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O que dizem as vítimas do Césio hoje?

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Goiânia, 13 de Setembro de 2013
MANIFESTO PELA VIDA – A AVCésio SE MANIFESTA
 
Como sobreviventes da tragédia com o Césio-137 em Goiânia, que ocorreu no dia 13 de Setembro de 1987, exatamente há 26 anos, nos preocupamos quando sabemos que em Fukushima há 264 toneladas de varetas de combustível usado, por serem elas portadoras de grande quantidade de Césio-137.
Exatos 26 anos atrás, em um Domingo, um pesadelo anunciado se materializou. Após passar meses em um terreno sem estrutura para abrigar uma máquina de radioterapia obsoleta, a máquina teve suas partes de chumbo levadas, para que fossem vendidas em um ferro velho, dentro do chumbo haviam apenas 19 gramas de Césio-137.
Quando recordamos desta parte de nossa história algumas feridas se abrem. Porque a segurança de um equipamento desses falhou? Sua estrutura mudou ou algo semelhante passará outra vez? Em um segundo momento vem a dor do silêncio e a angustia da perda. Quantas vidas foram alteradas? Quantos momentos traumáticos terão que ser superados? Como suportar a violência das pessoas assustadas? Que ao invés de reclamarem seus direitos civis e assumirem compromissos de mudanças, mobilizadas pela situação, correram assustadas e se refugiaram nas grosserias e agressões? Como esquecer a gravata de casamento, agora tão radioativa quanto meus bichos de estimação e minhas meias? Livros, fotos, história, memória e até família...
Podemos narrar os danos incalculáveis das 19 gramas de Césio-137, mas o que imaginar das 264 toneladas material altamente radioativos lançadas ao mar? Como crianças mudas telepáticas nossos governos insistem em uma saída de manter seus programas nucleares, ainda que os mesmos tenham se mostrado como meninas cegas inexatas. Não calculam nem previnem jamais as mulheres e suas rotas alteradas. Quando o azar calha e as tragédias anunciadas se consumam nos fazem pensar nas feridas como rosas cálidas.



Mas, oh, não se esqueçam da rosa da rosa. Quando falamos da questão nuclear no Brasil, estamos falando da fina flor que brotou, herança amarga do plantio da ditadura. A rosa de Hiroshima, a rosa hereditária, é a herança, é o presente que as gerações futuras terão que encarar. A rosa radioativa, estúpida e inválida, emana seu perfume hoje de Fukushima.


Quando será que nosso governo irá se curar dessa rosa com cirrose, quando poderemos levantar pela manhã respirando o ar daqueles que não precisam bancar o programa que sangra os cofres públicos há anos, nem terem que arcar com as consequências e restrições de uma fatalidade nuclear. Nenhuma pessoa em sã consciência deseja um mundo sem cor, sem perfume, sem rosa, sem nada. Mas se nada fizermos, ou se fizermos mas não formos ouvidos, caminharemos para esta direção de horror, trauma e desgraça. Desde já peço a juventude que virá, que nos perdoem. 
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Irã instala cerca de 2 mil centrífugas para enriquecer urânio

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O Irã instalou 1.861 centrífugas adicionais de enriquecimento de urânio em Natanz, elevando seu número total para 15.416, revela um relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). O relatório sublinha que, apesar do aumento de capacidade, o Irã não atravessou a "linha vermelha", determinada pelo Israel, em termos de volume do urânio altamente enriquecido. Relata-se também que o Irã não parou a construção do reator de água pesada.

Enquanto isso, os governos do Irã e da AIEA concordaram em realizar, em 27 de setembro, a próxima rodada das negociações sobre o programa nuclear iraniano.

Fonte: http://portuguese.ruvr.ru/news/2013_08_28/Ir-instala-mais-2-mil-centr-fugas-para-enriquecer-ur-nio-4504/
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Comissão sobre Fukushima reconhece perigo de novos vazamentos

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O presidente da Direção de Regulamento Nuclear do Japão, Shunichi Tanaka, reconheceu que, na central nuclear, podem ocorrer novos vazamentos. De acordo com o funcionário, a anterior limpeza da usina foi realizada de forma irresponsável. O novo plano da operação de resgate será divulgado na terça-feira.


No domingo (01/09/2013), tornou-se público que um dos reservatórios da usina vaza a água, cujo nível de radiação é de 18 vezes maior do que o estimado anteriormente. Desde a semana passada, vários peritos estão trabalhando junto ao reservatório, tentando parar o vazamento.

O nível de radiação no reservatório de água na usina nuclear japonesa Fukushima 1 subiu 18 vezes em 9 dias, anunciou a operadora da usina Tokyo Electric Power Co (Tepco).

De acordo com os resultados de uma medição efetuada ontem, dia 31 de agosto, o nível de radiação em um dos reservatórios de água da usina atingiu 1.800 milissieverts/hora, o que quer dizer que uma pessoa que se encontrasse junto com a água contaminada, teria morrido em 4 horas. A título de comparação: a medição efetuada no mesmo reservatório no dia 22 de agosto registrou 100 milissiverts/hora.

O nível de radiação extremamente alto foi registrado em, pelo menos, quatro áreas próximas aos tanques de água na usina nuclear japonesa Fukushima 1, informou a empresa operadora da central nuclear Tepco.

No momento, os peritos estão verificando se há vazamentos nos tanques.

Em março do corrente ano, mais de 360 mil toneladas de água com diferentes graus de substâncias radioativas se acumularam nos porões, no sistema de drenagem e nos reservatórios especiais da usina.

O nível de ameaça, associada com a recente fuga de um dos reservatórios da usina nuclear Fukushima 1, foi elevado do primeiro, "anomalia", ao terceiro, "incidente importante", segundo a Escala Internacional de Acidentes Nucleares, informa a Autoridade Reguladora Nuclear do Japão (NRA). A decisão de elevar o nível de gravidade foi tomada depois das consultas com a AIEA.

