Brasil, o pacto firmado é o primeiro passo da saída pacífica, e de um jeito que não fique tão vergonhoso para os iranianos. Mas é possível que eles não estejam convencidos disso, que vejam tudo como bela oportunidade de dar sequência ao “enrolation”.

De que jeito resolver isso? De novo, suas excelências, os fatos. É preciso que o rascunho evolua para a permissão de inspeções abrangentes e para a completa abertura de Teerã ao monitoramento internacional. De preferência, no âmbito do protocolo adicional do Tratado de Não Proliferação de Armas 
Nucleares (TNP).

Aliás, o Brasil poderia dar o exemplo, endossando ele próprio o protocolo, para ganhar autoridade junto aos amigos iranianos quando for convencê-los a fazer o mesmo.

Infelizmente, nos últimos anos o regime dos aiatolás, pressionado internamente por vetores modernizantes e ocidentalizantes, derivou para uma política externa expansionista e agressiva, inclusive em relação ao mundo árabe. É natural que um país assim liderado encare resistências quando deseja ampliar seu poderio bélico.

O Brasil, por exemplo, enfrenta desconfianças quanto ao viés pacífico do nosso programa 
nuclear. Mas como não andamos por aí ameaçando riscar ninguém do mapa, nem patrocinamos movimentos de desestabilização política em países das redondezas, a coisa vai sendo levada num certo banho-maria. Já com o Irã não dá para ser assim.

Por isso, no fritar dos ovos, o cenário continua mais ou menos como estava antes do fim de semana. O mundo precisa saber se o Irã aceita renunciar completamente à bomba, se está disposto a oferecer as necessárias garantias. A carta de intenções patrocinada por Lula é positiva, mas talvez ainda não suficiente.

O que não retira seu mérito. Apenas impõe novas obrigações ao novo jogador sentado na mesa do pôquer. 

São os seguinte os principais pontos negociados ontem pelos governos do Brasil, da Turquia e do Irã a respeito do programa nucleariraniano:

1º ) o Irã vai entregar 1.200 quilos de urânio enriquecido a 3,5% e receber de volta 120 quilos processados a 20%;
2º) o Irã retirou a exigência da troca simultânea;
3º ) o Irã recuou da exigência de que a troca fosse feita em solo iraniano. Poderia ser feita no Brasil ou na Turquia, dois países que considera confiáveis, ao contrário de outros ocidentais e especialmente dos Estados Unidos - a opção foi pela Turquia, país geográfica e politicamente ligado a Irã e a Israel, com os quais compartilha fronteiras;
4º ) o acordo vai ser submetido à apreciação da Agência Internacional de Energia Atômica e se tudo ocorrer com o programado, o Irã deve ter combustível para seu reator em um ano ou pouco mais;
5º ) a Turquia será a fiel depositória dos 1.200 quilos do urânio iraniano. Ele deverá ser enriquecido e transformado em combustível na França.

Fonte:
Correio Braziliense - 18/05/2010
Valor Econômico - 18/05/2010
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Eletricidade nuclear: na contra mão da sustentabilidade

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por Heitor Scalambrini Costa 

Desenvolvimento sustentável é aquele que é capaz de suprir as necessidades da geração atual sem comprometer a capacidade de atender às necessidades das gerações futuras. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro. Partindo desse conceito podemos afirmar que é um absurdo e equivocado que o governo brasileiro priorize a opção nuclear para geração de energia elétrica, considerando que o país conta com tantas opções de produção a partir de energias renováveis e limpas. Além dos riscos devido a acidentes, ao lixo atômico, as emissões de CO2, somam-se o risco geopolítico que traria ao país e a região esta tecnologia.

 A exploração abusiva e perdulária da energia originada de fontes não-renováveis (combustíveis fósseis, como o petróleo, carvão e o gás natural, e a energia produzida nas usinas nucleares), ainda maioria no planeta, traz danos irreversíveis ao meio ambiente. Com base nesse fato, a questão das fontes de energia é assunto em pauta mundialmente. No Brasil, cria polêmica à discussão sobre as usinas nucleares como complemento à produção de energia a partir das hidrelétricas.

 Atualmente, a energia nuclear corresponde a 2 % da produção energética brasileira, gerada pelas usinas Angra 1 (657 megawatts) e Angra 2 (1.350 megawatts). A principal matriz do Brasil é a hidroeletricidade (80%). A intenção do governo com a reativação do Programa Nuclear é de aumentar a capacidade nuclear com a instalação de Angra 3 até 2012, e com a construção de quatro novas usinas até 2030, sendo duas na região Nordeste e outras duas no Sudeste, conforme propõe o Plano Nacional de Energia 2030 - Estratégia para a Expansão da Oferta, apresentado pela Empresa de Pesquisa Energética-EPE.

