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Eletricidade nuclear e as tarifas

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Heitor Scalambrini Costa (hscosta@ufpe.br)
Professor Associado da Universidade Federal de Pernambuco
           


Os impactos do desastre nuclear na central de Fukushima, no Japão, devem ter efeito imediato nos preços das centrais projetadas no mundo e no Brasil. A exigência de sistemas de segurança mais eficientes e uma alta no preço dos seguros tendem a encarecer ainda mais a eletricidade nuclear.

Os custos de uma usina nuclear crescem proporcionalmente com o nível de confiabilidade e segurança exigidos. Quanto menores forem os investimentos na confiabilidade e segurança do suprimento energético, maior será a exposição aos riscos das catástrofes naturais, das falhas humanas e das falhas mecânicas e elétricas que podem ocorrer na instalação. Após este acidente no Japão, especialistas confirmam a necessidade de novos esforços tecnológicos para aumentar a segurança das instalações.


No Brasil, verifica-se que as condições de financiamento de Angra 3 são controversas, já que a Eletronuclear assumiu uma taxa de retorno para o investimento entre 8% e 10% - muito abaixo das praticadas pelo mercado, que variam de 12% a 18%. Somente uma taxa de retorno tão baixa pode viabilizar a tarifa projetada de R$ 138,14/MWh anunciada pelo governo federal para essa usina. A operação a baixas taxas de juros revela o subsídio estatal à construção de Angra 3. Os subsídios governamentais ocultos no projeto dessa usina nuclear são perversos, porque serão disfarçados nas contas de luz. Se isso se verificar quem vai pagar a conta seremos nós os usuários, que já pagamos uma das mais altas tarifas de energia elétrica do mundo.

Ainda no caso de Angra 3, a estimativa de custos da obra, que era de R$ 7,2 bilhões em 2008, pulou para R$ 10,4 bilhões até o final de 2010, de acordo com a Eletronuclear. Isso sem contar os R$ 1,5 bilhão já empregado na construção e os US$ 20 milhões gastos anualmente para a manutenção dos equipamentos adquiridos há mais de 20 anos. Desde 2008, o custo de instalação por kW desta usina subiu 44%, de R$ 5.330/kW para R$ 7.700/kW.

A título de comparação, a energia da hidrelétrica de Santo Antônio, foi negociada a uma tarifa de R$ 79/MWh, a hidrelétrica de Jirau, o preço foi de R$ 91/MWh (ambas no Rio Madeira), a hidrelétrica de Belo Monte (Rio Xingu), o preço foi de R$ 78,00/MWh, e o resultado do primeiro leilão de energia eólica no Brasil deixaram o MWh em torno de R$ 148. Bem mais reduzido que o apontado pela Empresa de Planejamento Energético (EPE), que usou um preço mais alto da energia eólica para justificar a suposta viabilidade econômica da opção nuclear.

O custo das usinas nucleares que se pretende construir até 2030, duas no Nordeste e duas no Sudeste é enorme, da ordem de R$ 10 bilhões cada uma. Valor este que poderá ser acrescido de 20 a 40% até o final da obra, como tem se verificado comumente, no caso de grandes obras em realização/realizadas no Brasil. As tarifas previstas para a eletricidade nuclear gerada nestas novas instalações são incertas, de cálculos não transparentes, mas que certamente afetará de maneira crescente a tarifa da energia elétrica no país.

A história do nuclear mostra que esta sempre foi e continua a ser, mesmo com a nova geração de reatores, uma indústria altamente dependente de subsídios públicos. Isto significa que quem vai pagar a conta da imensa irresponsabilidade de se implantar estas usinas em nosso país e na nossa região, será a população de maneira geral, e em particular os consumidores, que pagarão tarifas cada vez mais caras.

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Carta de Caetité aos Senadores

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Salvador, 28 de março de 2011

Senhor@s  Senador@s,
Somos de Caetité, na Bahia, onde funciona a única mineração de urânio em operação no Brasil, que produz a matéria prima da produção do combustível nuclear destinado à central nuclear de Angra dos Reis.

Como representantes do Movimento Paulo Jackson – Ética, Justiça, Cidadania, tentamos acompanhar, por mais de uma década, os problemas sócio ambientais causadas pela mineração de urânio no sudoeste baiano. E por isto, estamos acompanhando os desdobramentos da catástrofe nuclear do Japão, que a Europa já denominou de apocalipse atômico.

Alguns aspectos dos desdobramentos desta crise no Brasil tem nos chamado a atenção.

Trataremos aqui, somente da insegurança nuclear. Vem sendo repetido à exaustão, na grande mídia, que estamos em segurança, pois dificilmente assistiremos maremotos ou terremotos jogar por terra o discurso da profissionalização, comprometimento, eficiência técnica, da competência gerencial, do altíssimo grau da segurança da tencologia nuclear das usinas cariocas. Como se tragédias, como a japonesa, de conseqüências ainda não contabilizadas para o mundo, somente pudessem ser causadas por fenômenos  naturais.

Este foi também o enfoque que predominou na audiência conjunta promovida pelas comissões de Serviços de Infraestrutura (CI), de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática (CCT) e de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA) deste Senado.

Ali também vimos, com preocupação, as usinas nucleares serem tratadas como se fossem equipamentos altamente sofisticados, com tecnologia de última geração,  originados em alguns laboratórios de alta qualificação, capazes de produzir, monstrengos autosuficientes, por si só capazes de gerar a energia “do futuro”, independente de uma cadeia produtiva que também tem sérios riscos para a humanidade.

Segundo o Jornal do próprio Senado, nenhum debatedor referiu-se aos perigos do ciclo da produção da energia nuclear no Brasil, que começa exatamente em Caetité, onde existem fartos relatórios técnicos, sociais  e oficiais, do TCU, do Ministério Público  Federal (que tem um GT dedicado à questão nuclear brasileira), da AFEN, da própria Câmara dos Deputados, mostrando os prejuízos sócio ambientais causados pela mineração de urânio iniciada em 2000. São mais de 11 anos de funcionamento, com registro de mais de 10 acidentes, incidentes, ou como o setor nuclear chama de ENUS (eventos nucleares usuais), até hoje não satisfatoriamente apurados. Se todos estamos, vivendo um pesadelo, ao ver aquela nuvem de fumaça radioativa que saem dos reatores derretendo no Japão, em Caetité também temos uma nuvem radioativa, esta formada pela poeira e o gás atômico liberados na atividade mineradora.

Em 2000, a Associação dos Fiscais em Radioproteção e Segurança Nuclear fez um relatório mostrando as possibilidades de ocorrência de acidentes nucleares e radiológicos no Brasil devido à fragilidade da fiscalização e à falta de estrutura do Sistema de Radioproteção e Segurança Nuclear (SIPRON), para garantir a segurança nas instalações radioativas no país, trazendo informações preocupantes de um setor, sobre o qual o estado tenta impor um sigilo inaceitável, alegando ser estratégico, de segurança nacional.
Dois anos depois, em 2004, os fiscais da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) confirmaram as fragilidades, apontadas em 2000, num trabalho que levou a Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados a investigar e publicar, em 2006, o relatório Fiscalização e Segurança Nuclear no Brasil, que demonstra a falta de estrutura do SIPRON e afirma que o estado brasileiro não tem condições de garantir segurança nesta atividade de alto risco para a população e o meio ambiente. Citamos relatórios de 11, de 6 anos, porque, infelizmente, a situação permanece a mesma.
O relatório da Câmara demonstra as vulnerabilidades do Programa Nuclear Brasileiro; a fragilidade da fiscalização, já que a CNEN, proprietária das principais instalações nucleares e radioativas do País, atua como “fiscal de si mesma; as irregularidades que envolvem o funcionamento da INB, em Caetité e a omissão e a conivência do IBAMA, para com a atividade atomica na bahia, que apresenta altos riscos para a população e o meio ambiente.
Como ocorre no plano nacional, os dirigentes locais da empresa sustentam o discurso da competência, da excelência da tecnologia nuclear, mas, na prática, a realidade é bem diferente. Um parecer do TCU, de 2009, afirmou que as sansões impostas pela CNEN são inoquas e o monitoramento das correções dos erros não é suficientemente coercitivo (coativo) permitindo que instalações nucleares e radiológicas continuem operando mesmo com problemas. O fato é que já existe farta documentação sobre a complexidade dos problemas registrados, evidenciando os perigos a que estão expostos os trabalhadores e as comunidades que vivem sob a influencia direta da mineradora.
Como ficamos sabendo que o Senado decidiu visitar as usinas de Angra dos Reis, estamos solicitando que V. Sas. façam também uma visita a Unidade de Concentrado de Urânio em Caetité, operada pela INB e controlada pela CNEN. Mas pedimos também que não se limitem a ouvir os dirigentes da empresa operadora, sobre os quais, aliás, como os dirigentes da CNEN, que estariam sendo demitidos, pelo ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, pesam graves acusações. O ministro teria ficado chocado ao saber que quatro reatores nucleares utilizados para pesquisa funcionam sem licença, em três campi universitários e que Angra 2 opera há mais de uma década sem a "autorização de operação permanente". Não se tem noticia se foi concedida esta autorização para a unidade de extração e produção de urânio em Caetité, pois a CNEN, contrariando vinha renovando esta autorização por mais de 9 vezes, contrariando suas próprias normas de segurança, que so prevêem esta renovação duas vezes.  É por esta, e outras razões, que estamos requerendo que ouçam também a sociedade civil, as entidades e os movimentos sociais que conhecem bem a situação de Caetité e Angra dos Reis, bem como os ficais em radioproteção para terem um panorama mais real sobre os preocupantes problemas do setor nuclear brasileiro.
Contando com o apoio de tod@s vocês, despeço-me agradecendo a atenção,

Zoraide Vilasboas
Coordenação de Comunicação


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Mercadante acerta com medidas na área nuclear

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Muito boas as medidas apresentadas pelo ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, que seriam adotadas na área nuclear. A primeiro reação do governo, através do ministro de Minas e Energia, foi ruim. Edson Lobão disse que nossas usinas tinham um padrão tecnológico superior e maior segurança que as do Japão. Esse tipo de declaração de excessiva auto-confiança assusta em vez de tranquilizar. O que tranquiliza é a revisão dos processos, como todos estão fazendo no mundo inteiro diante de um fato novo dessas proporções. É preferível a humildade quando o assunto é sério como esse. Agora, o governo pegou a trilha certa.

