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As Novas Usinas Nucleares

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Rio São Francisco e rio Tietê podem abrigar novas usinas

(Parte integrante da matéria Angra 3 pode abrir caminho para novas usinas atômicas no país)

Além de Angra 3, o Brasil pode vir a ter em seu território mais oito usinas nucleares em funcionamento nos próximos 22 anos. Ao menos é o que indica o Plano Nacional de Energia 2030, elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética do Ministério de Minas e Energia (EPE/MME). Trata-se do principal estudo do governo federal para a formulação de políticas de oferta de energia no longo prazo.

De acordo com o plano, analisadas todas as possibilidades de oferta disponíveis no país, será preciso construir, até 2030, outras quatro unidades nucleares para suprir a demanda energética, num cenário econômico considerado mediano - com crescimento de cerca de 4,1% do Produto Interno Bruto (PIB) ao ano. Esse número de usinas, no entanto, poderá dobrar, segundo o estudo, que leva em conta também conjunturas de atividade econômica mais intensa. O Nordeste e o Sudeste são os destinos previstos para os novos reatores nucleares.

Apesar de não haver ainda estudos oficiais sobre a localização dessas usinas, o presidente da Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro da Silva, tem falado publicamente sobre alguns territórios cogitados. São eles o baixo rio Tietê, em São Paulo, próximo a Mato Grosso do Sul, algum lugar às margens do rio Grande, em São Paulo ou Minas Gerais, e nas proximidades do rio Doce, no Espírito Santo. A primeira delas, contudo, seria instalada entre a foz do rio São Francisco e a Hidrelétrica de Xingó, em Sergipe ou Alagoas, com entrada em operação prevista para 2017.

Embora incipiente, a proposta já sofre oposição de setores organizados. Luiz Carlos Fontes, do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) - órgão responsável por discutir as prioridades de uso dos recursos hídricos locais -, destaca que a entidade não é contrária, por princípio, a esse tipo de energia. Ele pede, no entanto, mais interlocução por parte do setor nuclear. "Sei que esse debate está no início, mas, por prever um tipo de utilização do rio que desperta apreensão da população, esperava-se que eles estabelecessem um diálogo", argumenta.

As usinas nucleares brasileiras, tanto as previstas como as já construídas, baseiam-se em modelo que emprega água para refrigeração das turbinas, e o rio São Francisco, nesse caso específico, seria a fonte utilizada. Contudo, na avaliação de Heitor Scalambrini Costa, professor da Universidade Federal de Pernambuco e pesquisador da área de energia, já há uma disputa excessiva por suas águas - vide, por exemplo, o projeto de transposição do rio. "Existem saídas mais vantajosas para o investimento em geração no Nordeste, por exemplo em energia solar, eólica e produzida a partir do bagaço da cana-de-açúcar", afirma ele.

Angra 3 pode abrir caminho para novas usinas atômicas no país

Concebida inicialmente em 1970, a construção da terceira usina nuclear brasileira volta à tona na condição de prioridade do governo Lula. Angra 3 é apenas o primeiro passo de um ambicioso projeto de expansão nuclear

Por André Campos

Simulação indica local previsto para construção
de Angra 3 (Fonte: Eletronuclear)
No dia 25 de junho, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) - órgão que assessora a Presidência da República em questões relativas ao tema - reuniu-se para deliberar sobre um assunto sempre polêmico: energia nuclear. Na pauta do encontro, a retomada da construção da usina de Angra 3, projeto concebido originalmente na década de 1970, no auge da ditadura militar, e desde então ressuscitado ou engavetado ciclicamente ao sabor dos ventos políticos. Desta vez, a proposta foi aprovada de forma acachapante. Dos oito ministérios com assento no órgão, apenas um se posicionou contra a obra. Marina Silva, titular da pasta do Meio Ambiente e notória opositora da expansão nuclear no país, foi o voto vencido.