Apesar dos renovados esforços da indústria nuclear em apresentar-se como segura, acidentes em instalações nucleares em diversos países continuam a demonstrar que esta tecnologia é perigosa, oferecendo constantes riscos que podem trazer conseqüências catastróficas ao meio ambiente e à humanidade, por centenas e milhares de anos. O exemplo mais recente foi o acidente pós-terremoto na maior usina atômica do mundo, localizada em Kashiwazaki-Kariwa, no Japão. Sem falar em outro problema que continua sem solução no Brasil e no mundo, que é o armazenamento do lixo radioativo gerado pelas usinas.

 Afirmar que as centrais nucleares não contribuem para os gases de efeito estufa é uma meia verdade, e como toda meia verdade, também é uma meia mentira. As usinas núcleo elétricas em operação rotineira, necessitam de grandes volumes de água usados na refrigeração de suas turbinas, produzindo grandes quantidades de vapor d'água para a atmosfera. Lembramos que o vapor d´água é também um tipo de "gás estufa". No conjunto de etapas do processo industrial que transforma o mineral urânio, desde quando ele é encontrado em estado natural até sua utilização como combustível dentro de uma usina nuclear, chamado ciclo do combustível nuclear, é produzido quantidades consideráveis de gases de efeito estufa.

 Outro fator de extrema preocupação, descrito no Relatório da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados publicado em 2006, é que o Estado brasileiro está longe de ter a estrutura necessária para garantir a segurança das atividades e instalações nucleares. Nesse documento são apontadas graves falhas na fiscalização e monitoramento do setor nuclear, destacando, entre outros problemas, a duplicidade de funções da Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN atua, ao mesmo tempo, como Requerente, Operadora, Prestadora de Serviços, Licenciadora e Fiscalizadora de si própria. Vale lembrar que, em setembro desse ano, completaram-se 23 anos da contaminação com Césio 137 em Goiânia, que vitimou milhares de pessoas e ficou conhecido como o maior acidente radiológico urbano do mundo.

 No Brasil, historicamente, a relação entre o uso da energia nuclear para fins energéticos e para fins militares também é muito estreita. O Programa Nuclear Brasileiro surgiu durante a ditadura militar e até hoje atende demandas de alguns setores das forças armadas, fascinados pelo poder que a energia nuclear lhes traz. Outros grupos de interesse fazem “lobby”, como setores industriais “preocupados” com o risco de um apagão (a instalação de usinas nucleares não vai afastar o risco do apagão nos próximos três ou quatro anos), grupos de cientistas pelo prestígio e oportunidades de novas pesquisas e pelo comando do processo, os fornecedores de equipamentos e as empreiteiras, por motivos óbvios.

 A discussão sobre energia nuclear precisa levar em consideração o modelo econômico adotado no país, o qual se baseia no aumento do consumo e da oferta de energia. Isto não é aceitável. O atual modelo energético brasileiro “ofertista” é insustentável. Precisamos nos perguntar, para quê e para quem essa energia é produzida.

 Não existe uma fonte de energia que só tenha vantagens. Não há energia sem controvérsia, mas a nuclear, pelo poder destruidor que tem qualquer vazamento, merece e deve ser discutida mais amplamente pela sociedade, do que a feita apenas com dez pessoas do Conselho Nacional de Política Energética - CNPE.

 Para um desenvolvimento sustentável, voltado para o bem de todos, da pessoa humana e da natureza, em um país como o Brasil com tantas opções de produção de energias renováveis, a energia nuclear não passará.


Heitor Scalambrini Costa é Professor Associado da Universidade Federal de Pernambuco -Graduado em Física pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP/SP), Mestrado em Ciências e Tecnologias Nucleares, na Universidade Federal de Pernambuco e Doutorado em Energética, na Universidade de Marselha/Comissariado de Energia Atômica-França. 

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Pra não dizer que não falei das flores
Crimes da terra, como perdoá-los? Tomei parte em muitos, outros escondi. Alguns achei belos, foram publicados. Crimes suaves, que ajudam a viver. Como as crianças mudas telepáticas, ou os ferozes padeiros do mal. Como as meninas cegas inexatas, ou os ferozes leiteiros do mal. 

Somos todos iguais, braços dados ou não. Nas escolas, nas ruas, campos, construções. Queremos saber, queremos viver, confiantes no futuro. Por isso se faz necessário prever qual o itinerário da ilusão, a ilusão do poder. 

Pensemos nas mulheres, rotas alteradas. Pensemos nas feridas como rosas cálidas. Sua cor não se percebe. Suas pétalas não se abrem. É feia. Mas é realmente uma flor. 

Todos os homens voltam pra casa. Estão menos livres, mas levam jornais e soletram o mundo, sabendo que o perdem. Ração diária de erro distribuída em casa. Pois se foi permitido ao homem tantas coisas conhecer, é melhor que todos saibam o que pode acontecer.

