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A ATUAÇÃO DOS MÉDICOS DURANTE A FASE DE EMERGÊNCIA

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O ACIDENTE RADIOATIVO DE GOIÂNIA II



Nota: A SULEIDE é um órgão do governo, logo todas as informações aqui contidas tem caracter oficial. NÃO NECESSARIAMENTE CORRESPONDEM INTEGRALMENTE A REALIDADE. O artigo a baixo não deve ser considerado como única fonte de informação.


A ATUAÇÃO DOS MÉDICOS DURANTE A FASE DE EMERGÊNCIA

Notificado o acidente, a equipe médica foi imediatamente acionada para compor a Operação Césio-137. Inicialmente, foram chamados os profissionais pertencentes aos quadros dos organismos que controlam o uso de material radioativo no País (CNEN – Comissão Nacional de Energia Nuclear, NUCLEBRÁS – Empresas Nucleares Brasileiras S / A, FURNAS – Furnas Centrais Elétricas S / A, entre outros), bem como os profissionais da Secretaria de Saúde do Estado de Goiás. Coube à equipe médica, auxiliada por funcionários do setor de Proteção Radiológica dos mencionados órgãos oficiais, o trabalho de orientação e triagem, internação hospitalar, transferência e pesquisa. O desafio estava lançado.


O trabalho da equipe médica teve início com a identificação de locais e pessoas acidentadas, obedecendo às seguintes etapas:


  1. Primeiros Socorros nos Focos de Contaminação – procedeu-se à localização de áreas e de pessoas contaminadas onde houvesse parte do material radioativo. Ali, nos focos, foram feitas as primeiras medicações e foi providenciado o isolamento das áreas atingidas. A partir daí, as pessoas eram encaminhadas para o Estádio Olímpico;

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  1. Monitoração, Triagem, Descontaminação e Encaminhamento – no Estádio Olímpico, foram monitoradas 112.800 pessoas, com os seguintes objetivos: identificar e confirmar a presença de contaminação; adotar as primeiras medidas de descontaminação, bem como de retirada dos bens pessoais contaminados (roupas, sapatos, etc.); e encaminhar o paciente, quando necessário, para os hospitais;

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  1. Internação – no Hospital Geral de Goiânia, os pacientes eram avaliados de acordo com a severidade dos seus graus de contaminação e/ou das suas radiolesões. Obteve-se ali a história clínica daquelas pessoas para que fosse avaliado o grau de envolvimento que cada um tivera com o elemento radioativo. Exames laboratoriais foram feitos para a contagem hematológica, bem como a monitoração externa, visando determinar a presença de possível contaminação externa e/ou interna. Para o Hospital Naval Marcílio Dias – unidade de apoio para acidentes radioativos - pertencente à Marinha Brasileira - e localizado no Rio de Janeiro, foram encaminhados 14 pacientes do acidente de Goiânia.


Essas transferências obedeceram aos seguintes critérios:

  • comprometimento hematológico (baseado em exame laboratorial do sangue periférico);
  • severidade de radiodermites (eritema, bolhas, formação e aparecimento de úlceras, bem como necrose tecidual);
  • intensidade de contaminação interna e de contaminação externa, ambas baseadas na historia do contato, no resultado da monitoração de corpo interno e na dosimetria citogenetica.


O Centro de Emergências em Radiação do Hospital Marcílio Dias foi fundamental para a recuperação e o tratamento das vítimas – processo impossível de se realizar em Goiânia, já que a cidade que não dispõe de tal unidade especializada ou de recursos técnicos e humanos especializados em Medicina das Radiações. Infelizmente, dentre os 14 pacientes transferidos, 04 óbitos ocorreram, a despeito da colaboração de importantes personalidades da área médica internacional, que também haviam colaborado no acidente de Chernobyl (URSS). Em âmbito internacional, foram mobilizados esforços junto aos organismos que atuam na área de Saúde e Energia Nuclear, cabendo ressaltar as seguintes entidades: AIEA, OMS, OAK RIDGE

UNIVERSITY .


O tratamento oferecido às vítimas baseou-se nas normas internacionais de descontaminação, isolamento e terapêutica. Assim, após a triagem e o encaminhamento do paciente, iniciava-se o

tratamento médico.