Mercadante recebeu um relatório de funcionários da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) e de outros orgãos da área alertando para os problemas que estavam acontecendo. Resolveu investigar. Descobriu que Angra 2 está operando há mais de dez anos sem licença. E o argumento da Cnen é que isso dá muito trabalho. Não é uma resposta razoável. O ministro decidiu por isso  tomar decisões para que tudo seja revisto.
A imprensa está lembrando também que ainda não foi decidido o lugar certo para o rejeito atômico de Angra 1. Essa decisão de contratar pela Eletronuclear uma auditoria externa para ver o risco das encostas é importante. Como disse o jornal "O Globo", é preciso pensar no impensável. Em 1985, aconteceu o impensável quando houve um deslizamento de encosta perto da usina que encobriu o laboratório de radiologia e quase afetou a área de resfriamento do reator de Angra 1.
Ou seja, o que está sendo anunciado é sensato. A energia nuclear é muito perigosa, por isso, não podemos ter a arrogância de acharmos que somos melhores do que os outros, de que o Brasil é melhor do que o Japão. O mundo inteiro está revendo procedimentos, esse é o protocolo quando há acidentes. O Brasil começa a entrar na trilha certa pelas decisões do ministro Mercadante.



Comentário 

Gente,
Demitir só não basta. Queremos a apuração e a responsabilização dos criminosos que estão agindo impunemente desde 2000, em Caetité, onde acaba de falecer mais uma vítima do câncer, no entorno da mineração de urânio.

Queremos o reconhecimento e a reparação de todos os prejuizos sócio-economicos causados aquela região na Bahia e de suas populações.

Não á industria nuclear na Bahia, no Brasil, no Mundo!
Fim ao programa nuclear brasileiro!
Aguardem mais informações.
Zoraide

 
Zoraide Vilasboas
Coordenação de Comunicação
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AVCésio -> Association created by the contaminated victims of Cesium 137

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Goiânia, March 25th, 2011

It is not the first time in history that society watches with astonishment the devastating effect of a nuclear tragedy. Unfortunately, the guidelines that the world has adopted in relation to the subject tell us the tragedy in Fukushima will not be the last.

In September of 1987, the eyes of the world turned to Brazil. In the beginning, we had news of how the "success" in our (parallel) nuclear program, announcing its technological capacity to enrich uranium to 20%. Later in September the "defeat" was announced, by the nuclear catastrophe which happened to the population of Goiania caused by the radiation exposure and contamination with the radioactive element Cesium 137. As president of the AVCesio, association created by the contaminated victims of Cesium 137, I offer my condolences and solidarity to all the victims and future victims of the terror and silence that today come from Fukushima.

We know the fear that the lack of information in a crises like today in Japan causes. We know how painful are the wounds made by the brutality when panic and lack of information inflame the society. We literally suffer the agony that only radiation can cause, directly on our skin. Our properties, documents, memories, photographs, physical health, family, friends, professional relations, stuffed animals, and many others, were violently extinguished, or harmed. Our past and future was stolen because they became radioactive! For this reason, we manifest here our companion, affection, and refuge to them future and present victims of Fukushima.

Unfortunately the nuclear tragedies world-wide follow the same bad script: Little information dismissing the seriousness of the problem, "small " falsehoods in the name of the general “well-being” of the nation, distrust and international mobilization, brutality in the procedures involving victims, until the information finally reaches the local and global populations and the people can see the real dimensions of the tragedy. This overwhelming policy should not follow in vigor. Letters like these are also sad notices of incalculable damage.

We hope, and will pressure the Brazilian government to follow the example of most of the European countries that do not invest in nuclear energy or are slowing down and extinguishing there nuclear programs. The gaps, omissions and abuses in the Brazilian nuclear program are numerous and serious. Our actions, complaints, demonstrations and movements are part of that fight, in witch the victims of Fukushima have just joined.

Tradução Joy Gomes

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Um espanto tão intenso

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O terremoto e o tsunami que atingiram o Japão no dia 11 de março começam a perder espaço na mídia. Parece ser o destino das grandes dores e crises da humanidade, o serem sucedidas pela necessidade de acreditar que foram algo excepcional, mas não a ponto de nos tirar da rota segura do cotidiano. Os bilhões de pessoas que se chocaram com a tragédia praticamente em tempo real, provavelmente sentiram, em meio à compaixão, o alivio de não estarem lá, de não vivenciarem o terror que arrasou territórios, vidas, infraestrutura, tudo, em tão pouco tempo.

Contudo, por mais que o assunto “tsunami no Japão” esteja próximo da página virada, de refluir aos nichos especializados, algo permanece no sistema de alerta de todos nós: e nossa fragilidade diante da natureza? e os riscos da energia nuclear? Esse tema, em evidência nos anos 70 e 80 do século passado, ressurge em outra dimensão, com outras perguntas, necessariamente associadas ao descontrole climático-ambiental que vivemos.
A questão não está no mérito da tecnologia nuclear, mas no seu entorno, naquilo que o aprendizado das últimas décadas nos ensinou, ou seja, é mais importante o olhar abrangente, para as cadeias de causas e conseqüências, do que para um ponto fixo.

A alternativa nuclear para a geração de energia é o ponto fixo, mas os opções de vida da humanidade, aparentemente escudadas por tecnologias inexpugnáveis e admiráveis, é que estão em jogo. Elas são frágeis, muito frágeis, embora queiram aparentar onipotência e domínio de suas circunstâncias. A principal – a de estarmos num planeta que precisa ser levado em conta como organismo vivo carente de cuidados – tem-se aproximado de seus limites sem que isso seja levado em conta em todo seu profundo significado.

As grandes potências da geopolítica mundial têm sido confrontadas com suas vulnerabilidades e, ao final, com sua humanidade. A impotência da potência, tal como costumamos entendê-la, por critérios de força militar e capacidade tecnológica, é um poderoso sinal para deixarmos de mistificar. É hora de recriarmos nossa idéia de civilização. É a era do aprendizado, da compaixão, da solidariedade, mas também da sabedoria, do não esquecimento, do enfrentamento e reconhecimento dos limites. Dos quais, aliás, já passamos.


*Um espanto tão intenso é o título de um livro escrito pelo psicanalista francês Octave Mannoni em 1992.

Marina Silva, 53, ex-senadora do Acre pelo PV, foi candidata do partido à Presidência da República nestas eleições e ministra do Meio Ambiente do governo Lula (2003-2008).
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Baianos dizem não à energia nuclear

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No belo entardecer da Praça Castro Alves, na capital baiana, “o poeta dos escravos” testemunhou uma comovente homenagem hoje, quando milhares de participantes do XI Grito da Água fizeram um minuto de silêncio em solidariedade às vitimas do terremoto japonês e aos afetados pela contaminação radioativa da usina atômica de Fukushima, que já alcança países da Europa e dos EUA. Na praça, cantada em prosa e verso, símbolo e cenário de episódios importantes da história e da cultura da Bahia, foi encerrada a manifestação do Dia Mundial, Estadual e Municipal da Água, que busca conscientizar a sociedade para abraçar as lutas “em defesa da água e do meio ambiente”.


Ali também, mais uma vez, dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores em Água Esgoto, promotor do evento, destacaram a grave situação dos baianos de Caetité, afetados pela única mineração de urânio em operação no Brasil, onde se produz a matéria prima para a fabricação do combustível das usinas atômicas do Rio de Janeiro. Por causa da catástrofe nuclear japonesa, cujas conseqüências ainda estão sendo calculadas, o Grito da Água funcionou como um levante contra o uso da energia nuclear no Brasil. As falas antinucleares e em defesa da exploração de energias limpas e renováveis começaram no inicio da manifestação, em frente ao Teatro Castro Alves, no Campo Grande, prosseguindo durante a caminhada por ruas do centro da cidade até o ponto final do ato.

Animada por dois carros de som, com presença marcante de muitos jovens, crianças, estudantes, baianas, bonecos gigantes, representantes de diversas organizações e movimentos sociais da capital e do interior, os manifestantes se posicionaram, com vigor, contra a usina nuclear na Bahia. Este foi o tema predominante durante a caminhada, que salientou a preocupação das populações de Caetité com a insegurança da mineração, a contaminação da água e do solo e o aumento dos casos de câncer na região e dos prejuízos sócio ambientais.

O que acontece no Japão hoje, infelizmente tendo como pano de fundo uma extraordinária tragédia humana e econômica, representa um dramático alerta para toda a humanidade sobre os perigos da energia nuclear. Os manifestantes desfilaram com um imenso balão com inscrição contra a implantação de usina nuclear na Bahia e uma faixa complementando que os baianos não querem “este perigo”.