A Escala Internacional de Acidentes Nucleares se usa para avaliar incidentes ligados com a fuga de radiação por causa de acidentes em usinas nucleares. O maior nível de gravidade – sétimo, "acidente grave", – foi registrado apenas duas vezes: durante avaria na central nuclear Fukushima 1, em 2011, e na usina de Chernobyl, em 1986.



Fontes: http://portuguese.ruvr.ru/news/2013_09_02/comissao-sobre-fukushima-reconhece-perigo-de-novos-vazamentos-1032/
 http://portuguese.ruvr.ru/news/2013_09_01/Nivel-de-radiacao-na-Fukushima-subiu-18-vezes-1644/
: http://portuguese.ruvr.ru/news/2013_08_31/N-vel-de-radia-o-extremamente-alto-registrado-na-Fukushima-3033/
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Homem detido com urânio no aeroporto de Nova York

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Um homem foi detido na quarta-feira no Aeroporto John Fitzgerald Kennedy (JFK), em Nova York, com amostras de urânio escondidas nos sapatos visando uma venda ao Irã, informou a Justiça americana.


Patrick Campbell, 33 anos, oriundo de Serra Leoa e procedente de Paris, é acusado de servir de intermediário para vender ao Irã mil toneladas de urânio purificado, violando a legislação americana.

Campbell estava sob vigilância desde maio de 2012, quando respondeu a um anúncio no site Alibaba.com sobre a compra de urânio 308 (yellow cake). A mensagem era uma isca de um agente americano do serviço de imigração.

O agente disse a Campbell que pretendia comprar mil toneladas de urânio purificado para o Irã, que seria misturado a outros minerais para o transporte.

Campbell respondeu que não havia problema e que o carregamento seguiria de Serra Leoa para o porto iraniano de Bandar Abas, em um carregamento de cromita.

Em vários contatos --por telefone, Skype e e-mail-- Campbell revelou que estava ligado a uma empresa que vendia urânio, ouro, diamantes e cromita na fronteira entre Libéria e Serra Leoa, segundo a ata de acusação.

O urânio purificado deve ser enriquecido para uso em aplicações nucleares.
Procedente de Paris, Campbell foi detido na quarta-feira, quando chegava a Nova York, com o objetivo de apresentar a seu "contato" amostras de urânio.

Capmbell foi acusado de violar a legislação americana sobre transações com o Irã, e pode pegar uma pena de até 20 anos de prisão e multa de um milhão de dólares.

Fonte: Folha de São Paulo
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Ministro japonês visita Chernobyl

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O ministro das Relações Exteriores do Japão visitou dia 25 de Agosto a usina atómica de Chernobyl para poder fazer comparações entre as experiências obtidas em Chernobyl e as operações destinadas a ultrapassar  as consequências do acidente nuclear em Fukushima.

No âmbito duma visita de três dias, Fumio Kishida visitou Chernobyl para compartilhar as experiências de liquidação de acidentes nucleares. Na segunda-feira, o chanceler nipónico manterá negociações com seu homólogo ucraniano Leonid Kozhara.

Fonte: http://portuguese.ruvr.ru/news/2013_08_25/Chanceler-japones-visitou-Chernobyl-5096/

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Ataque à Síria pode levar a uma catástrofe nuclear

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A operação militar dos EUA contra a Síria pode provocar uma catástrofe nuclear de escala regional. Um ataque a Damasco poderá afetar o reator nuclear situado nos arredores da cidade. Mesmo que as instalações não sejam danificadas, a eventual derrota das tropas governamentais permitirá aos extremistas tomar conta de materiais radioativos.

Como se sabe, nas cercanias da capital síria se encontra um mini-reator de fabrico chinês que utiliza combustível de alumínio com urânio militar. A China forneceu à Síria quase um quilo de urânio inserido no combustível para o reator. Por isso, tal ataque poderá virar uma autêntica catástrofe, adverte o porta-voz do MRE da Rússia, Alexander Lukashevich.

"No caso de um ataque planejado ou pontual ao mini-reator em causa, que emite nêutrons, as consequências serão terríveis. As áreas adjacentes serão contaminadas pelo urânio altamente enriquecido e por produtos de desintegração radioativa. Além disso, será praticamente impossível restabelecer o controle sobre o armazenamento dos materiais nucleares disponíveis."

Outro perigo sério se deve ao fato de as forças governamentais poderem perder o controle sobre este alvo após o ataque. Neste caso, os materiais radioativos serão apreendidos por extremistas. Mesmo que não estejam em condições de criar uma bomba atômica "normal", as consequências serão extremamente perigosas, frisou Igor Khokhlov, do Instituto de Economia Mundial e Relações Internacionais:

"Acontece que o reator em questão carece de tecnologias para criar uma bomba atômica. Mas a partir dele será possível produzir um engenho explosivo "alternativo" que, como é óbvio, escapará a qualquer controle oficial. Deste modo, tomando em conta a situação tensa na Europa e nas comunidades muçulmanas extremistas, tal "bomba alternativa" poderá vir a ser usada contra os habitantes da Europa, inclusive dos países que se manifestam pela intervenção armada na Síria, por exemplo, da França."
Para evitar tais efeitos fatais, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia apelou à comunidade mundial a prestar a devida atenção a este problema candente, anunciou a mesma fonte diplomática.
"Com vista a prevenir cenários negativos, lançamos um apelo ao secretariado da AIEA para que este possa reagir rápida e oportunamente à situação criada, apresentando aos países-membros uma análise dos riscos relacionados com um provável ataque dos EUA ao mini-reator, fonte de nêutrons e a outros alvos localizados no território da Síria”.

Cumpre acrescentar que, para além dessas ameaças diretas, um ataque estadunidense é capaz de provocar outras, indiretas. No Irã, a campanha militar irá incentivar ainda mais e acelerar a criação de armas nucleares. Os regimes de Saddam Hussein e Muammar Kadhafi não eram menos odiosos do que o regime político totalitário existente na Coreia do Norte. Todavia, ninguém se atreve a atacar esse país, que possui a bomba atômica elementar. Se Bashar Assad for derrubado pelo EUA, o Irã seguirá na fila dos países sujeitos à "democratização forçada". Para evitar tal sorte, o governo iraniano procurará encontrar "refúgio" na sua bomba atômica. Se assim acontecer, o mesmo será feito por seus vizinhos, por exemplo, pela Turquia ou pela Arábia Saudita e depois por outros Estados limítrofes. Na sequência disso, estará em causa o próprio regime de não-proliferação de armas nucleares, capaz de não recuperar após tal golpe demolidor.

