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Histórico do Acidente Radioativo com o Césio – 137

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Nota: A SULEIDE é um órgão do governo, logo todas as informações aqui contidas tem caracter oficial. NÃO NECESSARIAMENTE CORRESPONDEM INTEGRALMENTE A REALIDADE. O artigo a baixo não deve ser considerado como única fonte de informação.


RELATOS

Segundo o relato de pessoas diretamente envolvidas, a história do acidente radioativo com o Césio-137 (137Cs) teve início quando RSA, sem profissão definida, 21 anos, tomou conhecimento de que, na Avenida Paranaíba, Setor Central de Goiânia, uma peça contendo chumbo – metal de elevado valor financeiro – ainda permanecia instalada nas antigas dependências do Instituto Goiano de Radiologia – IGR – de propriedade de CFB, CCD e OAT.


Entre os dias 10 e 13 de setembro de 1987 – usando instrumentos simples e após várias tentativas no sentido de desmontar aquele equipamento anteriormente utilizado no tratamento do câncer – RSA e seu amigo WMP, motorista, 20 anos, conseguiram remover parte da peça em que estava embutida a fonte radioativa para em seguida, separarem-nas da carcaça. Na noite do dia 13, com o auxílio de um carrinho de mão, o conjunto de peças, pesando cerca de 200Kg foi transportado para a casa de RSA, situada à Rua 57, Setor Central de Goiânia.


Naquele mesmo dia, RSA e WMP começaram a apresentar sintomas de contaminação radioativa (tonteiras, náuseas e vômitos), porém, acreditaram serem eles provocados por excesso de ingestão de alimentos. No dia seguinte, WMP, teve seu quadro clínico agravado por diarréia enquanto um edema já se manifestava numa de suas mãos.


No dia 18, ao solicitar auxílio médico no Hospital São Lucas, localizado na Rua 04, centro, WMP teve seu mal-estar diagnosticado como sendo reação alérgica à ingestão de alimentos estragados e foi por isso aconselhado a permanecer em casa, pelo período de uma semana.


Durante os três dias seguintes à chegada da fonte radioativa em sua casa, RSA, sem se preocupar com o que estava acontecendo com WMP, trabalhou intermitentemente na remoção do revestimento de chumbo que protegia a cápsula de aço, dentro da qual se encontrava o 137Cs. No mesmo dia 18, com o auxílio de uma chave de fenda, RSA conseguiu remover um tampo de vidro espesso e pode, então obter uma parte do revestimento de chumbo, deixando de lado a cápsula em que estava o material radioativo.


No período vespertino do mesmo dia, DAF, 39 anos, proprietário e morador do Ferro Velho situado à Rua 26- A, Setor Aeroporto – local também utilizado para depósito da empresa COPEL (Cooperativa de Papel – que trabalhava com material reciclável), comprou de RSA a fonte radioativa. Por esta razão, o conjunto de chumbo, aço e 137Cs foi transportado para aquele estabelecimento em um carrinho de mão pelo funcionário de DAF, ESA, idade aproximada de 23 anos, juntamente com RSA e WMP. No final da noite, quando DAF passava pelo pátio do seu estabelecimento – local onde todas as peças foram depositadas -, ele percebeu, em meio à escuridão, um intenso brilho azul saído da cápsula de aço. Atraído pela beleza e magia da luminosidade, DAF teve a sensação de que possuía algo valioso ou, talvez até, sobrenatural.


Embevecido, resolveu transportar a cápsula para o interior de sua casa, colocando-a junto a uma parede da sala para melhor apreciar o que lhe parecia ser um fenômeno. Durante os dias 19, 20 e 21, vários vizinhos, parentes, amigos e conhecidos foram convidados a ver aquela peça como sendo uma curiosidade. Nesse período, DAF e sua esposa, MGF – dona de casa, 29 anos – examinaram de perto a fonte radioativa, indiferentes ao fato de, desde o dia 19, terem apresentado cefaléias e vômitos, sintomas iniciais da contaminação radioativa.


Como sempre fizeram em outras ocasiões, EBS e OAFJ – 13 e 12 anos, respectivamente – foram à casa de DAF, e lá brincaram durante cerca de três horas daquele domingo, dia 20, expondo-se à fonte radioativa.


Na manhã de segunda-feira, dia 21, DAF recebeu a visita de EdF – pintor de automóveis, 42 anos. Entusiasmado, ele mostrou ao amigo o pó que tinha conseguido extrair de dentro da cápsula com o auxílio de uma chave de fenda. Tratava-se de alguns fragmentos de 137Cs, todos eles semelhantes a grãos de arroz que, ao menor toque, se desfaziam em pó. O visitante, curioso com o que via, depositou uma pequena porção num dos bolsos da calça e levou para sua casa, situada à Rua 15-A, Setor Aeroporto. Mais tarde, ele ofereceu um pouco do que possuía a seu irmão, ErF, 47 anos, morador da Rua 17-A daquele mesmo Setor. ErF também carregou em um dos bolsos da calça as porções do presente.


Ainda neste mesmo dia, DAF, sentindo-se realizado pelo fato de possuir um pó de beleza inigualável, distribuiu mais algumas porções a outros de seus familiares. Por esta razão, houve vários casos de pessoas que, fascinadas pelo brilho do material radioativo, pintaram o próprio corpo com fragmentos do 137Cs, agindo como se fossem a um baile de carnaval. Resplandeciam, entre todos os agraciados, infinitos pontos brilhantes e multicoloridos.