Zoraide Vilasboas
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A volta do medo nuclear

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O mundo inteiro entra em alerta, temendo que o vazamento atômico na usina Fukushima I, no Japão, espalhe uma nuvem radioativa pelo planeta

Às 8h55 do dia 6 de agosto de 1945 um imenso clarão cortou o céu de Hiroshima. Parecia um naco de sol, iluminando todas as coisas com um branco intenso. Ninguém ouviu estrondos até que as paredes começaram a voar e nuvens de poeira envolveram a manhã numa espécie de penumbra. Horas depois, o doutor Masakazu Fujii se deparava com uma horda de feridos zanzando pelas ruas da cidade. Nus, com os corpos queimados, eles caminhavam de cabeça baixa, em silêncio, absolutamente inexpressivos. Como japonês, o médico se atormentava pela vergonha de ter sido poupado daquela desgraça. Perto dali, num bambual à beira do rio, o padre Kleinsorge, um jesuíta alemão, se surpreendia com o silêncio de centenas de feridos que sofriam juntos: “Ninguém chorava e muito menos gritava de dor. Ninguém se queixava. Ninguém agonizava ruidosamente. Nem as crianças choravam. Pouca gente falava.”

Quase sete décadas depois destes episódios, descritos pelo jornalista americano John Hersey numa monumental reportagem, o mesmo pudor e a mesma recatada resignação de um povo com sua dor podiam ser constatados em vilarejos e cidades de todo o nordeste do Japão, devastado por um terremoto de nove graus na escala Richter, seguido por tsunami e gravíssima ameaça nuclear. A emoção contida também se estampava nos rostos de milhares de japoneses colocados em fila para se submeterem à inspeção radioativa. Eles se encontravam no entorno da usina Fukushima I quando o terremoto provocou pane no complexo nuclear. Dos seis reatores da usina, quatro passaram por uma sucessão de explosões e incêndios, sinalizando a possibilidade de uma hecatombe atômica. “Por favor, não saiam, fiquem em casa, fechem as janelas e vedem suas casas”, apelou o porta-voz do governo japonês, Yukio Edano, dirigindo-se aos 200 mil moradores das imediações de Fukushima I. A quase dez mil quilômetros de distância, em Bruxelas, na Bélgica, o comissário da União Europeia para energia, Gunther Oettinger, classificou como “apocalíptica” a crise nuclear japonesa. “A situação está fora de controle”, afirmou Oettinger, enquanto colunas de vapor saíam sem parar do complexo. Em Viena, na Áustria, Yukiya Amano, o veterano diplomata japonês que dirige a agência da ONU para energia nuclear, negou que houvesse tal descontrole antes de embarcar para Fukushima. Seu prognóstico, porém, não foi nada confortador: “É difícil prever se a situação vai melhorar ou piorar. Nós não sabemos. Há indícios para os dois lados.”

O espírito com que os japoneses enfrentaram a bomba atômica em 1945 ressurgiu no arquipélago na tarde da quarta-feira 16. A predisposição para a luta seguindo o código de ética pelo qual é melhor morrer do que viver na vergonha reapareceu incorporada no grupo de 50 engenheiros, físicos, técnicos e operários que permaneceu no interior na usina tentando evitar uma catástrofe nuclear. Eles se revezavam no bombeamento de água para resfriar os reatores quando a radiação atingiu níveis insuportáveis para seres humanos. Retirado às pressas, o grupo retornou cinco horas depois.

Na volta, os 50 tinham virado 180, muitos deles voluntários. Usam máscaras e roupas de proteção, mas sabem que a missão à qual se dedicam pode custar-lhes a vida. Dois dias antes, tripulantes de helicópteros americanos que haviam voado a 100 quilômetros de Fukushima foram contaminados pela radiação. Os níveis eram baixos, mas, ainda assim, o governo americano reposicionou toda a tropa que mantém na região. As primeiras tentativas de resfriar os reatores de Fukushima I, jogando água de helicópteros, também haviam sido abortadas por causa da radiação. Não por acaso, os 180 trabalhadores que lutam no interior da usina estão sendo venerados como heróis pelos japoneses. “Eles são como combatentes suicidas numa guerra”, disse o especialista Keiichi Makagawa, do Departamento de Radiologia do Hospital Universitário de Tóquio. A comparação ecoou de forma ainda mais profunda na memória afetiva dos japoneses quando a mensagem da filha de um dos trabalhadores de Fukushima I foi lida em uma emissora de tevê: “Meu pai ainda está trabalhando dentro da usina. Eles estão praticamente sem comida. As condições de trabalho são duras. Ele diz que aceita seu destino como uma pena de morte”, contou a garota.

Cinco dias depois do tsunami, com o país sob a crescente ameaça de contaminação, o imperador Akihito apareceu na televisão para um inédito pronunciamento à população. Ele pediu que os japo­neses “dessem as mãos” e mostrassem “compaixão uns com os outros para superar esses tempos difíceis”. O discurso raro e comedido de Akihito remeteu à histórica proclamação de seu pai, o imperador Hiroito. Por exigência dos Estados Unidos, seis dias após o bombardeio a Nagasaki, em 15 de agosto de 1945, Hiroito dignou-se a falar para seu povo pela primeira vez na história. Pelo rádio, o imperador-divindade, que não podia ser tocado e nem sequer olhado de frente por seus súditos, usou um japonês arcaico que poucos conseguiam entender. Arrogante e ambíguo, Hiroito não citou a palavra “rendição”, preferindo um genérico “cessar fogo”, e rogou que o povo “tolerasse o intolerável”. Coube a locutores da rádio esclarecer que o imperador, na verdade, anunciara a derrota do Japão. O discurso de Hiroito desencadeou uma onda sinistra: mais de 500 japoneses cometeram suicídio pela “vergonha” de não terem impedido que o imperador sofresse. Agora os tempos são outros, mesmo para uma sociedade tradicional como a japonesa. Depois da fala de Akihito aumentaram as suspeitas de que o governo esconde a real situação.

Com exceção do inédito pronunciamento do imperador, os principais sinalizadores da gravidade da crise vêm do exterior. Na França, estima-se que uma nuvem radioativa proveniente de Fukushima atingirá os céus da Europa nos próximos dias. Thierry Charles, o diretor do Instituto de Segurança Nuclear da França, não mediu palavras ao expressar seu pessimismo. “É uma situação de alto risco. Uma evaporação completa (da piscina do reator 4 da usina) nos deixaria no mesmo nível de exposição que Chernobyl”, comparou Charles, referindo-se ao acidente de 1986 na antiga república soviética. Nas imediações de Fukushima I, enquanto o Japão ordenou a evacuação de uma área de 20 quilômetros ao redor da usina, os Estados Unidos estabeleceram em 80 quilômetros o diâmetro de segurança para os americanos. “Mesmo que as equipes de emergência japonesas continuem fazendo um trabalho heroico, sabemos que os danos aos reatores nucleares na usina de Fukushima apresentam um risco substancial para as pessoas que estão próximas”, explicou o presidente Barack Obama.

Para aguçar as suspeitas de que o governo japonês esconde informações estratégicas sobre a crise nuclear, veio à tona um documento de 2008, obtido pelo site WikiLeaks. No documento, o embaixador americano Thomas Schieffer relata denúncia feita por um respeitado líder político japonês, o deputado Taro Kono, de que o governo ocultava dados sobre acidentes nucleares no país. Em outro documento, o serviço diplomático americano informava que as medidas de segurança contra terremotos no arquipélago só haviam sido revisadas três vezes nos 35 anos anteriores. Além disso, após o terremoto de 6,8 graus na escala Richter ocorrido em 2007 na usina nuclear de Kashiwazaki-Kariwa, a maior do mundo, o próprio governo japonês reconheceu que a empresa responsável pela usina, a Tokyo Eletric Power Co. (Tepco), havia comunicado de forma lenta e pouco rigorosa os danos causados pelo tremor.

Como se não bastasse, a agência japonesa Kyoto divulgou na terça-feira 15 trecho de uma preocupante conversa que o atual primeiro-ministro, Naoto Kan, teve com executivos da Tepco, que também opera a Fukushima I. “A tevê relatou a explosão (em um dos reatores). Mas nada foi informado ao gabinete do primeiro-ministro por uma hora. Que diabos está acontecendo?”, teria perguntado o primeiro-ministro. Ao revelar sua dificuldade em lidar a crise, o primeiro-ministro acabou reforçando a avaliação do comissário da União Europeia de que a situação estaria fora de controle. A possibilidade de um vazamento importante de radioatividade é, no mínimo, aterrorizante. A densidade demográfica no Japão é 20 vezes maior do que a da região de Chernobyl.

Por causa do clima de terror, um intenso êxodo vem marcando o cotidiano japonês. Com medo de uma hecatombe atômica, estrangeiros abandonam em massa o arquipélago. O movimento se reflete inclusive no aeroporto internacional de Guarulhos, em São Paulo, com o desembarque constante de brasileiros antes radicados no Japão. No cenário interno, a debandada é para o sul, o mais longe possível de Fukushima I. A 250 quilômetros da usina, Tóquio, a antes pulsante capital, com 32 milhões de moradores na região metropolitana, está com as ruas desertas.