Dias antes, durante a inauguração de uma plataforma petrolífera, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já encampava publicamente a construção da terceira usina atômica brasileira. "Para crescermos acima de 5%, vamos ter de dizer aos investidores que não vai faltar energia a partir de 2012", disse. "A tecnologia do Brasil é perfeita. Nunca acontecerá aqui o que ocorreu em Chernobyl [localidade que fazia parte da União Soviética - hoje Ucrânia - que se tornou célebre por causa de um desastroso acidente em usina nuclear em maio de 1986]."

A aprovação no CNPE e o apoio presidencial catapultaram Angra 3 à categoria de prioridade na agenda do governo federal. O Planalto espera inicialmente que a usina esteja funcionando já em 2013 - meta que supõe início urgente das obras. Para que isso ocorra, no entanto, ainda é preciso conseguir o licenciamento ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). "Esperamos obter a licença prévia para a instalação da usina até o final deste ano", diz Leonam Guimarães, assistente da presidência da Eletronuclear - estatal que detém o monopólio da construção e operação de usinas atômicas no Brasil.

E mais: longe de ser idéia isolada, Angra 3 pode ser o primeiro passo rumo a uma expansão vertiginosa do parque nuclear brasileiro, com a construção de até oito outras unidades nas próximas duas décadas.

Persistem, no entanto, grandes questionamentos relacionados ao projeto, que incluem desde dúvidas quanto à racionalidade econômica do investimento nesse tipo de energia até às conhecidas críticas sobre seus problemas ambientais - ainda que alguns dos principais defensores da energia atômica da atualidade tenham "berço" ambiental. Além disso, a própria estrutura do programa nuclear nacional desperta freqüentes suspeitas em relação à falta de transparência e fiscalização.

Planejamento energético
Originalmente, a concepção de Angra 3 remonta a 1975, quando foi assinado um acordo de cooperação nuclear entre Brasil e Alemanha, que previa a construção de oito usinas. Seis anos antes, o governo militar já havia adquirido da americana Westinghouse o reator que daria origem à Angra 1, inaugurada em 1985. A recessão da década de 1980, contudo, aliada a decisões políticas da época, emperrou a implantação das duas outras unidades previstas para o complexo de Angra dos Reis (RJ). A segunda delas, Angra 2, começou a sair do papel em 1976, mas só entrou em operação em 2000.

Para presidente Lula, tecnologia atômica brasileira
é "perfeita" (Foto: Ricardo Stuckert/PR)
O projeto de Angra 3 é praticamente uma réplica do de Angra 2. Desenhada para gerar o equivalente a 34% do consumo atual do estado do Rio de Janeiro, ela elevará, caso concretizada, para mais de 80% a participação da energia nuclear na matriz energética fluminense. O valor a ser despendido em sua construção é estimado em R$ 7,2 bilhões, descontando-se todos os gastos com equipamentos já adquiridos e também com sua manutenção - algo que, de acordo com a estatal, consome hoje cerca de US$ 20 milhões anuais.

Para angariar apoio, defensores de Angra 3 tentam mudar a idéia de que a energia atômica é cara e pouco competitiva. A Eletronuclear afirma que a tarifa a ser cobrada pela produção da usina ficará em torno de R$ 140 por megawatt/hora, um valor compatível, segundo a empresa, com os preços internacionais desse tipo de energia - e que desvia muito pouco da média de R$ 137,44 por megawatt/hora alcançada pelas usinas térmicas vencedoras dos leilões governamentais para contratos a partir de 2011.

Numa perspectiva mais ampla, contudo, essa competitividade sofre contestações. Claudio Sales, presidente do Instituto Acende Brasil - que objetiva viabilizar o empreendedorismo privado no setor elétrico brasileiro -, faz um comparativo entre a Hidrelétrica de Estreito, atualmente em construção, e dados da produção média de Angra 2. E conclui que, sem atrasos ou estouros de orçamento, a energia da nova usina nuclear será 25% mais cara que a de Estreito.

