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Irã, o boi de piranha das ambições nucleares brasileiras

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Uma vez no jogo, o Brasil será instado a somar esforços para garantir que o Irã não construa a bomba. Objetivo que poderá ser obtido no âmbito do protocolo adicional do TNP, com o rigoroso e completo monitoramento internacional sobre Teerã
 
 
 

Qual é o principal efeito prático da carta de intenções assinada por Brasil, Turquia e Irã no último fim de semana? Introduzir mais efetivamente os dois primeiros na mesa de negociação sobre o programa 
nucleariraniano. Era algo que Luiz Inácio Lula da Silva desejava muito, e conseguiu.

O cacife das outras potências reside na força militar e econômica. Para ser chamado ao pôquer, o Brasil apresentou certas credenciais: ofereceu-se como interlocutor possível entre Teerã e os adversários. Interessa aos iranianos, ativos na busca de “comprar tempo” na corrida pela bomba. E interessa ao Brasil, em busca de protagonismo e espaço globais.

Onde está o desafio para Lula? A entrada na festa não é grátis. E nela os trouxas ficaram do lado de fora, não conseguiram convite.

O Brasil apoia os esforços planetários para evitar que o Irã tenha a bomba, apenas opõe-se ao método das sanções. Mas as palavras precisam ter reflexo nos atos. Se você está na mesa de pôquer não vai sair quando quiser, só porque ganhou umas fichas a mais.

Ficaria mal para o Brasil aparecer aos olhos do mundo como inocente útil dos aiatolás. Nem é razoável imaginar que Lula trabalhe com essa possibilidade. Outra hipótese é o Brasil tratar o Irã como boi de piranha das ambições 
nucleares brasileiras. O Itamaraty e o Palácio do Planalto negam. É um vetor no nosso establishment político e militar, mais ainda não parece ter alcançado dominância explícita.

Assim, uma vez dentro do jogo, o Brasil será instado a somar esforços para garantir, de fato, que o Irã não alcance a tecnologia e as condições materiais para construir a bomba. A troca do urânio enriquecido é apenas um aspecto. Há outros. Deverá haver garantias reais da neutralização atômica de Teerã. O que fará manter e até aumentar a pressão sobre os iranianos.

O Irã não tem uma terceira opção, é a capitulação ou a guerra. Segundo o Brasil, o pacto firmado é o primeiro passo da saída pacífica, e de um jeito que não fique tão vergonhoso para os iranianos. Mas é possível que eles não estejam convencidos disso, que vejam tudo como bela oportunidade de dar sequência ao “enrolation”.

De que jeito resolver isso? De novo, suas excelências, os fatos. É preciso que o rascunho evolua para a permissão de inspeções abrangentes e para a completa abertura de Teerã ao monitoramento internacional. De preferência, no âmbito do protocolo adicional do Tratado de Não Proliferação de Armas 
Nucleares (TNP).

Aliás, o Brasil poderia dar o exemplo, endossando ele próprio o protocolo, para ganhar autoridade junto aos amigos iranianos quando for convencê-los a fazer o mesmo.

Infelizmente, nos últimos anos o regime dos aiatolás, pressionado internamente por vetores modernizantes e ocidentalizantes, derivou para uma política externa expansionista e agressiva, inclusive em relação ao mundo árabe. É natural que um país assim liderado encare resistências quando deseja ampliar seu poderio bélico.

O Brasil, por exemplo, enfrenta desconfianças quanto ao viés pacífico do nosso programa 
nuclear. Mas como não andamos por aí ameaçando riscar ninguém do mapa, nem patrocinamos movimentos de desestabilização política em países das redondezas, a coisa vai sendo levada num certo banho-maria. Já com o Irã não dá para ser assim.

Por isso, no fritar dos ovos, o cenário continua mais ou menos como estava antes do fim de semana. O mundo precisa saber se o Irã aceita renunciar completamente à bomba, se está disposto a oferecer as necessárias garantias. A carta de intenções patrocinada por Lula é positiva, mas talvez ainda não suficiente.

O que não retira seu mérito. Apenas impõe novas obrigações ao novo jogador sentado na mesa do pôquer. 

São os seguinte os principais pontos negociados ontem pelos governos do Brasil, da Turquia e do Irã a respeito do programa nucleariraniano:

1º ) o Irã vai entregar 1.200 quilos de urânio enriquecido a 3,5% e receber de volta 120 quilos processados a 20%;
2º) o Irã retirou a exigência da troca simultânea;
3º ) o Irã recuou da exigência de que a troca fosse feita em solo iraniano. Poderia ser feita no Brasil ou na Turquia, dois países que considera confiáveis, ao contrário de outros ocidentais e especialmente dos Estados Unidos - a opção foi pela Turquia, país geográfica e politicamente ligado a Irã e a Israel, com os quais compartilha fronteiras;
4º ) o acordo vai ser submetido à apreciação da Agência Internacional de Energia Atômica e se tudo ocorrer com o programado, o Irã deve ter combustível para seu reator em um ano ou pouco mais;
5º ) a Turquia será a fiel depositória dos 1.200 quilos do urânio iraniano. Ele deverá ser enriquecido e transformado em combustível na França.

Fonte:
Correio Braziliense - 18/05/2010
Valor Econômico - 18/05/2010

Comment (1)

Olá!
Finalmente alguém que ligou os fatos, esse acordo com Irã não tem nada aver com prêmio Nobel, mas com PAC!

Gostei tanto do blog que postei sobre vcs no meu.
Um grande abraço e parabéns

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