Histórico do Acidente Radioativo com o Césio – 137 Entretanto, naquele dia 21, a saúde de MGF apresentou sinais de piora marcados por consecutivas diarréias. Procurando atendimento médico no Hospital São Lucas, ela recebeu o mesmo diagnóstico concedido a WMP: reação alérgica à ingestão de alimentos estragados. Sua mãe, MGA – dona de casa, 58 anos – ao saber que a filha não se sentia bem, saiu de Inhumas (cidade próxima à Goiânia) para oferecer-lhe cuidados. MGA permaneceu em Goiânia até o dia 23, data em que retornou ao seu município, levando consigo significativo grau de contaminação radioativa.


Durante os dias 22, 23 e 24, os empregados de DAF – IS, 18 anos e AS, 17 anos – manusearam os pedaços do revestimento da cápsula de Césio-137, na tentativa de remover o restante do chumbo. Quando este trabalho teve início, JNS, pintor de automóveis, 23 anos, ofereceu auxílio para, no dia seguinte, cortar a peça com uma tocha de óxido de acetileno. Depois disso, ele seguiu para sua casa, na Rua 57, Centro, e não mais se lembrou de cumprir o prometido.


No dia 23, WMP, que não apresentava melhoras em estado de saúde, foi internado no Hospital Santa Maria, localizado na Rua 05, Centro. Lá ele permaneceu até o dia 27, quando os efeitos da exposição radioativa na sua pele foram diagnosticados como sendo uma doença de pele. Por esta razão, providenciou-se a sua imediata transferência para o Hospital de Doenças Tropicais – HDT, localizado no Setor Parque das Laranjeiras, na periferia da cidade.


Anteriormente, no dia 24, IAF, 41 anos, morador e proprietário de Ferro Velho localizado na Rua 06 do Setor Norte Ferroviário, foi conhecer o pó de que todos falavam. Depois de ter sido prontamente presenteado pelo seu irmão DAF, IAF acondicionou tudo num dos bolsos da calça e foi mostrar a seus familiares aquele material de rara beleza. Chegando em casa, na hora do almoço, colocou os fragmentos do 137Cs sobre a mesa para que todos pudessem apreciá- los enquanto se alimentavam.


Sua filha caçula, LNF, 6 anos, manuseou o material radioativo por diversas vezes. Devido ao fato de estar se alimentando com as mãos, LNF acabou ingerindo pequenas porções de 137Cs. Os demais familiares – LuNF, seu irmão, 14 anos, e sua mãe LoNF, 37 anos -, bem como alguns amigos presentes no local – KSS, vigilante, 32 anos, LOMS, dona de casa, 29 anos e SPQ, 14 anos – também manusearam o material radioativo enquanto se alimentavam, porém, com menor freqüência. Assim, LNF foi atingida por maior grau de contaminação do que aquele que recaiu sobre os demais.


No dia 25, DAF resolveu vender o chumbo retirado da fonte radioativa. Procurou o senhor J, dono de um Ferro Velho no Setor Campinas, e ambos fecharam o negócio. MGF, sem o consentimento do marido, incluiu, em meio aos pedaços do chumbo vendido, a cápsula de aço inoxidável que guardava aquele pó estranho e que tanto receio lhe causava. Por esta razão, a peça contendo o 137Cs, apesar de não ter sido negociada, acabou sendo transportada para o estabelecimento do senhor J.


Na manhã daquele mesmo dia, KSS, empregado de IAF, convidara seu amigo L, catador de papel, 19 anos, para juntos, irem ao IGR buscar outras peças. No referido local, os dois, depois de solicitarem auxílio a um desconhecido, puderam remover a carcaça da unidade de terapia, dias antes violada por RSA e WMP.


Feito isso, levaram a peça até o Ferro Velho de IAF onde decidiram colocá-lo sobre uma balança, o que só foi possível com o auxílio de um guincho cedido pela firma COPEL. Ao final desta operação, a balança se quebrou por não suportar tão grande peso.


Um número significativo de pessoas já se apresentava fisicamente doente no dia 28. Naquelas circunstâncias, eram grandes as suspeitas de MGF sobre a possibilidade de ser aquele pó brilhante o causador de tudo. Ela decidiu, então, ir, juntamente com GGS, 31 anos, ao Ferro Velho do senhor J, para recolher a cápsula do 137Cs e poder comprovar as suas suspeitas.


Chegando lá, colocaram-na num saco de plástico e, depois de tomarem um ônibus coletivo, seguiram rumo a Vigilância Sanitária, então localizada na Rua 16-A, Setor Aeroporto. Ao descerem do ônibus, GGS colocou o embrulho sobre os ombros e desta forma o transportou até aquele local.

No interior do prédio da Vigilância Sanitária, após o pacote ser colocado sobre a escrivaninha do veterinário PRM, 39 anos, MGF, de forma dramática, disse-lhe que aquele pó, como se fosse uma praga, estava matando a sua gente. PM deixou o embrulho, por algum tempo, sobre a escrivaninha. Mas, assustado com as expressões de MGF, removeu o pacote para o pátio de Vigilância Sanitária, colocando-o sobre uma cadeira junto ao muro. Ali a fonte radioativa permaneceu durante um dia.