Um novo costume também foi incorporado aos hábitos dos moradores do país: observar a direção dos ventos. Enquanto eles soprarem na direção do Oceano Pacífico, acreditam os japoneses, diminuem os riscos de uma contaminação radioativa pelo ar. Nos Estados Unidos, essa é a direção que alarma. Tanto que o presidente Obama, na quinta-feira 17, tratou de anunciar que não esperava que níveis perigosos de radiação atingissem o país, “seja a costa Oeste, o Havaí, o Alasca ou os territórios americanos no Pacífico”. Mesmo assim, a principal fabricante de cápsulas de iodeto de potássio, que diminui o impacto da radiação no organismo humano, avisou que seus estoques estão praticamente esgotados em decorrência da crise em Fukushima I. No Japão, sabe-se ainda que a neve e a chuva que caem no entorno da usina podem ajudar a contaminar o solo, tornando impraticável a tradicional agricultura de arroz. Daqui para a frente, qualquer produto alimentício exportado pelo país precisará passar pelo escrutínio radioativo. O Brasil anunciou que não tomará nenhuma medida especial nesse sentido.

Os efeitos da radiação atômica sobre os seres humanos começaram a ser identificados pelos japoneses antes mesmo de eles saberem que a bomba de urânio lançada sobre Hiroshima levava o apelido de Little Boy e que a bomba de plutônio responsável pela devastação de Nagasaki era chamada pelos soldados americanos de Fat Man. Em setembro de 1945 médicos da Cruz Vermelha em Hiroshima começaram a formular uma teoria sobre a natureza da nova enfermidade. O primeiro estágio era acachapante: 60% das vítimas tinham morrido queimadas pelo calor de 6 mil graus centígrados que a bomba provocou no solo. Um mês depois, os médicos começaram a notar que mesmo aqueles que haviam sobrevivido sem ferimentos à explosão começavam a revelar sintomas como anemia, fadiga, perda de cabelos, alterações sanguíneas e febre altíssima. Espalhou-se, então, o boato que a bomba havia depositado um tipo de veneno sobre a cidade que ia se desprendendo aos poucos. Era a radiointoxicação, a mesma ameaça que paira sobre aqueles expostos à radioatividade de Fukushima I. Dependendo do grau de contaminação, seus efeitos vão da morte imediata a alterações na estrutura das células, podendo provocar câncer.

O espírito pragmático, a obediência civil e a fé cega dos japoneses na tecnologia podem explicar como um povo que conheceu o poder atômico por seu lado mais macabro, ingressou de forma tão avassaladora no uso da energia nuclear. Fukushima I abriga apenas seis dos 55 reatores atômicos do Japão. A usina completa 40 anos no próximo dia 26. No começo dos anos 1970, quando foi instalada na região, chegou como símbolo de redenção econômica, já que as minas de carvão da região haviam entrado em decadência. Hoje representa o inferno pelo qual já passaram Hiroshima e Nagazaki. Na sexta-feira 18, nem o restabelecimento da linha de transmissão de energia que pode viabilizar o resfriamento dos reatores amenizou a crise. Na sequencia, a agência nuclear japonesa admitiu que o acidente tinha “conseqüência de maior alcance” que local. Pouco depois, imagens de Tóquio eram exibidas na tevê. Os raros moradores que passavam por uma avenida semideserta usavam máscaras e carregavam sacolas com víveres. De tempos em tempos, um solitário gari pegava com uma pinça de madeira um pedacinho de papel jogado no chão. Apesar da crise, não havia nenhum tumulto. E a cidade permanecia limpíssima.


Credito:
Delmo Moreira e Luiza Villaméa

Data:
21/03/2011 00:00
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Desastre Nuclear no Japão

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Por André Amaral

Nos últimos dias, o Japão vem sofrendo a maior catástrofe desde as bombas nucleares que caíram em seu território. Apesar de toda a devastação causada por uma série de terremotos e um tsunami, o maior de todos os temores, que atrai a atenção e as preces de todo mundo, ironicamente, é causado pela mesma tecnologia que devastou o Japão em 1945 – agora usada para geração de energia elétrica.

Não é a primeira vez que o Japão tem um acidente desse tipo, porém. Em 2007, após um terremoto, houve um acidente nas usinas de Kashiwazaki-Kariwa, com vazamento de material radioativo. Desde então, os japoneses já sabiam que esta tecnologia não seria capaz de aguentar um terremoto, muito menos uma série deles. Aliás, os projetistas de reatores nucleares bem sabem que estes não são capazes de resistir a choques de aviões, grandes abalos sísmicos e situações adversas combinadas – que não são consideras em seus relatórios de análise de segurança, documento elaborado antes da construção e licenciamento dos reatores - as condições consideradas para lidar com acidentes, incidentes ou falhas, são sempre condições normais, como se nada tivesse acontecido ou pudesse acontecer ao mesmo tempo que um grande acidente.

Mas na vida real é diferente. Catástrofes simultâneas podem acontecer. Na verdade há uma grande probabilidade que aconteçam. Falhas e prejuízos em sistemas de suprimentos também acontecem. No ano retrasado, o apagão causado no Brasil por um problema nas linhas de transmissão que distribuem a energia de Itaipu, fez com que as usinas nucleares tivessem que ser desligadas. O motivo: não tinham o suprimento de eletricidade externo necessário para o caso de um acidente. O mesmo ocorre no Japão agora. A dificuldade em se obter água, dentre vários outros problemas combinados, é um grande agravante da crise de Fukushima, que piora a cada momento, com novos incêndios e explosões.

Mesmo que revistos os designs e componentes de segurança em todos os reatores no mundo, um plano de emergência de uma usina nunca conseguiria ser executado sem meios de transporte, acesso à água e energia elétrica. E como contar com isso em uma crise? Esse é o momento para expormos os pontos fracos dessa tecnologia, como esse, que põem em risco milhões de vidas ao redor do mundo. Não são só os Japoneses que estão em risco, mas várias nações que optaram erroneamente por essa tecnologia.

Nunca é tarde para reconhecer o erro, porém. Ainda há tempo para repensarmos a questão energética. É hora de o mundo inteiro parar seus planos de expansão de geração nuclear e rapidamente substituir essa fonte por outras limpas, renováveis e o mais importante, seguras.


* André Amaral é biólogo e mestre em ciência ambiental. Coordenou a campanha antinuclear do Greenpeace e hoje atua como consultor independente e sócio-diretor da EcoGreens Soluções Sustentáveis.
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Acidente em usina nuclear japonesa preocupa população de Angra dos Reis

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Flávia Villela
Da Agência Brasil

O recente acidente nuclear no Japão reacendeu a polêmica em torno desse tipo de geração de energia e está causando preocupação entre as populações que vivem próximas a usinas. Mesmo em Angra dos Reis, na costa verde fluminense, onde não existe risco de tsunamis ou terremotos, parte da população está ainda mais aflita com um possível vazamento radioativo nas usinas Angra 1 e 2, criadas na década de 70. Uma possível falha humana ou no reator seria o suficiente para uma tragédia na região, que possui cerca de 200 mil habitantes.


O presidente da Associação dos Pescadores do 4º Distrito de Angra dos Reis, José Carlos Pedrosa, diz que, em caso de necessidade de fuga ou de emergência, não há estradas adequadas e o medo ronda o bairro onde mora, Parque Manbucaba, próximo às usinas.

“É preocupante você deitar e saber que tem uma usina praticamente no quintal da sua casa. Apesar de falarem que 10 quilômetros (km) de distância é uma área segura, lá no Japão ampliaram de 10 para 20 quilômetros e, agora, para 30, pois corre o risco de o acidente ser mais grave. Só que, aqui, as estradas não são suficientes.”

O pescador lembrou que as quedas de barreiras são constantes e a Rodovia Rio Santos (BR 101 sul) “vive interditada”. “O acesso mais rápido para se atingir a [Via] Dutra é subindo a serra pela Saturnino Braga, mas tem um projeto de uma estrada de uns 90 km desde a criação da Angra 1 que nunca saiu do papel. Não dá para evacuar com rapidez.”

O assistente da presidência da Eletronuclear, agência que opera as usinas, Leonam Guimarães, explicou que, embora um fenômeno natural como o que ocorreu no Japão seja praticamente impossível no Brasil, não se pode descartar outros tipos de acidentes. Leonam garantiu, entretanto, que o plano de emergência é rigorosamente idêntico ao adotado no Japão, onde o procedimento de evacuação foi realizado com êxito.

“E tenho certeza de que aqui a evacuação poderá vir a ser feita com muito menos dificuldade do que no Japão, pois lá eles estão em meio a um cenário de caos e, além disso, no entorno das usinas do Japão, a população é muito maior do que no Brasil.”

O funcionário da Eletronuclear explicou que na zona de planejamento de emergência, de até 10 km de Angra dos Reis, existem cerca de 22 mil pessoas. No Japão, o número de pessoas que moravam perto das usinas era de, aproximadamente, 80 mil pessoas.

Leonam ressaltou que as instalações das usinas no Japão foram as que mais resistiram ao terremoto e ao tsunami. “Todas as instalações industriais foram afetadas. Milhares de pessoas devem ter morrido de imediato com a explosão da refinaria de Ichibara, de gás natural.”

De acordo com a Defesa Civil do Estado do Rio, há um plano de emergência preventivo, de padrão internacional, que é colocado em prática todo o ano. De dois em dois anos, o “exercício” envolve a participação da população dentro da zona de planejamento de emergência – um raio de 15 km da central. Além disso, os moradores são convidados a participar de palestras. Anualmente, são distribuídos calendários com uma série de instruções e revistas para o público mais jovens. Cerca de 300 a 500 pessoas participam voluntariamente das etapas do plano de evacuação.