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Césio-137 na Suiça

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Na Suíça, foram encontrados vestígios do isótopo radioativo césio-137, nas águas do lago Biel (cantão de Berna), nas proximidades da usina atômica de Mühleberg. O lago serve de fonte de abastecimento de água para a cidade de Biel.

As amostras, cujas análises provocaram a inquietação, tinham sido colhidas em 2010. Na opinião dos cientistas, as substâncias radioativas podiam ter penetrado no lago aproximadamente em 2000, quando as águas da usina Mühleberg se infiltraram no rio Aare, unido por canais ao lago Biel.

Fonte: http://portuguese.ruvr.ru/news/2013_07_14/radiatividade-detetada-em-lago-suico-7620/
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Fukushima - Crônica de um Desastre

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O autor destaca a ignorância das autoridades - políticas e científicas -, em relação às consequências e possíveis soluções para a central


O autor do livro "Fukushima - Crónica de um Desastre", que será apresentado na terça-feira em Lisboa, denuncia a imposição da energia nuclear no Japão, apesar do desconhecimento das consequências do acidente na central de Fukushima em 2011.

Michael Ferrier sublinha a atitude opaca "que rodeia, em todos os países do mundo, as fileiras da energia nuclear (...). Sucedem-se escândalos e protestos, e nada muda. Esta indústria (...) que se apresenta como luminosa e futurista está fundamentalmente ligada ao segredo e reproduz-se através do mutismo".

O autor destaca a ignorância das autoridades - políticas e científicas -, em relação às consequências e possíveis soluções para a central, comparando, em alguns pontos, Fukushima com o caso do acidente na central ucraniana Chernobil, em 1986.

"O meio mais seguro de escamotear a informação não é calá-la: é torná-la pública ao mesmo tempo que um milhar de outras. Na chuva desordenada dos boletins e dos comunicados, por entre uma gíria técnica nunca explicitada", afirma.

"Arrefecer os reatores? Não sabem como fazê-lo. Desembaraçarem-se da água radioativa? Não sabem como fazê-lo. Reparar? Nem falar disso é bom. O perigo das radiações? Ignorância completa. Contaminação alimentar? Logo se verá", diz.

Ferrier aponta que "o nuclear joga sempre com a imagem de uma indústria de ponta, suportada por uma tecnologia de alto nível (...) na realidade (...) o perfeito oposto: infraestruturas envelhecidas, mentalidade medieval (...) todos os meios falham e tornam a falhar, é o folhetim no interior do drama, há sempre novas fugas".

Escritor e investigador, Ferrier carateriza o acidente nuclear de Fukushima como uma "catástrofe continuada", e aplica o termo "semivida" - tecnicamente, um ciclo de desintegração dos materiais radioativos - à existência da população, reduzida a medidas de descontaminação.

"Descontamina-se um lugar, contaminando outro: é um círculo vicioso (...) aplica-se um dos princípios bases do nuclear: o problema dos detritos nunca se chega a resolver, é remetido para mais tarde", sublinha.

Michael Ferrier apresenta como exemplo a semivida de vários elementos, como a do césio 135 que é de três milhões de anos, o que se significa que metade da massa deste elemento se desintegra ao fim daquele período.

E lembra o sismo de 1755 em Lisboa e a máxima de Sebastião José de Carvalho e Melo, Marquês de Pombal: "Enterrar os mortos e cuidar dos vivos", para explicar que "isso não é possível em Fukushima".

"Os funerais são proibidos, porque os mortos de Fukushima são detritos nucleares", afirma.

Em "Fukushima - Crónica de um Desastre", o autor - prémio Édouard Glissant 2012 pelo conjunto da obra, embaixador intercultural da UNESCO - apresenta um relato cronológico dos eventos registados a 11 de março de 2011, começando pela descrição do sismo de magnitude 9 na escala de Richter e o consequente tsunami, que assolou a costa da região de Tohoku (nordeste da ilha de Honshu), e o acidente na central de Fukushima Daiichi.

Pelo menos 20.000 pessoas morreram ou desapareceram na catástrofe de 2011.
A apresentação da obra, editada em português pela Antígona e que conta com a presença do autor e do tradutor Miguel Serras Pereira, será seguida da exibição do filme "Le monde après Fukushima" (O mundo depois de Fukushima), de Kenichi Watanabe (2012), para o qual Michael Ferrier escreveu os comentários.

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Transparência Nuclear?

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Heitor Scalambrini Costa
Professor da Universidade Federal de Pernambuco


Nas últimas semanas revelações surpreendentes sobre continuação da tragédia no complexo de Fukushima Daiichi, no Japão, ocuparam novamente os meios de comunicação de todo o mundo. Enormes quantidades de trítio, césio e estrôncio estão sendo despejados, e envenenando o Oceano Pacifico. Menciona-se a fabulosa quantidade de 300 toneladas de água radioativa por dia despejada.

 
O governo japonês durante muito tempo confiou na empresa operadora do complexo, Tokyo Electric Power, também conhecida como Tepco. Esta por sua vez, omitiu a existência deste vazamento de água altamente radioativa para o oceano. Este é um pesadelo que não tem fim. O dano que está sendo feito é absolutamente incalculável.  

A cultura do segredo e a falta de transparência cercam as questões relativas ao nuclear, e o que acontece no Japão, acontece também em outras partes do mundo, inclusive no Brasil.