Após saírem dali, MGF e GGS foram ao Hospital São Lucas e ao Centro de Saúde Juarez Barbosa, ambos na Rua 04, Centro. Lá receberam novo diagnóstico do seu quadro clínico: doença tropical. Por isso, não só eles, como Histórico do Acidente Radioativo com o Césio – 137 também outras 10 pessoas contaminadas pelo 137Cs – e que eram portadores de sinais e sintomas semelhantes – foram depois encaminhados para o HDT.


Ainda no dia 28, os doutores R e PCB médicos do HDT, começaram a suspeitar de que as lesões de pele apresentadas pelos pacientes recém-chegados teriam como causa uma contaminação radioativa. Temendo ser verdadeira esta possibilidade, eles providenciaram um contato com o toxicologista AM, Superintendente do Centro de Informações Toxicológica do HDT.


Antes que este contato se efetuasse, PRM, da Vigilância Sanitária, informou a AM sobre um pacote com material suspeito que lhe fora entregue por duas pessoas. Naquela ocasião, PM ainda mencionou suas suspeitas de que aquela peça seria parte de um equipamento de Raios X.


Após submeterem a novos exames os pacientes instalados na enfermaria do HDT, os médicos R e AM constataram que o problema era grave e exigia investigações para que se chegasse à sua origem. De pleno acordo, ambos solicitaram o parecer do biomédico JP, 30 anos, pertencente ao quadro da Secretaria Estadual de Meio Ambiente.


Analisando cautelosamente os fatos, JP propôs que se solicitasse o exame do conteúdo do pacote ao físico WMF, 29 anos, que se encontrava de férias em Goiânia e detinha conhecimentos sobre radiação.


Às 08:00 horas da manhã seguinte (29 de setembro), após receber um telefonema de JP, WMF dirigiu-se imediatamente ao escritório da Nuclebrás – Empresas Nucleares Brasileiras S/A-, instalado em Goiânia. Lá ele conseguiu o empréstimo de um monitor de taxa de dose normalmente usado em medições geológicas e que respondia rapidamente a estímulos, apresentando o amplo alcance de 0,02 μGy N-1.


No trajeto, a uma distância média do prédio da Vigilância Sanitária, WMF ligou o monitor. Instantaneamente, o aparelho acusou um elevado grau de contaminação radioativa independente da direção para onde estivesse apontando. Incrédulo diante de tal resultado, WMF retornou ao escritório da Nuclebrás e substituiu o aparelho, suspeitando de que o mesmo estivesse com defeito.


Por volta das 10:00 horas, o físico dirigiu-se novamente à Vigilância Sanitária, usando outro monitor de igual alcance. O mesmo fato se repetiu e WMF finalmente se convenceu de que havia por ali uma potente fonte de radiação. Nesse ínterim, o veterinário PRM, extremamente preocupado com o material existente dentro do saco plástico, ligou para o Corpo de Bombeiros exigindo providências.


Atendendo àquele chamado, alguns bombeiros acabaram sendo também atingidos pela radiação. Dentre eles estavam MCS, 26 anos, ADR, 33, e AWJ, 24, os quais, expondo-se ao conteúdo do embrulho, sofreram contaminação. Chegando ali, WMF pode impedir que colocassem em prática uma solução que seria por eles adotada: jogar a cápsula de 137Cs num rio próximo à cidade.


Após uma rápida análise do material, WMF convenceu todos os presentes a deixarem o local. Em seguida, o Corpo de Bombeiros e a Polícia Militar isolaram o prédio da Vigilância Sanitária, impedindo o acesso de qualquer pessoa às suas dependências.


Quando já se aproximava do meio-dia, PRM relatou a WMF a procedência da fonte radioativa. Imediatamente, ambos se dirigiram ao Ferro Velho de DAF onde constataram graus de radiação superiores aos comportados pela escala do monitor de que dispunham.


Com certa dificuldade, conseguiram convencer DAF, sua família e alguns vizinhos a deixarem a área, informando-lhes que, se permanecessem ali, correriam risco de vida. Em seguida, o local foi isolado pela Polícia Militar mediante solicitação de WMF, PRM e AM.


Saindo dali, WMF foi à Secretaria de Saúde do Estado de Goiás com o propósito de comunicar o fato às autoridades, relatando-lhes o acidente, o significado que ele possuía e, é claro, solicitando-lhes maior assistência. Porém, como que incrédulos diante do que lhes era exposto pelo físico, os funcionários daquele órgão não entenderam a necessidade de uma resposta imediata ao que se passava. Levados pela insistência de WMF, permitiram-lhe falar diretamente com o Secretário de Saúde, médico AFF.


O Senhor Secretário, ao ser informado sobre o ocorrido, prontamente entrou em contato telefônico com JR, Diretor do Departamento de Instalações Nucleares da CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear), transmitindo-lhe Histórico do Acidente Radioativo com o Césio – 137 as primeiras informações sobre o acidente radioativo de Goiânia. Da mesma forma o Secretário procedeu em relação ao Coordenador para Emergências Nucleares daquela instituição.