O pescador Carlos Pedrosa participa dos exercícios e confirma a distribuição dos folhetos explicativos, mas tem dúvidas de que isso baste para evitar um desastre. “Será que só isso basta? O plano de evacuação realmente existe, mas por onde fugir? Sempre nas reuniões voltamos a falar sobre os problemas das estradas e eles [autoridades] respondem que os projetos vão sair. Mas nunca saem.”

Dono de uma distribuidora de bebidas no bairro de Balneário, a cerca de 30 km das usinas, Magno Célio Pio da Costa reclama da falta de informação sobre os planos de fuga. Ele acha que a divulgação e os exercícios deveriam ser feitos em um raio maior.

“Nunca me entregaram nenhum panfleto explicativo. Só uma minoria participa dos exercícios que são longe daqui. Quem mora no bairro morre de medo. No caso de um acidente, saio correndo pelo mar, nem que seja num toco de madeira, porque pela [rodovia] Rio Santos, cheia de quebra-molas e barrancos, não dá”.
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Carta da AVCésio em apoio as vítimas de Fukushima

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Goiânia, 17 de Março de 2011
Não é a primeira vez na história que a sociedade assiste com espantos o efeito devastador de uma tragédia nuclear. Infelizmente, as diretrizes que o mundo vem adotando em relação ao tema nos afirmam que tão pouco a tragédia em Fukushima será a última.

Em Setembro de 1987 os olhos do mundo se voltaram para o Brasil. No inicio do mês recebemos notícias do “êxito” em nosso programa nuclear (paralelo) que anunciava a capacidade tecnológica própria para enriquecer urânio a 20%. Ao final do mês é anunciada a “derrota”, a tragédia causada pela exposição à radiação sofrida pela população em Goiânia e a contaminação sofrida pelas vítimas do contato direto com o elemento radioativo Césio-137. Na qualidade de presidente da AVCésio, associação criada pelas vítimas diretas da tragédia, venho oferecer condolências e solidariedade as vítimas e futuras vítimas do terror e silêncio que hoje vem de Fukushima.

Nós conhecemos o sabor do medo que a falta de informação em um momento de crise causa. Sabemos como são dolorosas as feridas feitas pela brutalidade quando o pânico e a falta de informação inflamam a população. Sofremos literalmente na pele angústias que apenas a radioatividade pode causar. Nossas propriedades, bens, documentos, memórias, fotografias, saúde física, parentes, amigos, relações profissionais, animais de estimação, entre muitos outros, foram todos violentamente extintos ou prejudicados. Por este motivo manifestamos aqui nossa compaixão, carinho e acolhimento as vítimas e futuras vítimas de Fukushima.

Sempre nos comove ver a movimentação e a solidariedade de técnicos e centros tecnológicos do mundo inteiro ante uma emergência nuclear. Tal imagem nos gera a sensação de comunicação e redes de apoio, dois pontos frágeis e inoperantes dentro da temática nuclear. A falta de informação “crônica” é a responsável por gerar e elevar a perda de confiança nas autoridades competentes.

Infelizmente as tragédias nucleares mundo a fora seguem o mesmo desesperante roteiro: Poucas informações desmentindo a gravidade do problema, “pequenas” inverdades em nome do bem geral da nação, desconfiança e mobilização internacional, truculência nos procedimentos envolvendo vítimas, até que enfim cheguem informações a população local e mundial das reais dimensões da tragédia. Esta política esmagadora não deveria seguir vigorando, cartas como esta são também tristes alardes de danos incalculáveis.

Esperamos, e faremos pressão, para que o governo brasileiro siga o exemplo dos países da Europa que agora se movimentam para desacelerar e extinguir seus respectivos programas nucleares. As defasagens, abusos e omissões no programa nuclear brasileiro são inúmeras e graves. A presidenta Dilma Rousseff já avisou aos brasileiros que seu governo será lembrado pelo respeito aos direitos humanos, pagaremos todos para ver o quanto, quando e como nosso governo democrático irá nos proteger. Nossas ações, reclamações, manifestações e movimentos são a parte que nos cabem nesta luta, cuja as vítimas de Fukushima acabaram ingressar.


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Odesson Alvez Ferreira
Presidente
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PSDB e PV pedem comissão mista para acompanhar programa nuclear brasileiro

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Jornal da Câmara
Política

Para os parlamentares, é preocupante a iminência da instalação de novos empreendimentos nucleares no Brasil

Da Redação

O terremoto no Japão e o consequente risco de um acidente nuclear naquele país provocou entre os deputados uma maior preocupação com a segurança do programa nuclear brasileiro. Os líderes do PSDB, Duarte Nogueira (SP), e do PV, Sarney Filho (MA), apresentaram requerimento à Mesa Diretora do Congresso para que seja criada uma comissão mista especial com o objetivo de acompanhar, monitorar e fiscalizar as ações referentes à implantação de usinas nucleares no Brasil, já prevista no Plano Decenal de Energia, em estágio avançado de discussão no âmbito do governo.



As imagens da tragédia no Japão, justificam os líderes no requerimento, já levaram diferentes países a anunciar mudanças na segurança de seus programas nucleares e devem afetar a reativação do setor energético mundial. "É fundamental que esta comissão acompanhe os estudos ora em execução sobre a situação das usinas já existentes e também sobre a construção de novas usinas nucleares no Brasil", pedem Nogueira e Sarney Filho.



Para os parlamentares, é preocupante a iminência da instalação de novos empreendimentos nucleares no Brasil, por iniciativa do Executivo, "sem que haja prévia participação do Congresso e sem que se assegure amplo debate público".



Fukushima - Em Plenário, diversos parlamentares também mostraram preocupação com o tema. Sarney Filho leu nota oficial do PV na qual ressalta que a usina nuclear de Fukushima está numa situação de risco total. O partido diz que a recente declaração do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, de que a questão nuclear brasileira está dissociada da japonesa é precipitada e incoerente, "pois a usina do Japão não explodiu por conta do tsunami ou dos terremotos da região, mas devido a uma simples falha no suprimento de eletricidade".



Segundo Alfredo Sirkis (PV-RJ), as centrais nucleares em funcionamento ou prestes a entrar em funcionamento no Brasil são dos anos 70. As usinas, para o deputado, são caras, perigosas e, no caso do Brasil, desnecessárias.



Ricardo Tripoli (PSDB-SP) também avaliou que o Brasil não tem o menor interesse na geração de energia movida por usinas nucleares. "Num país da dimensão do Brasil, com o potencial hídrico e de energias alternativas, não faz sentido investir numa usina nuclear, que é de 10 a 20 vezes mais cara", afirmou.



Ontem, o governo brasileiro criou um grupo interministerial para acompanhar as medidas internacionais de segurança que devem ser tomadas após o acidente no Japão.
 
 
O Perigo Concreto Comenta:
Os anúncios são razoáveis, infelizmente o modelo de relação segue o mesmo - é preciso que grandes tragédias ocorram para que os efeitos econômicos se sobresaiam aos direitos humanos para que a estrutura comercial nuclear seja repensada. Um preço alto que sai do bolso, ou melhor, da saúde dos contribuintes e afeta diretamente o bolso (e aqui sim também se pode dizer "a bolsa" - de valores) dos grandes tubarões, digo, empresários do setor e suas empreiteiras.
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1st International Uranium Film Festival Rio de Janeiro May 2011 - Renato...

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Esclarecendo Fukushima -> Exemplo para o mundo

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Heitor Scalambrini Costa
(hscosta@ufpe.br)
Professor Associado da Universidade Federal de Pernambuco




Quando se pensa em acidentes nucleares, logo vêm à mente as tragédias mais recentes de Three Mile Island, ocorrida na Pensilvânia - Estados Unidos em 1979, e de Chernobyl, na Ucrânia em 1986. Nos dois casos, os acidentes foram causados por falhas que provocaram um superaquecimento no reator, e vazamento de material radioativo para a atmosfera.


Agora estamos acompanhando um desastre nuclear provocado pelo terremoto de 9 graus de magnitude que atingiu o Japão em 11 de março, provocando um tsunami que devastou inúmeras províncias costeiras.


A central nuclear atingida de Fukushima Daiichi, situada a 250 km a nordeste de Tóquio, é composta por seis reatores BWR (Boiling Water Reactor) que geram conjuntamente 4.696 MW elétricos. O combustível dos reatores é o MOX (novo combustível composto de urânio e de plutônio) bem mais reativo que os combustíveis padrões. O plutônio, que não existe em estado natural, é veneno químico extremamente violento, e é para o Japão sua maior fonte de energia, resultante do reprocessamento dos resíduos nucleares produzidos pelas usinas existentes em seu território.



Segundo a Tokio Electric Power Company (TEPCO), empresa de energia responsável pela usina nuclear de Fukushima, três dos seis reatores da central nuclear estavam ativos no momento do terremoto. Os outros três, estavam fechados para manutenção. O reator 1 teve seu sistema de resfriamento danificado o que provocou aumento considerável da temperatura no núcleo do reator, e assim como já admitido pelos órgãos de segurança nuclear japonês, ocorreu o derretimento do reator, liberando material altamente tóxico para a atmosfera. Os reatores 2 e 3 também estão apresentando problemas em seus sistemas de resfriamento, e também podem se fundir, aumentando de maneira catastrófica o desastre nuclear ocorrido.



Convenhamos que a explosão em uma usina nuclear, vista praticamente em tempo real por todo mundo, não é algo que possa ocorrer. E mais do que isso, após o desastre, os responsáveis dizerem que não sabem os motivos. O fato de não ter explicações para uma explosão ocorrida em uma usina sob sua responsabilidade demonstra que a empresa perdeu o controle da situação. Devemos lembrar que a empresa TEPCO, que está no centro da crise nuclear, tem um passado de escândalos e uma trajetória cheia de tropeços em sua atuação nuclear.