As técnicas de descontaminação utilizadas foram:

  • banhos mornos com sabão neutro; uso de ácido acético para tornar a substância radioativa solúvel e facilitar sua remoção;
  • aplicação de dióxido de titânio associado à lanolina, em locais onde havia maior quantidade de material radioativo (palma das mãos e planta dos pés);
  • uso de métodos abrasivos para descontaminação de pele, (pedra-pomes, buchas de nylon, etc.), aplicação de resinas de trocas iônicas que eram colocadas em luvas e botas plásticas para descontaminação de mãos e pés.


O isolamento no Hospital Geral de Goiânia, dos pacientes contaminados, obedeceu a critérios recomendados pela proteção radiológica e consistia na divisão de um andar do Hospital em três diferentes áreas. Especial atenção foi dada à área considerada “fria”, onde se situava a estrutura da Proteção Radiológica com o contador de corpo inteiro, as salas de reunião, o local para a troca de roupa dos médicos, paramédicos, físicos da Proteção Radiológica e de apoio (limpeza, laboratório, secretaria e administração). Uma barreira definia o limite da área “crítica” (local onde se encontravam os quartos dos pacientes, o posto de enfermagem, os sanitários dos pacientes, a sala de exercícios e a sala de lazer). Todos os materiais, inclusive as vestimentas, que atravessassem a área eram monitorizados.


ASSISTÊNCIA MÉDICA AOS RADIOACIDENTADOS

Diariamente, eram efetuadas medidas de descontaminação naquela área considerada crítica. Um filtro de ar funcionava ininterruptamente para que se soubesse o grau de contaminação do ar. Se, durante as medições, alguma área se apresentasse com alto grau de contaminação, imediatamente a equipe da Proteção Radiológica procedia a descontaminação com material abrasivo. A área era liberada só após tal procedimento. Medidas de segurança também eram efetuadas em outras áreas do Hospital (laboratório, lavanderia e salas de cirurgia) para a detecção de contaminação residual. Os dejetos dos pacientes eram coletados em frascos plásticos e analisados rotineiramente em laboratório de Radioquímica, no Rio de Janeiro. Este procedimento proporcionava uma idéia das medidas terapêuticas necessárias a descontaminação interna. Rejeitos foram estocados em tonéis de aço e considerados lixo radioativo.


As medidas terapêuticas adotadas tinham por objetivo a eliminação do material radioativo e evitar conseqüências piores. Além dos métodos de descontaminação já citados, lançou-se mão de outros recursos, tais como exercícios físicos e banhos de sol. O uso de medicamentos destinados a acelerar a eliminação do 137Cs foi satisfatório, pois houve a diminuição da contaminação verificada no contador de corpo inteiro, bem como para a avaliação da quantidade de material radioativo eliminado pelas excretas (urina e fezes).


Durante a terapêutica, utilizou-se o ferrocianeto férrico, também conhecido como “Azul da Prússia” em doses que variavam de 1,5 g a 20g, sendo que efeitos colaterais foram observados em vários pacientes (constipação, episgastralgia e dores musculares). Como, no organismo, o comportamento do 137Cs é similar ao do potássio (K), outra tentativa de removê-lo foi feita utilizando-se diuréticos. Esse procedimento não foi determinado somente pela capacidade que o diurético tem de eliminar metais alcalinos (K, Cs), mas também pelo controle que tal droga poderia dar à hipertensão verificada em vários pacientes. Assim sendo, utilizou-se Furosemida (40 mg / dia) e Hidroclorotiazida (50 a 100 mg / dia). Concomitantemente ao uso de tais drogas, logrou-se tentar a remoção do 137Cs mediante a hidratação forçada. Cada paciente ingeria, aproximadamente, 3.000 ml de líquido/dia, entre água e sucos de frutas ricas em potássio. O uso de antibióticos de amplo espectro, bem como de fungicidas obedeceu à indicação recomendada para cada caso. A utilização de métodos cirúrgicos para remoção de áreas desvitalizadas esteve sujeita à estrita prescrição médica, obedecendo-se critérios de risco / benefício para o paciente.


Superada a fase crítica do acidente com o 137Cs, era necessário que o trabalho de mobilização destes vários profissionais continuasse e oferecesse respostas às questões geradas na incerteza quanto à extensão das conseqüências do acidente. Criou-se, então, a Fundação Leide das Neves Ferreira (FUNLEIDE) em fevereiro de 1988, que foi substituída pela Superintendência Leide das Neves Ferreira (SULEIDE) em 1999. Estão em permanente atuação os funcionários de diversas áreas (Medicina, Enfermagem, Psicologia, Odontologia e Assistência Social) que produzem também estudos e pesquisas sobre o acidente e seus efeitos.