Ciente das reais dimensões do fato, aquele grupo – que primeiramente identificou o acidente radioativo – não tardou em adotar medidas durante o período compreendido entre as 16:00 e 22:00 horas do dia 29 de setembro de 1987. Logo de início o HDT foi informado de que aquelas 10 pessoas ali internadas estavam contaminadas e sofriam efeitos de exposição radioativa. Portanto, todas elas deveriam ser isoladas. Paralelamente a isso, providenciou-se o alerta aos vários segmentos da Defesa Civil, bem como os reexames dos até então conhecidos focos de contaminação (o Ferro Velho de DAF e a Vigilância Sanitária).


O Estádio Olímpico, localizado no centro da cidade, foi o espaço escolhido para o monitoramento das vítimas, segundo o esquema de recepção planejado pela Secretaria de Saúde. A partir daí, os meios de comunicação começaram a noticiar o acidente, dando ênfase a este evento de repercussão mundial. Em meio às reações de medo, várias pessoas se dirigiram ao Estádio para serem monitoradas. Teve assim início a formação de um contingente representado por 112 mil pessoas que foram examinadas durante os dois últimos dias de setembro e ao longo de todo mês de outubro daquele ano.


Um dos últimos eventos do dia 29 de setembro ocorreu por volta das 22:00 horas, quando JNS – que antes se oferecera para cortar o revestimento de chumbo com uma tocha de óxido de acetileno – encontrou-se com WMF ao ser monitorado no Estádio Olímpico. JNS contou-lhe como a fonte radioativa havia sido quebrada, onde as partes estavam depositadas e o que fizera com a carcaça. Este fato impediu que o acidente alcançasse maiores proporções. Tais informações foram utilizadas a partir do dia 30, data em que um grupo de técnicos da CNEN recém chegado à Goiânia, passou a identificar, com o auxílio de monitores, alguns dos outros locais altamente contaminados.


Durante aquela noite e todo o dia seguinte, procedeu-se a descontaminação inicial (banho com água, sabão e vinagre) de 249 pessoas que foram cadastradas por apresentarem diversos graus de contaminação. Dentre estas, identificaram-se 22 pessoas que tinham sido altamente expostas. Estas foram imediatamente isoladas, sendo 11 delas enviadas ao HDT. Nesta noite, médicos do HDT e da Comissão Nacional de Energia Nuclear examinaram cerca de outras 90 pessoas contaminadas.


As 22 pessoas identificadas como altamente contaminadas foram posteriormente encaminhadas para o Hospital Geral de Goiânia – HGG. As demais permaneceram reunidas no Estádio Olímpico e foram isoladas com auxílio de biombos improvisados, e agrupadas segundo o grau de contaminação, os sintomas clínicos e os grupos familiares. Cerca de 120 pessoas foram ali mesmo descontaminadas e em seguida, liberadas. Assim sendo, 129 pessoas constituíam o grupo que, a partir de então, passou a receber acompanhamento médico regular.


Dentre estas 129 pessoas, encontravam-se 79 com contaminação externa (recebendo, portanto, tratamento ambulatorial), e outras 14 que, por terem seu quadro clínico agravado, foram posteriormente removidas do HGG para o Hospital Naval Marcílio Dias, no Rio de Janeiro. Deste grupo faziam parte as quatro vítimas fatais do acidente radioativo com 137Cs. Outras 36, que também apresentavam contaminação interna, permaneceram semi-isoladas em Goiânia, recebendo acompanhamento médico, psicológico e social. Trinta delas foram alojadas no Albergue Bom Samaritano e nas instalações locais da FEBEM (Fundação Estadual do Bem Estar do Menor). As seis pessoas restantes continuaram internadas no HGG, sendo que a elas se somaram as outras 10 que retornaram do Rio de Janeiro.


Estes são os principais acontecimentos relacionados ao acidente radioativo de Goiânia. Dele surgiram resultados marcantes, dentre os quais a criação da Fundação Leide das Neves Ferreira, entidade destinada a criar bases onde poderão se assentar algumas soluções para um problema de reconhecida magnitude biopsicossocial – o que a torna uma referência para toda humanidade.



FONTE: http://www.sgc.goias.gov.br/upload/links/arq_257_histacidrelatos.pdf

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A ATUAÇÃO DOS MÉDICOS DURANTE A FASE DE EMERGÊNCIA

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O ACIDENTE RADIOATIVO DE GOIÂNIA II



Nota: A SULEIDE é um órgão do governo, logo todas as informações aqui contidas tem caracter oficial. NÃO NECESSARIAMENTE CORRESPONDEM INTEGRALMENTE A REALIDADE. O artigo a baixo não deve ser considerado como única fonte de informação.


A ATUAÇÃO DOS MÉDICOS DURANTE A FASE DE EMERGÊNCIA

Notificado o acidente, a equipe médica foi imediatamente acionada para compor a Operação Césio-137. Inicialmente, foram chamados os profissionais pertencentes aos quadros dos organismos que controlam o uso de material radioativo no País (CNEN – Comissão Nacional de Energia Nuclear, NUCLEBRÁS – Empresas Nucleares Brasileiras S / A, FURNAS – Furnas Centrais Elétricas S / A, entre outros), bem como os profissionais da Secretaria de Saúde do Estado de Goiás. Coube à equipe médica, auxiliada por funcionários do setor de Proteção Radiológica dos mencionados órgãos oficiais, o trabalho de orientação e triagem, internação hospitalar, transferência e pesquisa. O desafio estava lançado.