As lições que devemos retirar deste lamentável e trágico episódio é que mesmo com os avanços tecnológicos no setor da segurança, os perigos ainda existem. Aqueles defensores das usinas nucleares que chegaram a afirmar que o risco é zero ou praticamente inexiste a possibilidade de ocorrências de falhas, e conseqüentemente desastres nas usinas, devem calçar as “sandálias da humildade”. Devem admitir que não podemos permitir quaisquer riscos ligado com as usinas nucleares, simplesmente pela grande catástrofe, econômica, ambiental e social que possíveis acidentes, ocorrendo, podem legar a toda humanidade.


Daí é preciso repetir que o Brasil/Nordeste não precisa de usinas nucleares. Os recursos naturais e renováveis disponíveis como Sol, vento, água, biomassa são suficientes para atender nossa demanda energética.
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Argumentos contra as usinas nucleares

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Heitor Scalambrini Costa
Professor da Universidade Federal de Pernambuco



Os atuais padrões de produção e consumo de energia estão apoiados nas fontes fósseis (petróleo, gás natural e carvão mineral), o que gera emissões de poluentes locais, gases de efeito estufa e põem em risco o suprimento a longo prazo do planeta, por serem finitas. É preciso mudar esses padrões, incentivar a economia de energia e estimular o uso das energias renováveis (solar, eólica e biomassa). Nesse sentido, o Brasil apresenta uma condição bastante favorável em relação ao resto do mundo.



Não existe uma fonte de energia que só tenha vantagens. Não há energia sem controvérsia, mas a nuclear, pelo poder destruidor que tem qualquer vazamento de radiação, não deve ser utilizada para produzir eletricidade, ao menos em nosso país, onde existem tantas outras opções.



Fica evidenciado que, desde 2005, a indústria nuclear intensificou seu agressivo lobby em diversos países da região, com forte influência nos setores legislativos e da política energética, tentando impor a implantação de usinas, sob o falso argumento de que a energia nuclear é uma fonte “limpa”, segura e contribui para combater o aquecimento global.



Com a retomada discutível e equivocada do Programa Nuclear Brasileiro, reiniciando as obras de construção de Angra 3, e os planos do Ministério de Minas e Energia de instalar no Nordeste usinas nucleares – a região do Brasil com maior potencial eólico e solar -, nada mais atual que discutir as razões contrárias a instalação de usinas nucleares no território nacional.



A opção nuclear para geração de energia elétrica no Brasil e no Nordeste, em particular, não permite resolver os atuais problemas energéticos, e contribuirá para com outros problemas sem solução à vista.



A seguir são apresentadas, sucintamente, as razões para rejeitar as usinas nucleares, vistas sob os seguintes aspectos:

- segurança energética,

- econômico,

- ambiental,

- social,

- riscos,

- proliferação e militarização nuclear,

- sustentabilidade energética,

- democracia.



Segurança energética



A segurança energética é um fator prioritário para o país e aumentará com a diversificação da matriz energética. Do ponto de vista da produção de energia, segundo a Empresa de Planejamento Energético-EPE, o país tem folga no abastecimento, podendo suprir as necessidades de energia elétrica, com as atuais taxas previstas de crescimento, por mais 5 anos. Portanto é puro oportunismo, criar uma relação direta entre os atuais apagões, que tem ocorrido freqüentemente no país todo, com a necessidade da instalação de usinas nucleares para evitá-los. Como que se os atuais apagões fossem decorrentes do desabastecimento, e novamente repetiríamos 2001/2002. Os defensores desta tecnologia associam enganosamente a instalação das novas usinas nucleares como solução aos apagões, que são ocorrências recorrentes do próprio modelo mercantilista empregado no país.



O fundamento principal para a construção de novas usinas de geração é de que existe uma previsão de crescimento da economia (sem que se questione a natureza do crescimento) e de que, em função disso, há necessidade de se ofertar mais energia para atender a esta demanda, construindo novas usinas.



Projeções do consumo futuro de energia dependem do tipo de desenvolvimento e crescimento econômico que o país terá. Existem vários questionamentos sobre os cálculos oficiais que apontam para taxas extremamente elevadas de expansão do parque elétrico brasileiro para atender a uma pretensa demanda. O que essa previsão esconde é o fato de praticamente 30% da energia elétrica ofertada pelo país é consumida por seis setores industriais: cimento, siderurgia, produção de alumínio, química, o ramo da metalurgia que trabalha com ferro e papel/celulose – 30% somente para seis setores. São exatamente eles que puxam o consumo da energia elétrica para cima, os chamados setores eletro-intensivos. Precisamos urgentemente discutir: energia para que? E para quem?



Temos de fugir dessa idéia míope de discutir qual a melhor fonte. A melhor fonte de energia é aquela que não é consumida. Não consumir energia significa ter uma política de aumento da eficiência energética, situação da qual estamos muito longe ainda. Os resultados oficiais apresentados nesta área são pífios.



No Brasil, o consumo de energia per capita ainda é pequeno e é indispensável que o consumo de energia cresça para promover o desenvolvimento sustentável. No entanto, nada impede que o uso de tecnologias modernas e eficientes sejam introduzidas logo no início do processo de desenvolvimento sustentável, acelerando com isso o uso de tecnologias eficientes (aquecimento solar da água, eletricidade solar, geradores eólicos, geração distribuída,... ). Contrapondo assim ao pensamento de que, para haver desenvolvimento, é preciso que ocorram impactos ambientais, devido a geração, transporte e uso da energia.



A conservação de eletricidade reduz o consumo e posterga a necessidade de investimentos em expansão da capacidade instalada, sem comprometer a qualidade dos serviços prestados aos usuários finais. A eficiência energética é, sem dúvida, a maneira mais efetiva de ao mesmo tempo reduzir os custos e os impactos ambientais locais e globais, suportando assim, conjuntamente com as fontes solar, eólica e biomassa; a segurança energética do país.



Aspectos econômicos



Do ponto de vista econômico, o custo de uma central nuclear é enorme, da ordem de R$ 10 bilhões. Geralmente este valor está aquém dos valores finais da obra. Nas planilhas de custos é subestimado (até não levado em conta) os custos de armazenamento dos resíduos, da desmontagem da central após sua vida útil e limpeza de locais contaminados, o reforço da linha elétrica para distribuição, e os serviços de fiscalização e segurança, entre outros. O chamado descomissionamento, representa o custo de desmontagem definitiva e descontaminação das instalações das usinas nucleares após o encerramento das suas operações. É preciso que se tenham garantias absolutas de que esse trabalho será levado a cabo com seriedade, e que as instalações e resíduos das usinas não serão simplesmente abandonados contaminados após o seu fechamento.



Como exemplo do que estamos falando, centrais nucleares que estão sendo planejadas atualmente na Finlândia, já estão custando o dobro do estimado antes do começo da obra. Já nos Estados Unidos, as usinas implantadas entre 1966 e 1986 tiveram, em média, custos 200% acima do previsto.



A história do nuclear mostra que esta sempre foi e continua a ser, mesmo com a nova geração de reatores, uma indústria altamente dependente de subsídios públicos. Isto significa que quem vai pagar a conta da imensa irresponsabilidade de se implantar estas usinas em nosso país, será a população de maneira geral, e em particular os consumidores, que pagarão tarifas cada vez mais caras.



Desde 2005, um dos mais conceituados centros tecnológicos do mundo, o Massachusetts Institute of Technology, tem assegurado que a energia nuclear não é competitiva sem subsídios. À mesma conclusão chegaram estudos publicados pelos jornais The New York Times e The Financial Times. Outro estudo ainda, publicado pela National Geographic Brasil (agosto 2005) aponta na mesma direção. E mais recentemente a revista britânica New Scientist listou argumentos que desfavorecem a energia nuclear: não sobrevive sem subsídios, os custos para pesquisa e desenvolvimento são altíssimos e também são insuportáveis os custos da disposição do lixo nuclear e do descomissionamento dos reatores, assim como a segurança nas usinas.



Para os brasileiros o maior impacto da instalação de usinas nucleares será nas tarifas. De 2001 a 2010, o aumento acumulado das tarifas de energia chegou a 186%, enquanto no mesmo período o IPCA (índice oficial de inflação do governo) acumulou 86%, segundo a Associação Brasileira dos Grandes Consumidores de Energia Elétrica (Abrace). E projeta que até 2014, o preço da energia subirá mais de 30%. Pagamos uma das mais altas tarifas do mundo, e com tendência de aumento. Sem nenhuma dúvida pode-se afirmar que o uso da eletricidade nuclear irá contribuir ainda mais para a elevação das tarifas de energia elétrica no Brasil.



Para aqueles que afirmam que o Brasil deve manter-se aberto para todas as possibilidades de aproveitamento na geração e oferta de energia elétrica, a médio e longo prazo, o desvio de recursos públicos para a opção nuclear será um verdadeiro obstáculo ao estabelecimento de políticas de incentivo e promoção de energias renováveis no país. O incentivo garantido às usinas nucleares deveria ser direcionado a outras fontes de geração de energia, muito mais seguras e limpas, como a eólica, solar e a biomassa.



O governo brasileiro mostra mais uma vez que está disposto a bancar a construção de grandes empreendimentos contraditórios e de resultados duvidosos, contrariando interesses divergentes que não tem sido considerado e nem incorporado no processo de negociação e decisão.