O que era denunciado, mas até então sem provas cabais, de que o governo ditatorial do Brasil, tinha interesse em fazer sua bomba atômica, veio à tona agora com a abertura de arquivos “secretos” do Estado-Maior das Forças Armadas (EMFA). Em reportagem recente no Jornal Estado de São Paulo, o jornalista Marcelo de Moraes relata que em 10 de junho de 1974, o general Geisel expôs em uma reunião do Alto Comando Militar, a preocupação do governo e dos militares, em relação ao fato de a Índia ter detonado uma bomba atômica, e à possibilidade de os vizinhos argentinos, também testassem um artefato nuclear. Defendeu então, a construção da bomba atômica brasileira.

Em 1979 teve inicio o Programa Nuclear Paralelo, encabeçado pelo governo militar. A existência do Projeto Paralelo, nunca admitido publicamente, e cujas pesquisas na direção da fabricação da Bomba iam de vento em popa, permaneceu secreto. Até que uma reportagem, em 1986, do jornal Folha de São Paulo, revelou a existência de covas e cisternas e poços profundos na Serra do Cachimbo, no Pará; e no Raso da Catarina, no semi-árido baiano. Tudo indicava que seriam para testes com artefatos nucleares.

Ministério Público e o Congresso Nacional ao investigarem o caso descobriram contas bancárias secretas, que dentro do Projeto Paralelo eram chamadas de Delta. Isto poria um fim na ambição do governo militar de fabricar a Bomba, apesar de que, no ano seguinte, o Brasil dominou por completo o ciclo do enriquecimento de urânio. Em 1988 caiu a ditadura, e foi promulgada a atual Constituição, que proíbe o uso da energia nuclear para fins bélicos. Com tudo isso, o programa brasileiro passou a ser "legítimo" e controlado pela estatal Eletronuclear.

Em 1990 outras revelações surgiram sobre o Projeto Paralelo. O fato é que hoje no Brasil, ainda alguns sonham com a fabricação da Bomba tupiniquim, como atestam posições públicas de políticos, acadêmicos, ex-ministros de Estado e militares de alta patente.
 

A retomada do Programa Nuclear Brasileiro, em junho de 2007 foi outro exemplo de como atua na surdina, na “calada da noite” o lobby nuclear. Sem nenhuma discussão com a população brasileira foi reativado este Programa pelo Conselho Nacional de Política Energética, grupo de 10 pessoas que assessoram a presidência da Republica. Posteriormente em seu Plano Nacional de Energia (PNE 2030), o Ministério de Minas de energia anunciou a construção de mais 4 usinas nucleares no país, além da construção de Angra 3.

Para espanto de todos, duas destas novas usinas seriam construídas no Nordeste brasileiro. Como não bastasse a tragédia do sertanejo frente à omissão governamental com relação ao fenômeno das secas, imaginem agora que na beira do Rio São Francisco será instalado uma usina nuclear. Um verdadeiro ato de insanidade do poder público, que fecha os olhos aos riscos de uma calamidade possível, como a que esta passando o povo japonês.


E este descalabro agora é promovido pelo Clube de Engenharia de Pernambuco, que em um Seminário conjunto com a Eletronuclear, enalteceu o desenvolvimento e as vantagens que a construção de uma usina nuclear trará para o semi-árido Pernambuco. O povo pernambucano merece uma explicação.
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Mais uma vez o sistema de resfriamento de Fukushima é desligado

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Esta é a terceira vez em cinco semanas que o equipamento de refrigeração é desligado por causa de roedores


Ratos mortos na caixa de um transformador para o sistema de
 resfriamento da piscina de combustível gasto do
 reator número 2 de Fukushima
Tóquio - A danificada usina nuclear japonesa de Fukushima paralisou o resfriamento de uma piscina de combustível gasto para remover dois ratos mortos, nesta segunda-feira, na terceira vez em cinco semanas que o equipamento de refrigeração é desligado por causa de roedores.

A Tokyo Electric Power (Tepco), operadora da usina, disse que paralisou por algumas horas o resfriamento da piscina da unidade 2, que armazena barras de combustível de urânio utilizadas na usina de Fukushima Daiichi, para remover os ratos e instalar uma rede para impedir novas invasões.

No mês passado, a Tepco perdeu energia para resfriar as barras de combustível por 29 horas, uma interrupção que mais tarde foi atribuída a um rato que tinha cortado um quadro temporário.
Duas semanas mais tarde, os trabalhadores que tentavam instalar uma rede desarmaram novamente o sistema.
Em março de 2011, um tsunami se chocou contra a usina, causando o derretimento de barras de combustível em três reatores e provocando a retirada de 160 mil pessoas da região, no pior desastre nuclear do mundo desde Chernobyl, em 1986.
O incidente desta segunda-feira segue uma série de percalços, incluindo quatro vazamentos de água contaminada de poços de armazenamento subterrâneos.
Os problemas na usina, 240 km ao norte de Tóquio, resultaram numa repreensão por parte do governo e do órgão regulador nuclear, reavivando o debate público sobre se a Tepco está à altura da tarefa de desativação prevista para durar décadas.

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O Mito da Bomba Nuclear da Paz

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Reservistas Sul Coreanos reunidos en Seúl
AHN YOUNG-JOON (AP)