Mas, não se esqueçam da rosa da rosa. Da rosa de Hiroshima, a rosa hereditária, a rosa radioativa estúpida e inválida. A rosa com cirrose, a anti-rosa atômica. Sem cor, sem perfume, sem rosa, sem nada


Os Relatos


Assista a versão do inicio do acidente segundo o "Linha Direta" (até 1:35) 
"Centro de Goiânia, 13 de Setembro de 1987. Os amigos Wagner e Roberto, entram no prédio abandonado de uma clinica médica"



Cápsula de Césio-137, um dos roubos mais estúpidos do mundo

Em setembro de 1987, um aparelho de radioterapia foi roubado do Instituto Goiano de Radioterapia pelos catadores de papel Wagner Motta Pereira e Roberto Santos Alves. O cilindro de ferro foi desmembrado a marretadas e depois vendido como sucata ao ferro-velho de Devair Alves Ferreira.


O Césio 137
Em Goiânia, havia um equipamento radioativo com uma cápsula contendo somente Césio 137 em dezenas de gramas e com vida média de 30 anos. Um roubo, seguido do rompimento da peça, fez com que o pó se espalhasse sobre o chão, materiais e no corpo humano em uma área limitada, contaminando centenas de pessoas. No entanto, a gravidade foi o registro de casos agudos de doenças e mortes na população e não somente em técnicos.


Os Fatos
Os dados a baixo estão disponíveis ( de muito fácil acesso) a qualquer pessoa: 


- Fotos (da época) do terreno e do "prédio" da clinica.




- Processo Judicial.



Em 1972, o INSTITUTO GOIANO DE RADIOTERAPIA - IGR, então com sede na Avenida Paranaíba, nº 1.587, Setor Central, nesta Capital, devidamente autorizado pela COMISSÃO NACIONAL DE ENERGIA NUCLEAR, ESTADO DE GOIÁS - CNEN, adquiriu em São Paulo-SP uma bomba de Césio 137, de fabricação italiana, a fim de utilizá-la na prestação de serviços radiológicos.

O terreno em que funcionava o IGR era pertencente à Santa Casa de Misericórdia, que o vendeu ao INSTITUTO DE PREVIDÊNCIA E ASSISTÊNCIA SOCIAL DO ESTADO DE GOIÁS - IPASGO. Então, pressionado a deixar o aludido local, o IGR transferiu sua sede a outro endereço, terminando por abandonar no antigo prédio a já obsoleta bomba de Césio 137, sem ao menos comunicar o fato à CNEN ou à Secretaria Estadual de Saúde. Em 04/05/87, iniciou-se a demolição da construção, a mando do ex-sócio do IGR, AMAURILLO MONTEIRO DE OLIVEIRAculminando com a destruição quase total do prédio original, que o deixou sem telhado, portas ou janelas, a despeito da existência no local, sem quaisquer avisos ou advertências, da mencionada bomba de Césio 137. No dia 13/09/87, dois catadores de papel adentraram os escombros e levaram consigo, entre outros objetos, a bomba abandonada.



- Jornal da época

Assista até 0:58
"A Policia Federal decidiu que as 3 pessoas que retiraram a bomba de césio do antigo prédio do IGR aparecerão sempre no inquérito como vítimas  e não como ladrões, porque se caracterizou o abandono do aparelho."


Debate
Erro grave de pesquisa ou reconstrução de uma versão? 


Ao dizer que houve um roubo se omite a questão primordial - Falhou a fiscalização.


O Roubo - Roubo é o ato de subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência. Ou seja, Wagner e Roberto não roubaram o aparelho. 


A Fiscalização - Como é que um aparelho de radioterapia fica abandonado, sem segurança, em pleno centro de uma grande cidade? Que tipo de fiscalização é feita em relação as fontes radioativas do país? Existem outras fora de controle hoje? (Conheça a AFEN - Associação dos Fiscais de Radioproteção e Segurança Nuclear)


O que diz a CNEN:
A CNEN não aborda em sua versão a questão da grave falha de fiscalização. Seria esta uma forma de desviar o foco da uma grave falha da instituição?


Conseqüência


O maior acidente radioativo em área urbana do mundo aconteceu no Brasil. Setembro de 1987 o mundo olhou para Goiânia.





Mas não foi apenas pelo acidente no fim daquele Setembro que o Brasil foi parar nas capas dos jornais do mundo. No inicio daquele mês o então presidente José Sarney havia anunciado que o programa nuclear paralelo havia conseguido desenvolver a tecnologia para enriquecer urânio a 20%. 


No dia 27 de Setembro do mesmo ano acontecia em Goiânia a etapa do circuito mundial de motovelocidade. O acidente foi descoberto no dia 29 de Setembro de 1987 (mas seu inicio se deu dia 13 de Setembro).





Quem se beneficiaria com essa "nova" de memória? 

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