O trabalho da equipe médica teve início com a identificação de locais e pessoas acidentadas, obedecendo às seguintes etapas:


  1. Primeiros Socorros nos Focos de Contaminação – procedeu-se à localização de áreas e de pessoas contaminadas onde houvesse parte do material radioativo. Ali, nos focos, foram feitas as primeiras medicações e foi providenciado o isolamento das áreas atingidas. A partir daí, as pessoas eram encaminhadas para o Estádio Olímpico;

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  1. Monitoração, Triagem, Descontaminação e Encaminhamento – no Estádio Olímpico, foram monitoradas 112.800 pessoas, com os seguintes objetivos: identificar e confirmar a presença de contaminação; adotar as primeiras medidas de descontaminação, bem como de retirada dos bens pessoais contaminados (roupas, sapatos, etc.); e encaminhar o paciente, quando necessário, para os hospitais;

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  1. Internação – no Hospital Geral de Goiânia, os pacientes eram avaliados de acordo com a severidade dos seus graus de contaminação e/ou das suas radiolesões. Obteve-se ali a história clínica daquelas pessoas para que fosse avaliado o grau de envolvimento que cada um tivera com o elemento radioativo. Exames laboratoriais foram feitos para a contagem hematológica, bem como a monitoração externa, visando determinar a presença de possível contaminação externa e/ou interna. Para o Hospital Naval Marcílio Dias – unidade de apoio para acidentes radioativos - pertencente à Marinha Brasileira - e localizado no Rio de Janeiro, foram encaminhados 14 pacientes do acidente de Goiânia.


Essas transferências obedeceram aos seguintes critérios:

  • comprometimento hematológico (baseado em exame laboratorial do sangue periférico);
  • severidade de radiodermites (eritema, bolhas, formação e aparecimento de úlceras, bem como necrose tecidual);
  • intensidade de contaminação interna e de contaminação externa, ambas baseadas na historia do contato, no resultado da monitoração de corpo interno e na dosimetria citogenetica.


O Centro de Emergências em Radiação do Hospital Marcílio Dias foi fundamental para a recuperação e o tratamento das vítimas – processo impossível de se realizar em Goiânia, já que a cidade que não dispõe de tal unidade especializada ou de recursos técnicos e humanos especializados em Medicina das Radiações. Infelizmente, dentre os 14 pacientes transferidos, 04 óbitos ocorreram, a despeito da colaboração de importantes personalidades da área médica internacional, que também haviam colaborado no acidente de Chernobyl (URSS). Em âmbito internacional, foram mobilizados esforços junto aos organismos que atuam na área de Saúde e Energia Nuclear, cabendo ressaltar as seguintes entidades: AIEA, OMS, OAK RIDGE

UNIVERSITY .


O tratamento oferecido às vítimas baseou-se nas normas internacionais de descontaminação, isolamento e terapêutica. Assim, após a triagem e o encaminhamento do paciente, iniciava-se o

tratamento médico.


As técnicas de descontaminação utilizadas foram:

  • banhos mornos com sabão neutro; uso de ácido acético para tornar a substância radioativa solúvel e facilitar sua remoção;
  • aplicação de dióxido de titânio associado à lanolina, em locais onde havia maior quantidade de material radioativo (palma das mãos e planta dos pés);
  • uso de métodos abrasivos para descontaminação de pele, (pedra-pomes, buchas de nylon, etc.), aplicação de resinas de trocas iônicas que eram colocadas em luvas e botas plásticas para descontaminação de mãos e pés.


O isolamento no Hospital Geral de Goiânia, dos pacientes contaminados, obedeceu a critérios recomendados pela proteção radiológica e consistia na divisão de um andar do Hospital em três diferentes áreas. Especial atenção foi dada à área considerada “fria”, onde se situava a estrutura da Proteção Radiológica com o contador de corpo inteiro, as salas de reunião, o local para a troca de roupa dos médicos, paramédicos, físicos da Proteção Radiológica e de apoio (limpeza, laboratório, secretaria e administração). Uma barreira definia o limite da área “crítica” (local onde se encontravam os quartos dos pacientes, o posto de enfermagem, os sanitários dos pacientes, a sala de exercícios e a sala de lazer). Todos os materiais, inclusive as vestimentas, que atravessassem a área eram monitorizados.


ASSISTÊNCIA MÉDICA AOS RADIOACIDENTADOS

Diariamente, eram efetuadas medidas de descontaminação naquela área considerada crítica. Um filtro de ar funcionava ininterruptamente para que se soubesse o grau de contaminação do ar. Se, durante as medições, alguma área se apresentasse com alto grau de contaminação, imediatamente a equipe da Proteção Radiológica procedia a descontaminação com material abrasivo. A área era liberada só após tal procedimento. Medidas de segurança também eram efetuadas em outras áreas do Hospital (laboratório, lavanderia e salas de cirurgia) para a detecção de contaminação residual. Os dejetos dos pacientes eram coletados em frascos plásticos e analisados rotineiramente em laboratório de Radioquímica, no Rio de Janeiro. Este procedimento proporcionava uma idéia das medidas terapêuticas necessárias a descontaminação interna. Rejeitos foram estocados em tonéis de aço e considerados lixo radioativo.