O jogo de cena nuclear repete o mesmo ato mundo a fora, antes de ter uma bomba nuclear dizem que suas usinas atômicas são apenas para fornecer energia, que almejam uso pacifico, políticos beijam crianças e discursam exaltando a tecnologia a serviço do crescimento da nação. Logo de cara a população não encontra motivos para desconfiar do próprio governo, lhes soa estranho a insistência de países que já possuem a bomba querendo garantias, inspeções e o termino do respectivo plano nuclear do país. Com estas medidas os argumentos de tecnologia pela soberania nacional ganham força, afinal, eles que tem tecnologia não querem que outros tenham, são imperialistas, etc... Alguém já viu esta cena?
            A união entre usinas nucleares e bombas nucleares é simples, uma vez dominado o ciclo de enriquecimento de urânio para alimentar as usinas, as etapas mais difíceis estão superadas e, daí por diante, o problema de construir ou não a bomba atômica é mais político e econômico do que técnico. Todos os países que pesquisaram o ciclo do enriquecimento de urânio negam sempre intenções bélicas até o momento em que elas se tornam evidentes, como se observou nos casos da nuclearização de nações como Índia, China, Israel e atualmente voltou a tona com o programa nuclear Iraniano.
A profundidade das perfurações é compatível com as que usam
no programa americano para explosões subterrâneas
Tudo isso porque? Simples, porque qualquer reator que queime urânio, a 3% ou a 20%, produz plutônio como subproduto - e o plutônio é um excelente explosivo para a bomba atômica. Pode-se fazer uma bomba também com urânio enriquecido a 90% - e, nesse caso, quem domina o processo do enriquecimento a 20% é capaz de chegar a 90% pelos mesmo métodos. As usinas nucleares, além de energia, criam uma fonte abundante de recursos para o nuclear bélico. Como não há nenhum depósito definitivo para os resíduos, os tais rejeitos, vulgo lixo nuclear, toneladas desse material são estocadas na própria usina, o que convenhamos, a torna uma verdadeira bomba nuclear em grande escala. Em Fukushima, por exemplo, há 264 toneladas de varetas decombustível usado, contendo grande quantidade de césio-137, aguardando destino final. Isto é, o governo do Japão assume o risco de viver um desastre ainda pior se caso ocorrer outro terremoto que destrua a piscina de refrigeração. E quem dera se este risco fosse só em Fukushima, mas onde há uma usina nuclear, a risco semelhante.
Já sabemos então onde a usina nuclear se transforma na menina dos olhos de qualquer força armada certo? Agora vejamos o argumento da famosa “Bomba da Paz”,

Ato realizado no MASP marcando 2 anos da Tragédia
ocorrida em Fukushima (Foto: Joelma do Couto)
Vemos hoje a Coréia do Norte se gabar que por conta de seu programa nuclear e bombas nucleares seu país ainda não foi invadido, é o mesmo argumento daqueles que desejam ter os mesmos artefatos. Garantir a soberania nacional disseminando o medo é a moeda de troca das nações que possuem as bombas. No inicio do programa nuclear brasileiro não foi diferente, e em nenhuma outra parte do mundo é. Mas analisando bem, podemos perceber que esta estratégia esta muito mais afinada com os ideais de umaditadura do que com a liberdade democrática. A tal bomba da paz garante um controle via o temor, se apóia nas mais altas tecnologias não para garantir o progresso das nações. Se trata de um alto investimento, já que custa bilhões, que não tem seu retorno revertido em qualidade de vida para as populações.  A bomba apenas subsidia a ganância por poder, as políticas e ações opressoras, basicamente custa caro e é nociva.
Três gerações de japoneses na luta pela paz e contra a proliferação
de usinas e armas nucleares. (Foto: Joelma do Couto )
Sendo assim, não temos no mundo um exemplo sequer de programa nuclear aberto, franco, com contas claras, interesses definidos, com informações a disposição da população e da comunidade internacional. Seus danos, em caso de ataques ou desastres, são igualmente opressores e nocivos, marcam gerações, destroem cidades, campos, abalam a economia, reverter seus danos custa caro sendo que a maioria dos danos são irreversíveis! Portanto, o argumento cínico da bomba da paz não é uma passo a frente rumo a soberania, mas sim um grande retrocesso nas conquistas sociais, democráticas e de direitos humanos. É um passo que todos nós financiamos a custo de nossos impostos, um passo que nos impõe uma realidade que nenhum ser humano, em sã consciência, gostaria de viver.

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O que é pior que a radiação?

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A foto sugere que o poder da televisão é mais devastador que o poder da radiação. De fato, o poder de manipulação das informações é exponencial na televisão. Trata-se de um veículo de comunicação de massa, pesquisas do ibope apontam que em média o brasileiro passa 5 horas por dia assistindo televisão. Não é escondido de ninguém que cada emissora tem um dono e cada dono tem seus interesses. Portanto, o tom da fala das redes de televisão não irão jamais contrariar a voz aquele que paga os salários de quem trabalha para fazê-la funcionar.
Sim, estamos falando de poder. O poder dos meios de comunicação influenciam diretamente nas visões de mundo dapopulação, vamos combinar que não há nada mais conveniente para uma decisão política que a simpatia da opinião pública. Aqui chegamos no ponto crucial, quando a televisão está a serviço da radiação, do desenvolvimento nuclear, o argumento é sempre o progresso, pois bem, o progresso de quem? O progresso a serviço de quem? A serviço do quê?
A estratégia de comunicação em relação ao nuclear é muito clara, dizem que as usinas nucleares são de tecnologia de ponta, mas não dizem que se trata de tecnologia dos anos 70, dizem que o programa nuclear brasileiro é pacifico e seguro, mas não contam que o programa nasceu nas entranhas da DITADURA MILITAR e segue sob os mesmos comandos e desmandos da marinha até hoje. Muito não é dito, será falta de pesquisa das equipes de reportagem ou interesses velados de quem comanda este meio de comunicação?
Quando ocorrem acidentes ou tragédias, nucleares e radioativas, a justificativa da falta de informação é não levar o pânico para a população. Quando a população vai as ruas pedir os fechamentos das usinas nucleares, afinal, a medicina nuclear não é feita através dos reatores das usinas nucleares, surgem os argumentos que insinuam que trata-se de uma energia muito mais segura do que temos conhecimento, que insistir em seu fechamento por “medo” é sinal de ignorância. Onde está a sabedoria das cidades fantasmas ao redor de Chernobyl e nos vilarejos Fukushima?
Será que os interesses de progresso defendido pelas televisões pela via da proliferação nuclear está refletindo um interesse maciço da população ou será que é a voz de um dono a serviço de seus correligionários? 
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O QUE VI EM FUKUSHIMA NO DIA 11 DE MARÇO DE 2013

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Foto: Cúpula dos Povos (Rio+20)
São quase 11 horas da manhã mas está frio e estou chegando à cidade de Fukushima. O termômetro da estação está mostrando três graus. Vamos nos dirigir à cidade de Minamisoma que fica dentro da zona interditada do raio de 30 kms da usina nuclear em que ocorreu a explosão que provocou o vazamento da radiação no dia 12 de março de 2011 às 11,04 minutos. O tsunami foi no dia anterior, dia 11, às 14,26 minutos.

