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Fukushima - Crônica de um Desastre

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O autor destaca a ignorância das autoridades - políticas e científicas -, em relação às consequências e possíveis soluções para a central


O autor do livro "Fukushima - Crónica de um Desastre", que será apresentado na terça-feira em Lisboa, denuncia a imposição da energia nuclear no Japão, apesar do desconhecimento das consequências do acidente na central de Fukushima em 2011.

Michael Ferrier sublinha a atitude opaca "que rodeia, em todos os países do mundo, as fileiras da energia nuclear (...). Sucedem-se escândalos e protestos, e nada muda. Esta indústria (...) que se apresenta como luminosa e futurista está fundamentalmente ligada ao segredo e reproduz-se através do mutismo".

O autor destaca a ignorância das autoridades - políticas e científicas -, em relação às consequências e possíveis soluções para a central, comparando, em alguns pontos, Fukushima com o caso do acidente na central ucraniana Chernobil, em 1986.

"O meio mais seguro de escamotear a informação não é calá-la: é torná-la pública ao mesmo tempo que um milhar de outras. Na chuva desordenada dos boletins e dos comunicados, por entre uma gíria técnica nunca explicitada", afirma.

"Arrefecer os reatores? Não sabem como fazê-lo. Desembaraçarem-se da água radioativa? Não sabem como fazê-lo. Reparar? Nem falar disso é bom. O perigo das radiações? Ignorância completa. Contaminação alimentar? Logo se verá", diz.

Ferrier aponta que "o nuclear joga sempre com a imagem de uma indústria de ponta, suportada por uma tecnologia de alto nível (...) na realidade (...) o perfeito oposto: infraestruturas envelhecidas, mentalidade medieval (...) todos os meios falham e tornam a falhar, é o folhetim no interior do drama, há sempre novas fugas".

Escritor e investigador, Ferrier carateriza o acidente nuclear de Fukushima como uma "catástrofe continuada", e aplica o termo "semivida" - tecnicamente, um ciclo de desintegração dos materiais radioativos - à existência da população, reduzida a medidas de descontaminação.

"Descontamina-se um lugar, contaminando outro: é um círculo vicioso (...) aplica-se um dos princípios bases do nuclear: o problema dos detritos nunca se chega a resolver, é remetido para mais tarde", sublinha.

Michael Ferrier apresenta como exemplo a semivida de vários elementos, como a do césio 135 que é de três milhões de anos, o que se significa que metade da massa deste elemento se desintegra ao fim daquele período.

E lembra o sismo de 1755 em Lisboa e a máxima de Sebastião José de Carvalho e Melo, Marquês de Pombal: "Enterrar os mortos e cuidar dos vivos", para explicar que "isso não é possível em Fukushima".

"Os funerais são proibidos, porque os mortos de Fukushima são detritos nucleares", afirma.

Em "Fukushima - Crónica de um Desastre", o autor - prémio Édouard Glissant 2012 pelo conjunto da obra, embaixador intercultural da UNESCO - apresenta um relato cronológico dos eventos registados a 11 de março de 2011, começando pela descrição do sismo de magnitude 9 na escala de Richter e o consequente tsunami, que assolou a costa da região de Tohoku (nordeste da ilha de Honshu), e o acidente na central de Fukushima Daiichi.

Pelo menos 20.000 pessoas morreram ou desapareceram na catástrofe de 2011.
A apresentação da obra, editada em português pela Antígona e que conta com a presença do autor e do tradutor Miguel Serras Pereira, será seguida da exibição do filme "Le monde après Fukushima" (O mundo depois de Fukushima), de Kenichi Watanabe (2012), para o qual Michael Ferrier escreveu os comentários.

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