Leonam Guimarães, da Eletronuclear, questiona esse tipo de comparação. "A oposição entre Angra 3 e hidrelétricas não faz sentido, são projetos complementares. No planejamento, o governo considerou todas as fontes de energia disponíveis, e a usina nuclear aparece como uma necessidade já antes de 2015", argumenta. Ele afirma ainda que, caso não se invista em Angra 3, será preciso implantar termelétricas movidas a carvão - decisão desvantajosa devido à grande emissão de gases responsáveis pelo efeito estufa.

Estudos como a "Agenda Elétrica Sustentável 2020", desenvolvida por especialistas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) para a ONG WWF-Brasil e lançada em setembro do ano passado, tentam mostrar que o planejamento poderia seguir outros caminhos. Segundo o documento, investimentos em formas alternativas de energia, como a eólica e a proveniente de biomassa, somados a medidas de eficiência - visando, por exemplo, diminuir as perdas nos sistemas de transmissão existentes - podem reduzir a demanda esperada de eletricidade para 2020 em até 38%. "Isso corresponde à geração de 60 usinas nucleares como a de Angra 3", exemplifica o estudo.

Armazenar equipamentos de Angra 3 já
adquiridos custa US$ 20 milhões anuais aos
cofres públicos (Foto:Eletronuclear)
Em resposta a essa posição, defensores da matriz atômica argumentam que os custos desses empreendimentos ainda são um obstáculo para sua competitividade no cenário nacional. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) realizou, em julho deste ano, o 1º leilão nacional para compra de energia proveniente de fontes alternativas, mas nenhum projeto eólico participou. O setor considerou baixo o preço-teto de R$ 140 por megawatt/hora estabelecido pelo governo - valor correspondente ao que a Eletronuclear encampa para as tarifas de Angra 3. Num resultado ainda tímido, os contratos provenientes do leilão, que envolveram apenas termelétricas movidas a biomassa e pequenas centrais hidrelétricas, resultarão num aumento de 638,6 megawatts para o parque energético brasileiro. Esse montante representa um pouco menos da metade da geração de energia prevista para Angra 3.

Rede de interesses
Além das grandes construtoras, também aguardam ansiosamente pela liberação de Angra 3 setores da área atômica que esperam alcançar a auto-suficiência nacional na produção de combustível nuclear. Apesar de o Brasil já dominar essa tecnologia, parte do ciclo de processamento do urânio ainda é feita no exterior, pois não há escala para justificar economicamente tais atividades - realidade que tende a mudar com a construção de novas usinas.

A cobiça para o desenvolvimento da exploração e o enriquecimento do urânio é grande. O território nacional abriga a sexta maior reserva internacional desse minério, fator que incentiva tais interesses. Segundo Alfredo Tranjan Filho, presidente das Indústrias Nucleares do Brasil (INB) - empresa de economia mista responsável pela exploração e beneficiamento de combustível atômico no país -, Angra 3 e as demais unidades previstas trazem a necessidade de aumentar a produção da mina de Caetité (BA), além da lavra de uma nova jazida em solo nacional. "A INB está em busca de um parceiro para explorar a mina de Santa Quitéria (CE)", revela.

Entre os que estão de olho nesse mercado destaca-se a Vale, que abandonou o nome comercial Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) e declara publicamente ter interesse em parcerias com o governo para explorar o minério. A mineradora já explora o minério na Austrália. A Constituição brasileira, porém, determina ser a lavra do urânio monopólio da União.




Após a leitura de uma matéria tão rica em informações, coesa e clara podemos avaliar a função política de uma matéria como esta abaixo.

Rio São Francisco pode ter 2 usinas nucleares

Estatal Eletronuclear aponta localização em relatório técnico, que analisou 20 áreas de quatro Estados nordestinos

Programa nuclear prevê quatro usinas até 2030, duas no Nordeste e duas no Sudeste; definição será política e deve sair até março


MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As duas próximas usinas nucleares a serem construídas no Brasil ficarão localizadas às margens do rio São Francisco, que corta parte da região Nordeste, indicam estudos técnicos que serão levados à decisão política do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e dos ministros responsáveis pelo programa nuclear brasileiro.