No caso de Angra III a estimativa de custos da obra, que era de R$ 7,2 bilhões em 2008, pulou para R$ 10,4 bilhões até o final de 2010, de acordo com a Eletronuclear. Isso sem contar os R$ 1,5 bilhão já empregado na construção e os US$ 20 milhões gastos anualmente para a manutenção dos equipamentos adquiridos há mais de 20 anos. Desde 2008, o custo de instalação por kW de Angra 3 subiu 44%, de R$ 5.330/kW para R$ 7.700/kW. Os gastos em usinas nucleares são um sumidouro de recursos públicos, e quem pagará por esta insanidade será o povo brasileiro.



Questão ambiental



Do ponto de vista ambiental é uma meia verdade, afirmações que as centrais nucleares não contribuem para os gases de efeito estufa, e que são “limpas”.



Em operação rotineira, as centrais nucleares pouco agridem o meio ambiente, porém expõem a sociedade ao risco de acidentes que liberam na biosfera produtos de fissão nuclear de alta radioatividade, que podem trazer conseqüências catastróficas a vida. Embora pequeno, tal risco existe, e não pode ser negligenciado. Ademais, essas usinas não resolveram o problema do que fazer com os rejeitos de alta radioatividade, cuja deposição final demanda pesados investimentos. Estima-se que estes rejeitos tenham que ficar isolados durante milhares de anos.



Na geração da eletricidade nuclear a produção de CO2 é muito pequena, mas se levarmos em conta o conjunto de etapas do processo industrial (chamado ciclo do combustível nuclear), que transforma o mineral urânio, desde quando ele é encontrado nas minas em estado natural até sua utilização como combustível dentro de uma usina nuclear é produzido quantidades consideráveis de gases de efeito estufa. Portanto, além das elevadas emissões de carbono, geram resíduos tóxicos altamente radioativos e contribui com agressões ambientais. Além de uma central nuclear consumir elevados volumes de água para sua refrigeração, tendo sua instalação obrigatoriamente ser próxima a grandes recursos hídricos (rios, mares, ....).



Portanto, se levarmos em conta todo o ciclo para preparar o combustível nuclear que será “queimado” nas centrais, pode-se afirmar que esta fonte energética é uma importante fonte de emissões, que são produzidas na prospecção do mineral, na extração e no transporte de urânio, no transporte dos resíduos para processamento ou armazenagem e no futuro descomissionamento.



Vários estudos científicos têm monstrado que o ciclo do urânio é um grande consumidor de energia e um forte emissor de CO2. O estudo americano “Nuclear Power: The Energy Balance” (2005), que compara as emissões de CO2 analisando o ciclo de vida de uma central nuclear e de uma central a gás natural (com uma potência equivalente) chega à conclusão que, no longo termo, com o decréscimo da qualidade das reservas de urânio, a eletricidade nuclear provoca muito mais emissões que o gás natural consumido na termoelétrica.



O cálculo que faz a Oxford Research Group chega a 113 gramas de CO2 por kWh gerado. Isso é aproximadamente o que produz uma central a gás. Portanto, existe um mito, um afã de descartar, cortar e mostrar de maneira parcial a realidade desta fonte de energia.



Já de acordo com a metodologia de Storm e Smith para o cálculo de emissões, o ciclo de geração por fontes nucleares emite de 150 a 400 g CO2/kWh, enquanto o ciclo para geradores eólicos emite de 10 a 50 g CO2/kWh.



Segundo dados da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) considerando a mineração do urânio, o transporte, o enriquecimento, a posterior desmontagem da usina e o processamento e confinamento dos rejeitos radioativos, esta opção produz entre 30 e 60 gramas de CO2 por kWh gerado.



Verifica-se então grande contradição nos números relacionados as emissões, e que existe uma polêmica e dúvidas sobre a capacidade de emissão de gases de efeito estufa, ao utilizar o urânio para gerar eletricidade. Creio que neste caso o aconselhável seja uma ação preventiva, de não utilização desta fonte de energia.



No caso brasileiro, embora a extração do urânio utilizado pelas usinas ocorra em território nacional, antes ele vai para o Canadá, onde é transformado em gás e, em seguida, para a Europa, onde é enriquecido. Reparem que só nestes deslocamentos, não só existe a emissão de gases proveniente do transporte e do consumo de energia, mas também um grande risco da exposição dos materiais radioativos, ao realizarem viagens intercontinentais.



Aspectos sociais



É comum os defensores da tecnologia nuclear mencionarem com destaque, o impacto revolucionário de um empreendimento de R$ 10 bilhões, pode representar na economia local. Do ponto de vista da empregabilidade e dos ganhos financeiros para o município-estado que abrigar a usina nuclear, há uma falsa retórica de que os investimentos automaticamente favorecerão os moradores do entorno das instalações.



È bom lembrar aos desavisados que os vendedores da usina são responsáveis pelo fornecimento da ilha nuclear, chamada de Nuclear Steam Supply System (NSSS), e pelo layout da planta, o que representa aproximadamente 20% do custo total do capital. Os custos restantes são despendidos na contratação de empresas de engenharia e arquitetura e em fornecedores de sistemas e componentes.



A ausência de companhias com capacidade de projeto, fabricação e prestação de serviços de engenharia na região, ou mesmo no país, acaba exigindo a contratação de empresas do exterior e a realização de importações. Em geral, isso resulta em negociações que consomem tempo, extensões de prazos de entrega, dificuldades com a qualidade, transporte de equipamentos e outros problemas similares. Isso explica porque alguns vendedores de usinas têm procurado expandir suas responsabilidades para 50% ou 60% do orçamento total da obra, a fim de ter maior controle sobre a execução da usina.



Portanto não acreditem nestes benefícios mágicos trazidos “pelo progresso” representado por uma usina nuclear. Como exemplo, a época das obras da usina nuclear de Angra 1 chegou a 11 mil homens trabalhando no período de maior movimentação da obra. Eles trouxeram também suas famílias e isso gerou um contingente humano imenso que a cidade teve que abrigar. Muita gente veio de outros estados. E se instalou o caos urbano sem que a cidade de Angra dos Reis pudesse atender os que chegavam com os serviços básicos. A migração desordenada em grandes obras no país é uma realidade incontestável.



Por outro lado, acreditar que a mão-de-obra utilizada na construção e gerenciamento de uma usina nuclear no Brasil/Nordeste seja mão-de-obra da região, é de que os royalties provenientes da usina serão maciçamente aplicados em ações sociais e ambientais, é a mesma coisa que acreditar em Papai Noel, Saci-Pererê, Mula sem Cabeça e tantas outras figuras do imaginário popular.



Em comparação com a tecnologia eólica ou solar, a energia nuclear cria poucos empregos. Energias renováveis precisam de trabalhadores locais para a construção local e para a manutenção. Os empregos são criados localmente e ficam no local, por isso as comunidades ganham.



Riscos



Atualmente são feitas afirmativas peremptórias de que as usinas nucleares apresentam alto grau de excelência tecnológica, como principal fator de garantia da segurança e o aumento da confiabilidade. Há uma tentativa de tranqüilizar as pessoas, afirmando que a evolução tecnológica dos últimos 30 anos levou as usinas nucleares a se modernizarem e serem praticamente imunes em relação a acidentes. São citadas nos discursos “de perigo zero” as novas usinas que estão em estudos, às chamadas de 4ª geração que utiliza o conceito de “falha para a segurança”.



Nestas usinas, afirmam que quando ocorrem falhas de operação, estas são corrigidas, levando a uma condição mais segura do que a anterior, ou seja, a correção das falhas se dá automaticamente, sem requerer necessariamente a intervenção dos operadores. Como se isto bastasse e fosse suficiente para impedir acidentes. É só verificar e comparar, que mesmo com os enormes avanços tecnológicos da indústria aeronáutica, acidentes ocorrem, como foi o caso do Airbus 330-200 da Air France/AF 477, pérola da indústria aeronáutica no que diz respeito à automatização e segurança.

E mais recentemente terremoto seguido de tsunami que atingiu usinas nucleares no Japão, as mais seguras do mundo. Houve vazamento de radiação (12/03/2011) de um reator do complexo nuclear de Fukushima Daiichi localizado ao norte de Tóquio (250 km), após uma explosão ter arrebentado o telhado da instalação depois do grande terremoto (11/03/2011), com vazamento de radiação. Os efeitos imediatos deste acidente nuclear, anunciados oficialmente foram de 160 pessoas contaminadas pela radiação, e 170.000 retiradas do entorno do reator, com uma área de exclusão que foi aumentando de 3 km, passando a 10 km e atualmente de 20 km de raio em torno do reator acidentado.



Sem dúvida a segurança das usinas nucleares teve avanços importantes, mas, seu relativo controle é suscetível a fatores humanos e da natureza. Não podemos apagar dos arquivos da memória, acidentes nucleares ocorridos nos últimos anos. Em Three Mile Island, na Pensilvânia - Estados Unidos em 1979, e em Chernobyl, na Ucrânia, 1986. Nos dois casos, os acidentes foram causados por falhas que provocaram um superaquecimento no reator, e vazamento de material radioativo para a atmosfera.



Sempre há um risco de contaminação com radiação, independente se a usina nuclear funciona perfeitamente com um bom sistema de segurança. Emissão de isótopos radiativos de césio e estrôncio sempre acontece. Isso é uma contaminação “normal”, conhecida na linguagem internacional como contaminação “standard” das usinas nucleares. Acidentes com vazamento de radioatividade já aconteceram em várias usinas nucleares no mundo. A população sofre mais tarde de doenças graves como leucemia, aumentando o nível de mortandade. Além da contaminação do lençol freático e das terras se tornarem impróprias ao plantio e criação de animais.