O companheiro que me esperava e que agora dirige o jipe é o fotógrafo Sakamoto que esteve no Brasil por ocasião do Rio+20, participando do evento paralelo na Tenda Antinuclear instalada no Aterro do Flamengo. Ele sempre anda com o medidor Geiger de radiação como faz a maioria dos habitantes de Fukushima. Eles acordam, consultam a temperatura, sentem a umidade do ar e medem o grau de radiação do dia. Se a radiação estiver alta evitam sair de casa, especialmente as crianças que nem vão à escola. 


Será que daqui a pouco todos nós vamos ter que tomar esse tipo de cuidado?

Na medida em que saímos de Fukushima e nos aproximamos da zona interditada - hoje parcialmente liberada por pressão política popular e econômica local - o medidor vai subindo de 0,436 para 0,768 mas antes de chegar ao destino, na rodovia, o marcador dá um salto para 1,225. Eu não entendo dessa medida de radioatividade que é chamada de “mySV” que os japoneses repetem automaticamente: “minisiberto”. Parece coisa de cinema de horror e, assustado, pergunto o porquê desse salto.

Foto: Cúpula dos Povos (Rio+20)
A explicação é que a zona que estamos atravessando é por onde passou uma nuvem que absorveu radioatividade justamente quando houve explosão na usina distante alguns quilômetros, deixando caí-la com a chuva nestas redondezas. Dois fatos me impressionaram: primeiro, isso ocorreu a dois anos atrás mas os resíduos radioativos que caíram com a chuva se mantém no solo, na terra, asfalto, grama e árvores; segundo, a cortina de radioatividade que estou atravessando, cujo grau aquilato no visor do medidor que está na minha mão, é superior ao de Chernobyl e muitas vezes mais alto que a provocada pela bomba jogada sobre Hiroshima e Nagasaki que causou danos imediatos por causa da concentração da explosão nuclear no tempo e no espaço. É horripilante, parece um pesadelo!

A rede da Articulação Antinuclear Brasileira e Movimento Antinuclear divulgou um estudo importantíssimo da Organização Mundial da Saúde que fala das sequelas do acidente nuclear de Fukushima. A única certeza é que a radiação nuclear está relacionada com a probabilidade de provocar câncer, não se sabe bem em quanto tempo, com qual nível de intensidade e em que tipo de organismo. Para ficarmos intranquilos e desconfiados, basta a suspeita de que está havendo vazamento nuclear em qualquer uma das inúmeras e incertas usinas espelhadas pelo mundo, basta a suspeita de que esse vazamento pode provocar câncer! Mais intranquilo e desconfiado se todas as usinas nucleares podem ser objeto de ataques terroristas, sem falar em acidentes naturais e erros humanos que também explodem!

Mas não é suspeita. Estamos andando há mais de uma hora e meia e começo a ver resquícios de civilização: plantações e casas. Só que são plantações abandonadas e casas se desfazendo. É a zona que fora interditada por estar no raio de 30 km da usina em que houve a explosão.

“Mas a interdição não foi levantada?”, eu indago. “Sim”, responde Sakamoto. “Só que mais da metade do pessoal que foi obrigado a deixar a área, não retornou mesmo passados dois anos”. E continua: “Não sei se retornarão”. 

Eu me calo mas medito sobre o que ouvi há seis meses atrás da Takako que também esteve na Tenda Antinuclear no Rio+20, já retornada ao Japão mas que continua em Hokkaido, distante de Fukushima. 

Foto: Cúpula dos Povos (Rio+20)
Ela disse: “Eu e o meu marido não queremos retornar a Fukushima pensando especialmente nos nossos dois filhos que – dizem – como crianças em formação orgânica são mais sensíveis e afetos ao acúmulo da radiação nuclear. Apesar do calor humano dos que nos ofereceram refúgio, não é fácil refazer toda vida profissional e social com essa mudança inesperada e indesejada. Além disso, nossos pais não abandonaram a área e reclamam a nossa volta, a proximidade dos netos. A própria comunidade afetada está dividida, muitos nos criticando e acusando de termos fugido da responsabilidade e solidariedade coletiva da reconstrução local. Sinto a minha família destruída e a comunidade de velhos amigos desfeita. Como serão nossos filhos que já estão traumatizados e agora se sentem pressionados?”

Muitas plantações de arroz sem arroz, muitas casas sem gente no caminho. Chegamos à cidade de Minamisoma em que o tsunami cujo ímpeto das ondas gigantescas chegou a algumas centenas de metros do centro, destruiu centenas de casas e desterrou, aterrou, enterrou ou carregou muitas vidas. 

A cidade era limpa, moderna, não antiga mas senti no ambiente certo ar de conformismo, senão de niilismo. Exatamente às 14,26 minutos, hora em que há 2 anos atrás o tsunami subiu terra acima, começaria a cerimonia religiosa de homenagem aos falecidos. Entrei no recinto preparado com certo formalismo e luxo. 