O programa nuclear prevê a construção de mais quatro usinas de 1.000 MW até 2030, duas no Nordeste e duas no Sudeste -onde os estudos estão mais atrasados. No Nordeste, a estatal Eletronuclear analisou a possibilidade de construção em 20 locais de quatro Estados: Bahia, Sergipe, Alagoas e Pernambuco. Mas áreas próximas ao litoral foram descartadas por causa da existência de grandes reservatórios subterrâneos de água, apurou a Folha.


A presença de aquíferos é um dos fatores que condenam a instalação de usinas nucleares, que, no entanto, precisam contar com grande oferta de água para o resfriamento do combustível usado, à base de urânio enriquecido. Outros critérios levados em conta nos estudos da Eletronuclear foram estrutura geológica estável, proximidade de linhas de transmissão de energia, baixa concentração populacional e condições adequadas de infraestrutura, como estradas. A escolha do local levará em conta as indicações técnicas e também critérios políticos. Os governadores dos quatro Estados disputam o investimento de bilhões de dólares. A decisão deverá ser tomada pelo governo federal até março, prevê o ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende. A construção de usinas nucleares às margens do São Francisco já havia sido estimulada no passado pela CNEN (Comissão Nacional de Energia Nuclear), antes de o governo decidir erguer mais duas usinas no Nordeste até 2030. Os principais argumentos foram a disponibilidade de água e o fato de o Nordeste precisar atrair investimentos para aumentar a renda da região.


O rio São Francisco já é base da maior obra do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) bancada com dinheiro dos tributos arrecadados pela União. A transposição do São Francisco prevê o desvio de parte das águas do rio para regiões do semiárido de quatro Estados nordestinos: Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. A primeira parte da obra deve ser inaugurada até o fim do ano. Como qualquer outro empreendimento de infraestrutura, a instalação das usinas no Nordeste dependerá da emissão de licença ambiental do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).


Embora o governo preveja a construção das duas usinas no NE a partir de 2014, quando está prevista a inauguração de Angra 3, os estudos coordenados pela Eletronuclear são para a criação de uma central nuclear com seis usinas de 1.000 MW cada uma. As demais quatro usinas da região seriam erguidas nas décadas seguintes.

Lobby
O governador de Alagoas, Teotônio Vilela Filho (PSDB), é quem faz o lobby mais aberto na disputa pelas usinas. "Alagoas tem o mais baixo índice de desenvolvimento humano do país, por isso reivindicamos com muita força esse empreendimento", disse o governador. "Todos querem, é claro."


Dos quatro governadores que disputam as usinas, ele é o único de um partido da oposição ao governo federal. Marcelo Déda (PT), de Sergipe, Jaques Wagner (PT), da Bahia, e Eduardo Campos (PSB), de Pernambuco, já manifestaram interesse em abrigar as usinas.


Wagner e Campos defenderam a instalação das usinas na fronteira dos dois Estados, às margens do São Francisco, em Juazeiro (BA) e Petrolina (PE), mas a proposta enfrenta obstáculos legais.


Drausio Atalla, supervisor da Presidência da Eletronuclear para Novas Usinas, calcula que as usinas de Angra dos Reis tenham sido responsáveis pelo aumento da arrecadação de impostos em cerca de R$ 500 milhões, além da criação de milhares de empregos. Para ele, a instalação de usinas nucleares poderia "alavancar o desenvolvimento" no Nordeste.


Fonte: http://www.reporterbrasil.org.br/exibe.php?id=1241
- Folha de São Paulo de 15/01/10

Comment (1)

É impressionante como esses governadores não tem cérebro, apenas bolso na calça, a custa de muitas vidas transformadas em ossos !
Espero que aqui não se crie uma nova Chernobyl, condenada aos milhares de séculos futuros como cidade fantasma, sem falar de suas vítimas fatais que foram muitos milhares !

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