E mais: parte do lixo nuclear produzido na usina precisa ser depositado de forma totalmente isolada do meio ambiente em um período de tempo que pode chegar a mais de 240 mil anos. E até agora a tecnologia para garantir isso de forma perfeita ainda não existe.



A radioatividade dos resíduos do urânio processado nas centrais é muito elevada, com graves riscos para a saúde pública durante dezenas a centenas de milhares de anos. Ainda não foi encontrada uma solução satisfatória para o tratamento dos resíduos, hoje armazenados em locais temporários. Este é um pesado legado para as gerações futuras.



Mas, infelizmente, mesmo o controle rigoroso na operação da usina e em todo processo produtivo do elemento combustíve,l não nos livra de outros tipos de risco como roubo de rejeitos radioativos, ataques terrorista, terremotos, falhas humanas e mecânicas. E as conseqüências de um acidente nuclear são desastrosas, afetando a presente e futura geração.



A nova geração de reatores nucleares em construção na Finlândia (Olkiluoto 3) e na França (Flamanville 3), apresentados como a vanguarda do renascimento do nuclear, têm registrado uma série de atrasos, derrapagens orçamentais e problemas técnicos de segurança. Na Finlândia, o prazo de conclusão da central foi adiado por dois anos e os custos de construção quase que duplicaram para um valor de R$ 11,5 bilhões, com várias falhas na construção a implicar potenciais riscos de segurança. Na França, os problemas são semelhantes, tendo já sido mandada parar a construção pela Agência de Segurança Nuclear francesa por vários problemas técnicos de segurança registrados.



Até agora não se tem notícias de que algum acidente em usinas de geração de energia tenha tido proporções semelhantes a Chernobyl e o desastre de Fukushima Daiichi. Ainda que Itaipu fosse destruída, e a maior parte da Argentina fosse por água abaixo, não ficariam seqüelas em gerações sucessivas a exemplo do que ocorreu na Ucrânia e no Japão.



Outro fator de extrema preocupação, descrito no Relatório da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados publicado em 2006, é que o Estado brasileiro está longe de ter a estrutura necessária para garantir a segurança das atividades e instalações nucleares. Nesse documento são apontadas graves falhas na fiscalização e monitoramento do setor nuclear, destacando, entre outros problemas, a duplicidade de funções da Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN atua, ao mesmo tempo, como Requerente, Operadora, Prestadora de Serviços, Licenciadora e Fiscalizadora de si própria.



Vale lembrar que, em setembro de 2011, completara 21 anos da contaminação com Césio 137 em Goiânia, que vitimou milhares de pessoas e ficou conhecido como o maior acidente radiológico do mundo.



Proliferação e militarização nuclear



No Brasil, historicamente, a relação entre o uso da energia nuclear para fins energéticos e para fins militares é muito estreita. O Programa Nuclear Brasileiro surgiu durante a ditadura militar e até hoje atende demandas de alguns setores das forças armadas, fascinados pelo poder que a energia nuclear lhes traz. Outros grupos de interesse fazem “lobby”, como setores industriais “preocupados” com o risco de um apagão, grupos de cientistas pelo prestígio e oportunidades de novas pesquisas e pelo comando do processo, os fornecedores de equipamentos e as empreiteiras, por motivos óbvios.



A exportação e a proliferação contínua de tecnologia nuclear aumentam significativamente o risco de proliferação de armas nucleares, existindo o risco de novos Estados se tornarem novas potências nucleares.



Mesmo neste cenário de degradação ambiental e social, a ameaça de nuclearização da América Latina é real, com o Brasil dividindo com a Argentina a liderança nessa corrida. Ambos têm jazidas de urânio significativas, processo de enriquecimento em curso, usinas e minireatores. O Brasil já tem acordo de cooperação com a Venezuela, que firmou acordo com a Rússia para cooperação na produção de equipamentos. Outros países da América do Sul estão discutindo a fonte nuclear como alternativa para suas demandas de energia, como a Bolívia, Equador e Uruguai. O Peru e o Chile que planejam construir usinas nucleares.



A ressurreição do Programa Nuclear Brasileiro é mais um dos indícios da estratégia governamental de tornar o Brasil uma potência atômica. O dinheiro empregado no programa, para a construção e funcionamento de novas usinas núcleoelétricas, permitirá a lubrificação de todas as suas engrenagens. A cada usina que construímos aumentaremos o volume de urânio que produzimos, aumentando assim o saldo com que se espera entrar definitivamente como sócios no Clube Atômico, e para tal é necessário ter a bomba atômica.



Devemos evitar para nosso país problemas de geopolítica que são gerados pelo o ciclo de combustível nuclear, a tal ponto que depois das tensões com a Coréia do Norte, atualmente o Irã está em sério perigo de ter seu território invadido militarmente por estar enriquecendo urânio para geração nuclear.



Abrir mão da energia nuclear significa um importante passo para evitar o perigo de uma nova onda de proliferação nuclear, dada a natureza dual da energia nuclear, que se presta tanto para aplicações pacíficas como militares, sem falar dos problemas físicos de segurança nuclear. Não devemos nos esquecer do que afirmou o físico Robert Oppenheimer, responsável pela construção da primeira bomba atômica, quando visitou o Brasil, em 1953: "Quem disser que existe uma energia atômica para a paz e outra para a guerra, está mentindo".



Sustentabilidade energética



A atual política energética e ambiental adotada, lamentavelmente tem levado o Brasil a caminhar na contramão do que vem sendo implementado em várias partes do mundo, que tem optado pelo uso de fontes renováveis de energia, não só na geração de energia elétrica, mas também no aquecimento de água solar que evita o consumo de eletricidade nos chuveiros. A noção de sustentabilidade energética descarta a eletricidade de origem nuclear como uma solução sustentável.



Na atual política de expansão da oferta de energia para o país, fica evidente o tratamento especial dado para a construção de mega-hidrelétricas na região Amazônica, de termoelétricas a carvão mineral e óleo combustível e a instalação de usinas nucleares.



Esse gigantismo para megaobras, típico de mentes tecnocráticas e autoritárias, beira a insensatez, pois, dada a atual crise ambiental global, são recomendadas obras menores, que valorizam matrizes energéticas com fontes de energia renováveis, que menos agridem o meio ambiente, e com produção descentralizada.



Se há um país no mundo que goza das melhores oportunidades ecológicas e geopolíticas para ajudar a formular um outro mundo necessário para toda a Humanidade, este país é o nosso. Ele é a potência das águas, possui a maior biodiversidade do planeta, as maiores florestas tropicais, a possibilidade de uma matriz energética menos agressiva ao meio ambiente – à base da água, do vento, do Sol, das marés, das ondas do mar e da biomassa.



Entretanto, ainda não acordamos para isso. E tudo isso nós temos em abundância. Nos fóruns mundiais vive em permanente estado de letargia política, inconsciente, “deitado eternamente em berço esplêndido”. Não despertando para as suas possibilidades e para a sua responsabilidade em face da preservação da Terra e da vida.



Em nosso país existem várias alternativas para aumentar a oferta de energia sem a construção de novas centrais, uma delas é incentivando a eficiência energética. Também são evidentes a abundancia dos recursos renováveis: solar, eólico e da biomassa para a diversificação e complementação da matriz energética. Simplesmente as vantagens comparativas destes energéticos renováveis não são levadas em conta.



Opções energéticas e a eficientização de processos e equipamentos são apresentadas pelos estudiosos da UNICAMP, USP, CHESF, UFPE, que levam em conta as possibilidades de redução da energia na demanda tanto do lado da oferta, como do lado do consumo. Além de apresentarem como fontes renováveis: a energia solar para aquecimento da água e para produção de eletricidade, energia eólica, usinas térmicas a bagaço de cana (bioeletricidade) e restos de produtos agrícolas, e energia das ondas do mar.



Democracia



A indústria nuclear é por sua natureza secreta e sem transparência. Em alguns países, foi criada uma polícia especializada para cuidar dos materiais radioativos contra o roubo pelos “terroristas”. Com este argumento, a indústria nuclear contribui para a diminuição dos direitos democráticos da sociedade, porque cria um “Estado de Segurança”.



A segurança das usinas geradoras e demais instalações nucleares (tratamento e enriquecimento de urânio, fabricação de elementos combustíveis, reprocessamento de combustíveis irradiados, depósitos de rejeitos etc.) implica importantes e custosos aparelhos policiais. Assim, países que optem pelas usinas nucleares em seus sistemas elétricos poderão ser forçados a adotar métodos próprios de Estados policiais.



É fundamental a necessidade de se discutir mais a questão energética. O debate de idéias e o confronto de interesses são instrumentos decisivos na formulação de uma estratégia energética sustentável e democrática. Daí a necessidade de ampliar os espaços de debate, hoje restritos aos gabinetes dos especialistas.



No caso da energia nuclear informações técnicas, econômicas, financeiras, de segurança, relatórios operativos, entre outros documentos são muitas vezes considerados sigilosos e não disponíveis publicamente. Esta fonte de energia acentua o caráter autoritário na condução da política energética no país.


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Heitor Scalambrini Costa, professor associado da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), graduado em Física pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP/SP), Mestrado em Ciências e Tecnologias Nucleares na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Doutorado em Energética, na Universidade de Marselha/Comissariado de Energia Atômica (CEA)-França.

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