Só aí me dei conta que Minamisoma era um centro urbano provinciano pouco desenvolvido que se beneficiou de verbas oficiais e da corporação energética japonesa por ter permitido a instalação de uma usina nuclear nas proximidades. Todo mundo sabia do risco calculado por menor que fosse que fazia parte da política energética e de desenvolvimento econômico e regional do Japão a partir do final dos anos 50. Ouvi o discurso das autoridades locais que falava no desejo de retorno de todos os refugiados locais e reconstituição do espírito comunitário que antes existia, em recuperação econômica e reconstrução de uma cidade segura e tranquila que não mais dependesse de riscos nucleares mas da consciência e esforço dos próprios cidadãos. Isso bastava, não quis esperar pelo discurso do Primeiro Ministro que seria transmitido pela televisão e saímos do local. Esse novo mandatário do Japão anunciara algumas semanas antes com toda pompa que retomaria oficialmente a operação de todas as usinas nucleares do país com medidas de segurança cabíveis. Cabíveis?
Foto: Cúpula dos Povos (Rio+20)
Nós nos dirigimos para a direção da praia e avistei uma imensa clareira a perder de vista até o oceano azul. É o resquício do que aconteceu há dois anos, a probabilidade mínima acontecendo progressivamente e em pouco tempo: primeiro, o terremoto em grau bastante elevado; segundo, o tsunami que arrastou tudo no mar de lama; terceiro, a explosão na usina nuclear. Neste dia especial, algumas famílias com pessoas em pé ou de cócoras frente a coroas de flores. Passei junto de um homem adulto bem vestido ao lado de um automóvel de luxo que chorava. Se as lágrimas eram pelos seus mortos ou pelos bens irrecuperáveis, não importa, ele não podia mais reconstruir no local. Mais adiante parei por alguns minutos para dedicar uma pequena prece em silencio. Lá adiante, como se fossem frágeis barreiras contra novos tsunamis, montes de destroços de madeira, cimento, ferro e alumínio, ossadas enferrujadas de automóveis.

Na historia do Japão os terremotos e tsunamis são recorrentes como mostram relatos e ilustrações de artistas como Hokusai. Havia menos danos porque se respeitava a natureza e se evitava construir em áreas baixas ou deslizáveis. O interesse meramente mercantil-econômico desobedeceu essa lei natural e longo aprendizado cultural para construir condomínios e distritos portuários, comerciais e industriais em zonas de aterro de fácil invasão de águas marinhas. Este fenômeno da natureza pode ser lamentado e é lamentável como o choro do homem bem vestido mas não se esperava pelo espraiamento da radiação que vazou de um típico gerador e resultado da ignorância humana e que durará gerações ou para sempre. Duvido que o Primeiro Ministro tenha demonstrado algum arrependimento ou reflexão mais profunda.

O Sakamoto quis me levar para a fazenda onde fotografou as vacas que ficaram abandonadas e morreram, foram mortas ou se tornaram selvagens e comiam de tudo que encontravam, até os pares mortos. Seus donos tinham sido impedidos de retornar à zona para alimentá-las, alguns dias após o reconhecimento oficial do vazamento nuclear.

O medidor Geiger saltou para mais de 2,000. Passamos por uma barreira que marcava os 30 km ao redor da usina mas estava derrubada, não valia mais. O medidor foi subindo e de repente aparece outra barreira, esta em pé. Como fazemos? Mas logo encontramos um atalho à direita e seguimos.

Foto: Cúpula dos Povos (Rio+20)
Era o caminho para a fazenda de gado. Um lugar belíssimo com muitas vacas pastando, muito magras e desgastadas. Paramos em frente a uma torre coberta de folhas de Flandres em que havia a indicação da distancia da usina nuclear - 14 km – e dizeres de resistência. 

Daí seguimos a pé para a sede da fazenda, acompanhado pelo triste mugido das vacas magras. O dono que manteve alimentando as vacas desobedecendo a ordem de interdição desde o vazamento nuclear estava fora, participando de um evento antinuclear na cidade de Fukushima a uma hora e meia do local, e nos atendeu um jovem voluntário vindo de Tóquio. 

Explicou que, após forte reclamação sustentada pela mobilização social, hoje recebem do governo um pequeno subsídio para manter as vacas que já não tinham nenhum valor comercial pois ninguém mais tinha a coragem de ordenha-las nem o desejo de vender seu leite no mercado, burlando a ordem de proibição. Mas elas estavam morrendo.

Perguntei o por quê. Ele disse: “Não sei. Talvez de tristeza pois o efeito da radiação, cientificamente, não é morte instantânea mas lenta“, e me levou onde os cadáveres estavam se amontoando. Ele disse mais: “O governo quer que cedamos as vacas sobreviventes. Não queremos pois não existe no acordo nenhuma clausula clara de que elas servirão para pesquisa que possa beneficiar a humanidade. Nas mãos do governo, elas devem ser simplesmente sacrificadas. Aí preferimos que ela s morram aqui onde a maioria nasceu e foi útil”. 

Eu me calei, agradeci a gentileza de nos receber e tomamos o caminho de volta para a cidade de Fukushima.

Eram cinco horas da tarde e passando de volta pela cidade de Minamisoma, vejo crianças uniformizadas que descem de um ônibus escolar. Sakamoto explica que a maioria dos pais que não retornaram à cidade alega a potencial periculosidade da radiação nuclear sobre o organismo infantil dos filhos. Mesmo os pais que tiveram que retornar por motivos familiares, profissionais ou econômicos, mandam seus filhos para escolas longínquas para lá passar o dia todo, a fim de amenizar essa preocupação. De fato, não vi crianças caminhando, brincando ou dando gritinhos nas ruas da cidade. 

Foto: Cúpula dos Povos (Rio+20)
De todo modo, vamos herdar às gerações posteriores resíduos e lixos nucleares que comprovadamente levam milhares de anos para cessar os efeitos letais? Isso não é compaixão! Que direito temos nós de fazer isso, além de não preservarmos a natureza ou desenvolver todo o seu potencial em nome da contabilidade capitalista de curto prazo? Isso não é sabedoria!

Já era escuro quando chegamos à cidade de Fukushima. Para andar tinha que tomar cuidado para não escorregar e acho que não era só por causa da camada de gelo no chão mas algum desequilíbrio muito grande no meu interior. 

Fiquei surpreso com hotéis lotados, não foi fácil encontrar vaga para dormir uma noite. Perguntei de novo o por quê de toda essa movimentação. “Ah, a cidade está cheia de empresários, agentes, trabalhadores e operadores vindos de todo o Japão, por causa da contratação governamental dos serviços de desinfetação da radiação incrustada nas calçadas, nos pátios das escolas, nos prédios, nos telhados, nos gramados dos jardins, na terra. Além disso, as casas pré-fabricadas em que as pessoas desalojadas hoje habitam estão requerendo reforma, ampliação ou mesmo substituição”. 