O registro dos fatos gerados pelo acidente visa subsidiar o acompanhamento das vítimas e das pesquisas empreendidas por seus técnicos ou por demais integrantes da comunidade científica, sendo também úteis ao esclarecimento da população em geral. O Departamento Médico da FUNLEIDE criou protocolos de atendimento aos seus pacientes, em conformidade com as várias áreas da Medicina (clínica médica, cirurgia, ginecologia e obstetrícia, oftalmologia e pediatria). Os pacientes foram divididos em grupos segundo o comprometimento orgânico e, para cada grupo, foram estabelecidos protocolos de atendimento especifico (adulto e pediátrico).


Atualmente, as consultas são realizadas em consultórios médicos estabelecidos na SULEIDE, no HGG e por profissionais credenciados ao IPASGO – Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado de Goiás. Exames complementares são realizados em clínicas e laboratórios conveniados, localizados em Goiânia. Quando a rede de saúde da cidade não dispõe de recursos técnicos necessários, faz-se o deslocamento do paciente até outros centros especializados. Havendo necessidade, um profissional da área de saúde acompanha o paciente.


O trabalho da equipe não se restringe a consultas médicas. Estende-se a tratamento odontológico, psicológico, assistência social (visitas domiciliares; acompanhamento durante exames complementares e internações hospitalares em Goiânia e fora de domicilio), enfermagem, além das atividades de monitoramento dos efeitos da exposição ao 137Cs.


Em função do acompanhamento médico, ao longo dos últimos anos, a avaliação clínica e laboratorial dos radioacidentados de Goiânia indica o seguinte quadro geral:

- Entre homens adultos: hipertensão arterial, epigastralgia, leucopenia, doenças sexualmente transmissíveis, alterações psiquiátricas e verminoses.

- Entre mulheres adultas: além dos mesmos quadros verificados entre homens adultos, constatam-se a displasia mamária e leucorréia. Não foram encontradas alterações hormonais neste grupo.

- Entre crianças: graus variados de anemia que foram tratadas clinicamente - os recém nascidos após o acidente foram normais.

- Radiodermites: algumas amputações; vários debridamentos cirúrgicos e enxertos de pele em lesões ainda não tratadas em lesões que recidivaram ate o momento, as recidivas em mão persistem em alguns pacientes, sendo necessários cuidados especiais e curativos locais.


GLOSSÁRIO

Recidiva - volta, repetição, reaparecimento de doenças, em regra de infecção, depois de ter o paciente dela convalescido.

Hipertensão - o mesmo que hiperpiese. Pressão sangüínea superior à normal.

Displasia - desenvolvimento anômalo. Hetroplasia ( intromissão de epitélio diverso na continuidade de outro).

Anemia - síndrome que se caracteriza pela diminuição do número das hemáceas, ou pela baixa concentração de hemoglobina.

Enxerto - adaptação de pele ou de outro tecido em uma superfície. Necrose - falta de nutrição do tecido.

Célula - unidade estrutural básica dos seres vivos.

Leucopenia - diminuição do número de leucócitos no sangue.

Leucócitos - glóbulos brancos no sangue.

Leucorréia – corrimento branco ou branco-amarelado ou esverdeado ou sanguinolento, da vagina ou do útero.

Despigmentação - ausência de melanina.

Hiperpigmentação - excesso de melanina.

Pigmentação - formação e acumulação, normal ou patológica do pigmento em certos pontos do organismo animal ou vegetal. Coloração produzida por um pigmento (nos seres humanos, a melanina).

Pigmento - cor (da pele, p.ex.).

Hiperemia – aumento de circulação do sangue em qualquer parte do corpo.

Mutações - variação resultante de alguma alteração do gene, com aparecimento de uma variedade nova em qualquer espécie viva.

Epigastralgia - dor no epigástrio, dor no estômago.

Contaminação interna - contaminação da parte interna do corpo, pela incorporação de substâncias radioativas por ingestão, inalação ou penetração através da pele ou ferimentos.

Contaminação externa - contaminação da pele de um indivíduo.



SUPERINTENDÊNCIA LEIDE DAS NEVES FERREIRA

Rua 16-A n° 792 Setor Aeroporto

Goiânia. Goiás. Brasil.

CEP: 74075-150.

Fones: (062) XX 3201 4220




FONTE: http://www.sgc.goias.gov.br/upload/links/arq_108_nocoesderaidoprotecao.pdf


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