As medidas terapêuticas adotadas tinham por objetivo a eliminação do material radioativo e evitar conseqüências piores. Além dos métodos de descontaminação já citados, lançou-se mão de outros recursos, tais como exercícios físicos e banhos de sol. O uso de medicamentos destinados a acelerar a eliminação do 137Cs foi satisfatório, pois houve a diminuição da contaminação verificada no contador de corpo inteiro, bem como para a avaliação da quantidade de material radioativo eliminado pelas excretas (urina e fezes).


Durante a terapêutica, utilizou-se o ferrocianeto férrico, também conhecido como “Azul da Prússia” em doses que variavam de 1,5 g a 20g, sendo que efeitos colaterais foram observados em vários pacientes (constipação, episgastralgia e dores musculares). Como, no organismo, o comportamento do 137Cs é similar ao do potássio (K), outra tentativa de removê-lo foi feita utilizando-se diuréticos. Esse procedimento não foi determinado somente pela capacidade que o diurético tem de eliminar metais alcalinos (K, Cs), mas também pelo controle que tal droga poderia dar à hipertensão verificada em vários pacientes. Assim sendo, utilizou-se Furosemida (40 mg / dia) e Hidroclorotiazida (50 a 100 mg / dia). Concomitantemente ao uso de tais drogas, logrou-se tentar a remoção do 137Cs mediante a hidratação forçada. Cada paciente ingeria, aproximadamente, 3.000 ml de líquido/dia, entre água e sucos de frutas ricas em potássio. O uso de antibióticos de amplo espectro, bem como de fungicidas obedeceu à indicação recomendada para cada caso. A utilização de métodos cirúrgicos para remoção de áreas desvitalizadas esteve sujeita à estrita prescrição médica, obedecendo-se critérios de risco / benefício para o paciente.


Superada a fase crítica do acidente com o 137Cs, era necessário que o trabalho de mobilização destes vários profissionais continuasse e oferecesse respostas às questões geradas na incerteza quanto à extensão das conseqüências do acidente. Criou-se, então, a Fundação Leide das Neves Ferreira (FUNLEIDE) em fevereiro de 1988, que foi substituída pela Superintendência Leide das Neves Ferreira (SULEIDE) em 1999. Estão em permanente atuação os funcionários de diversas áreas (Medicina, Enfermagem, Psicologia, Odontologia e Assistência Social) que produzem também estudos e pesquisas sobre o acidente e seus efeitos.


O registro dos fatos gerados pelo acidente visa subsidiar o acompanhamento das vítimas e das pesquisas empreendidas por seus técnicos ou por demais integrantes da comunidade científica, sendo também úteis ao esclarecimento da população em geral. O Departamento Médico da FUNLEIDE criou protocolos de atendimento aos seus pacientes, em conformidade com as várias áreas da Medicina (clínica médica, cirurgia, ginecologia e obstetrícia, oftalmologia e pediatria). Os pacientes foram divididos em grupos segundo o comprometimento orgânico e, para cada grupo, foram estabelecidos protocolos de atendimento especifico (adulto e pediátrico).


Atualmente, as consultas são realizadas em consultórios médicos estabelecidos na SULEIDE, no HGG e por profissionais credenciados ao IPASGO – Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado de Goiás. Exames complementares são realizados em clínicas e laboratórios conveniados, localizados em Goiânia. Quando a rede de saúde da cidade não dispõe de recursos técnicos necessários, faz-se o deslocamento do paciente até outros centros especializados. Havendo necessidade, um profissional da área de saúde acompanha o paciente.


O trabalho da equipe não se restringe a consultas médicas. Estende-se a tratamento odontológico, psicológico, assistência social (visitas domiciliares; acompanhamento durante exames complementares e internações hospitalares em Goiânia e fora de domicilio), enfermagem, além das atividades de monitoramento dos efeitos da exposição ao 137Cs.


Em função do acompanhamento médico, ao longo dos últimos anos, a avaliação clínica e laboratorial dos radioacidentados de Goiânia indica o seguinte quadro geral:

- Entre homens adultos: hipertensão arterial, epigastralgia, leucopenia, doenças sexualmente transmissíveis, alterações psiquiátricas e verminoses.

- Entre mulheres adultas: além dos mesmos quadros verificados entre homens adultos, constatam-se a displasia mamária e leucorréia. Não foram encontradas alterações hormonais neste grupo.

- Entre crianças: graus variados de anemia que foram tratadas clinicamente - os recém nascidos após o acidente foram normais.

- Radiodermites: algumas amputações; vários debridamentos cirúrgicos e enxertos de pele em lesões ainda não tratadas em lesões que recidivaram ate o momento, as recidivas em mão persistem em alguns pacientes, sendo necessários cuidados especiais e curativos locais.


GLOSSÁRIO

Recidiva - volta, repetição, reaparecimento de doenças, em regra de infecção, depois de ter o paciente dela convalescido.

Hipertensão - o mesmo que hiperpiese. Pressão sangüínea superior à normal.

Displasia - desenvolvimento anômalo. Hetroplasia ( intromissão de epitélio diverso na continuidade de outro).