Fiquei abismado com este incrível capitalismo, sempre se reinventando não para o verdadeiro bem estar da humanidade, para a preservação do meio ambiente ou para a melhoria das relações humanas mas para a reprodução dele próprio, o capital, que hoje nem material é mas é fictício!

O Japão era considerado um dos países mais bem sucedidos no século XX, tendo se recuperado do fiasco modernizante da Primeira Grande Guerra e do fracasso imperialista na Segunda Grande Guerra. Recuperou-se da destruição material e de danos na infraestrutura na passagem dos anos 50 para 60, fez avançar a tecnologia com pesquisa aplicada e o modo de produção baseado no trabalho coletivo para galgar o posto privilegiado no topo dos países do primeiro mundo. Muito conforto aparente e acessibilidade a todo tipo de bens, pretensa liberdade individual e implantação da democracia formal, embora se preservasse o regime do imperador respeitado como deus vivo. 

Mas algo foi se desequilibrando. 

Monge Shôjo Sato na Cúpula dos Povos
O que acontece com o Japão hoje não se restringe à intranquilidade geral e desconfiança generalizada que advém do vazamento da radiação nuclear. É uma cristalização antecipada do que pode acontecer com o mundo todo na continuidade do seu modelo social, econômico e tecnológico, não só em função da radiação nuclear que não tem forma, cheiro ou cor mas pode se espraiar pelo planeta mas especialmente como a necessidade da revisão de valores, especialmente na retomada do equilíbrio entre o material e o não material no mundo das ilusões. 

É o que pude testemunhar e sentir no segundo aniversário da tragédia de Fukushima.

Na manhã seguinte, às 6,30 minutos, tomei o trem-bala para me dirigir a Kyoto para assistir a ordenação da Cris como monja. Da janela, ainda nas terras de Fukushima, vi a paisagem bela de montanhas cobertas de neve no topo, iluminada por raios dourados de luz. Desejei que a neve derretida por essa luz não seja contaminada mas pura a saciar a verdadeira necessidade de todos os seres. 

Mais adiante, depois de Tóquio, vi o famoso Monte Fuji glorioso, grandioso, resplandecente na luz dourada e tive o mesmo sentimento não apenas como espectador mas certo de que ele depende da nossa vontade e da nossa ação.

Monge Shôjo Sato
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2 ANOS DA TRAGÉDIA DE FUKUSHIMA

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Há dois anos, em 11 de março de 2011, o mundo soube da tragédia de Fukushima: um fortíssimo terremoto e um tsunami de grandes proporções, a que se seguiu a explosão de uma usina nuclear. com todas as consequências de um acidente nuclear: a difusão de radioatividade, que permanecerá ativa durante anos, ameaçando muitas gerações.

As noticias que chegam do Japão são cada vez mais preocupantes. Segundo o jornal Asahi Shinbum, há poucos dias perto da usina, foi encontrado um peixe com 5 mil vezes mais radioatividade que o permitido por lei, o que pode indicar que a usina destruída continua contaminando o meio ambiente e trazendo riscos para a saúde humana. Sabe-se também que um desastre ainda pior pode ocorrer se outro tremor destruir a piscina de refrigeração, onde 264 toneladas de varetas de combustível usado, contendo grande quantidade de césio-137, aguardam destino final. A dimensão do problema pode ser avaliada se considerarmos que 19 gramas desse mesmo césio 137 provocaram um grande número de vitimas em Goiânia, no Brasil, em 1987.

Nesta data, nos solidarizarmos com o povo japonês, pelo sofrimento que lhe é imposto e continuidade do uso irresponsável de uma tecnologia extremamente perigosa para produzir energia elétrica.

Mas também  hoje denunciamos à insegurança que caracteriza a cadeia de produção da energia nuclear no Brasil. A mineração em Caetité tem contaminado e deixado cada vez mais escassas as águas no entorno da mina, ameaçando a integridade ambiental, a saúde e segurança alimentar da população. A mina de Itataia em Santa Quitéria no Ceará antes mesmo de ser explorada, já ameaça 40 comunidades camponesas que vivem no entorno da mesma e correm o risco de sofrerem impactos irreparáveis na saúde humana, na produção de alimentos, na diminuição e contaminação da água, enfim, no direito de ir vir. As usinas de Angra dos Reis registram um histórico de acidentes e interrupções de funcionamento por problemas técnicos e o lixo atômico é uma ameaça presente e futura.

Denunciamos também a pressão que está sendo feita pelas empresas que lucram com essa tecnologia para que, a Caixa Econômica Federal brasileira desvie recursos de suas finalidades sociais para financiar o negócio nuclear, assegurando a conclusão de Angra 3,terceira usina nuclear de Angra dos Reis, entre São Paulo e Rio de Janeiro.

O governo brasileiro esperava um empréstimo de 1 bilhão e meio de dólares de bancos europeus, que contavam com a garantia da Companhia de Seguros Euler, da Alemanha. Mas o governo brasileiro não apresentou ao Parlamento Alemão relatórios confiáveis garantindo a segurança tecnológica da construção e funcionamento de Angra 3. Agora pressiona a Caixa Econômica Federal para compensar o financiamento perdido.

Exigimos a desativação de Angra 1 e 2 e a interrupção de Angra 3, para evitar que falhas técnicas ou erros humanos provoquem no Brasil a desgraça de um desastre como o de Fukushima. É fundamental proteger as mais de 170.000 pessoas que vivem nas proximidades das usinas, assim como milhares de brasileiros, facilmente alcançáveis por nuvens radioativas como as que se espalharam por toda a Europa, em 1986, com a explosão da usina nuclear de Chernobyl, na União Soviética.

A Coalizão por um Brasil Livre de Usinas Nucleares e a Articulação Antinuclear Brasileira reafirmam: NÃO QUEREMOS USINAS NUCLEARES NO MUNDO,  NEM NO BRASIL. Contamos com o apoio dos brasileiros de bom senso nesta iniciativa.

11 de março de 2013


 Articulação Antinuclear Brasileira 

Coalizão por um Brasil Livre de Usinas Nucleares www.brasilcontrausinanuclear.com.br

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