Anemia - síndrome que se caracteriza pela diminuição do número das hemáceas, ou pela baixa concentração de hemoglobina.

Enxerto - adaptação de pele ou de outro tecido em uma superfície. Necrose - falta de nutrição do tecido.

Célula - unidade estrutural básica dos seres vivos.

Leucopenia - diminuição do número de leucócitos no sangue.

Leucócitos - glóbulos brancos no sangue.

Leucorréia – corrimento branco ou branco-amarelado ou esverdeado ou sanguinolento, da vagina ou do útero.

Despigmentação - ausência de melanina.

Hiperpigmentação - excesso de melanina.

Pigmentação - formação e acumulação, normal ou patológica do pigmento em certos pontos do organismo animal ou vegetal. Coloração produzida por um pigmento (nos seres humanos, a melanina).

Pigmento - cor (da pele, p.ex.).

Hiperemia – aumento de circulação do sangue em qualquer parte do corpo.

Mutações - variação resultante de alguma alteração do gene, com aparecimento de uma variedade nova em qualquer espécie viva.

Epigastralgia - dor no epigástrio, dor no estômago.

Contaminação interna - contaminação da parte interna do corpo, pela incorporação de substâncias radioativas por ingestão, inalação ou penetração através da pele ou ferimentos.

Contaminação externa - contaminação da pele de um indivíduo.



SUPERINTENDÊNCIA LEIDE DAS NEVES FERREIRA

Rua 16-A n° 792 Setor Aeroporto

Goiânia. Goiás. Brasil.

CEP: 74075-150.

Fones: (062) XX 3201 4220




FONTE: http://www.sgc.goias.gov.br/upload/links/arq_108_nocoesderaidoprotecao.pdf


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PARA ENTENDER A RADIOATIVIDADE

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O ACIDENTE RADIOATIVO DE GOIÂNIA

Nota: A SULEIDE é um órgão do governo, logo todas as informações aqui contidas tem caracter oficial. NÃO NECESSARIAMENTE CORRESPONDEM INTEGRALMENTE A REALIDADE. O artigo a baixo não deve ser considerado como única fonte de informação.

Veja também ->  AUTOPSIA 

PARA ENTENDER A RADIOATIVIDADE 

A matéria é formada por átomos, que podem agregar-se em moléculas. Os átomos constituem-se basicamente de elétrons, prótons e nêutrons. Prótons e nêutrons (dito “número de massa”) formam o núcleo do átomo, ao redor do qual orbitam os elétrons. “Número atômico” de um átomo corresponde à quantidade de prótons ou de elétrons, que é a mesma. Então, a diferença entre número de massa e número atômico corresponde ao número de nêutrons do átomo.

Um mesmo elemento pode ter núcleos com massas diferentes, e a diferença encontra-se no número de nêutrons. As várias formas de um elemento cujos núcleos contêm números diferentes de nêutrons são conhecidas como “isótopos”. Alguns isótopos existem naturalmente, outros foram criados artificialmente. Alguns são estáveis, outros são instáveis, isto é, se desintegram espontaneamente para formar outras combinações de prótons e nêutrons.

Os isótopos instáveis (ou radioativos) são também chamados radioisótopos ou radionuclídeos. Na natureza, encontramos vários radionuclídeos: 14C, 3H, 235U, 40K, etc. Outros são produzidos intencionalmente em laboratórios. O Césio-137 (137Cs) é um isótopo radioativo, proveniente da fissão do urânio ou do plutônio, que se desintegra formando o Bário-137. Os elementos radioativos possuem um excesso de massa, de energia, ou de ambos.

Quando eles se livram desse excesso, partículas e/ou energia são emitidas sob a forma de “radiação”. Radiação é energia que se difunde de uma fonte e que se propaga de um ponto a outro. Algumas são bastante conhecidas: calor, luz, ondas de rádio e TV, etc. Se a radiação possuir energia suficiente para arrancar elétrons orbitais de outro átomo qualquer, criando os pares iônicos, dizemos que a radiação é “ionizante”. O 137Cs produz radiação ionizante.

Foi a partir do século XIX que se denominou “radioatividade” a forma de energia penetrante emitida por elementos radioativos que se propagam de um ponto a outro através de partículas (com ou sem carga elétrica) ou através de ondas eletromagnéticas. Todo material radioativo perde sua energia com o passar do tempo. Essa busca de maior estabilidade energética constitui o “decaimento radioativo”, e a porcentagem de átomos que se desintegram por unidade de tempo é constante. Portanto, após um período de tempo que varia segundo o elemento em questão, o número de núcleos residuais (que ainda não se desintegraram) cai à metade. È esse período que se chama “meia vida” de um elemento radioativo. As meias-vidas dos radioisótopos variam de segundos até alguns bilhões de anos:
16N - 7,5 segundos
24Na - 15 horas
58Co - 71 dias
238U - 4,5 bilhões de anos (USADO NA BOMBA ATÔMICA)
138Cs - 32 minutos
137Cs - 33 anos

São vários os tipos de radiação ionizante. As partículas mais importantes são: alfa (α), beta (β), gama(γ) e raios X. As partículas alfa (α), de massa maior e velocidade menor conseguem penetrar alguns milímetros na pele humana. Uma simples folha de papel poderá blindá-las. Já as partículas beta (β) tem massa menor e velocidade maior, sendo mais penetrantes e possuindo um alcance maior. Para blindá-las, pode-se usar uma placa de alumínio de poucos milímetros.

Mais penetrantes que estas duas são as partículas gama (γ) e os raios X, sendo que todas as quatro provocam reações nocivas para o organismo humano tanto interna quanto externamente, no entanto, uma partícula alfa (α) provoca um dano biológico 25 vezes maior que um “fóton” de Raios X para uma mesma dose absorvida se ela for emitida no interior do corpo.

O 137Cs emite partículas beta (β) e gama (γ), sendo esta última de elevada energia e muito penetrante. Caso este elemento seja ingerido ou inalado, os seus raios beta (β) provocam uma contaminação interna com dano biológico considerável, proporcional à quantidade absorvida.

Verificada esta contaminação, torna-se necessária a ingestão de medicamentos que captem o 137Cs e provoquem a sua rápida eliminação por meio das excretas (suor, urina e fezes).
É bom lembrar que as pessoas não estarão contaminadas por terem sido irradiadas, pois a contaminação interna e/ou externa depende do contato direto com o elemento radioativo e não apenas da exposição externa. No entanto, todas as pessoas contaminadas terão sido irradiadas.

Ao ser contaminado e/ou exposto a altas doses, o individuo manifestará a chamada “Síndrome Aguda da Radiação” - SAR - que se caracteriza por sintomas gastrointestinais (náuseas e vômitos); queda de cabelos; sintomas neurológicos; distúrbios do comportamento; alterações hematológicas (anemia e depressão medular) e “radiolesões”.

As radiolesões ou radiodermites surgem em caso de contaminação externa ou exposição superficial excessiva: é o efeito da absorção de energia das radiações pelas moléculas do organismo, semelhante a queimaduras, apresentando quadro de hiperemia, formação bolhosa, áreas de despigmentação e hiperpigmentação e, por último, necrose.

A radiodermite apresenta três estágios:

A) Estágio físico, no qual ocorrem interações entre a radiação e a matéria viva, acarretando o aparecimento de átomos e moléculas excitadas e ionizadas. Essa fase tem duração muito curta (da ordem de 10 - 17 segundos) e os produtos nela formados são altamente reativos;

B) Estágio químico, caracterizado pela reação dos produtos surgidos durante o estágio anterior, ou por reações desses produtos com moléculas vizinhas, o que conduz a formação de produtos secundários. A duração desse estágio é variável (de frações de segundos a várias horas);

C) Estágio biológico, no qual as reações químicas, resultantes das fases anteriores, podem afetar processos fundamentais para o sistema biológico, modificando certas funções e bloqueando outras. É nesse período, cuja duração varia de algumas horas até anos, que ocorrem a morte celular, o aparecimento de mutações e as recidivas locais.


Dependendo da intensidade de penetração das partículas, as radiodermites poderão ser superficiais ou profundas. Caso sejam superficiais, elas provocarão apenas alterações nas camadas superficiais da pele, com resolução imediata. Já as radiodermites profundas normalmente atingem a derme, o tecido celular subcutâneo, músculos, vasos sanguíneos e nervos. Suas características são peculiares. Através de exames anatomopatológicos, percebem-se degenerações na rede vascular, onde ocorre, principalmente, esclerose vascular hialina. Neste aspecto, as radiodermites diferem substancialmente das queimaduras: a oxigenação permanece prejudicada, sem o auxilio da circulação colateral. Apesar da baixa oxigenação algumas radiodermites cicatrizam. No entanto, há casos em que o tecido cicatricial continua a sofrer o processo de esclerose vascular, ocorrendo alterações inflamatórias inespecíficas e degeneração hialina próprias de lesões recidivantes. Levando-se em conta a localização da fonte, são dois os tipos de radiodermites: direta e indireta.
- As “diretas” surgem após a absorção de energia pelas biomoléculas;
- As “indiretas”, após a absorção de energia pelo meio.

Neste ultimo caso, uma pessoa vitimada por elevada contaminação interna pode vir a contaminar outras pessoas com as quais tenha contato.

No caso do acidente radioativo de Goiânia, 28 pessoas apresentaram radiodermites superficiais e profundas, 08 delas com Síndrome Aguda da Radiação, das quais 04 foram a óbito.

As demais fazem parte dos 118 pacientes acompanhados pelas equipes da Fundação Leide das Neves Ferreira, atualmente Superintendência Leide das Neves Ferreira (SULEIDE), instituição que executa o monitoramento epidemiológico e estudos sobre a exposição ao 137Cs, e que presta assistência social, odontológica, psicológica e médica aos radioacidentados de Goiânia.

Dentre os pacientes com radiodermites assistidos pela SULEIDE, percebe-se que os casos da “recidiva” se verificaram com maior freqüência em extremidades (mãos e pés), onde a microcirculação terminal dificulta o aparecimento da circulação colateral. Isto também explica as dificuldades em conseguir bons resultados nos casos de enxertia já executadas entre estes pacientes.

Acidentes envolvendo o 137Cs podem ocorrer nas áreas de indústria, medicina ou pesquisa, mas são raros. Daí a importância que assume o ocorrido em Goiânia, fato agravado por ter envolvido um grande número de pessoas e atingido área de extensão significativa.



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