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Chernobyl Ainda Assombra- História & Repercussão

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A radiação se alastra pela Europa e cria temor de nova catástrofe, 20 anos após o pior acidente nuclear da história

Era quase uma e meia da madrugada do dia 26 de abril de 1986 quando os técnicos que trabalhavam no reator quatro da usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, cometeram um erro fatal. Em vez de desligá-lo, depois de horas de atividade, eles aceleraram o processo que faz os átomos de urânio enriquecido se partirem para liberar energia. O reator sofreu então um superaquecimento e explodiu. 
Uma nuvem de fumaça de partículas radioativas se espalhou pelo norte da Ucrânia, o sul de Belarus e a região russa de Bryansk com um poder 400 vezes maior que o da bomba que em 1945 devastou a cidade japonesa de Hiroshima, ao final da Segunda Guerra. 
Às 09:30 de 27.04.1986 monitores de radiação na Central Nuclear de Forsmark, perto de Uppsala, Suécia, detectaram níveis anormais de iodo e cobalto, motivando a evacuação dos funcionários da área devido a vazamento nuclear. Os especialistas não constataram nenhum problema na Central. O problema estava no ar. Foram verificados níveis anormais no norte e centro da Finlândia. Em Oslo, na Noruega, dobraram. Na Dinamarca, os níveis subiram 5 vezes.

Os suecos através da embaixada em Moscou interpelaram o Comitê Estatal para o Uso da Energia Atômica e a Organização Internacional de Energia Atômica devido a suspeita de que os ventos que traziam radioatividade à Escandinávia vinham do interior da União Soviética.

Moscou negou por 2 dias qualquer anormalidade. Mas a presença de rutênio nas amostras analisadas na Suécia era emblemática, visto que o rutênio se funde a 2.255 °C, sugerindo uma explosão grave. Só em 28 de abril é que assumiu o acidente nuclear na República da Ucrânia, no fim do dia. Quase 12 horas depois, às 09:02, o jornal na TV apresentou uma breve declaração de quatro sentenças, que "uma explosão, incêndio e fusão do reator tinha ocorrido na Central Nuclear Vladímir Ilitch Lênin" em Pripyat.


Um satélite americano varreu a região da Ucrânia, encontrando uma usina com o teto destroçado e um reator ainda em chamas com fumaça vertendo do interior. Apenas, em 30 de abril, o Pravda -jornal do Partido Comunista, tocou no assunto. Para dar uma idéia de normalidade, as comemorações do 1° de maio tiveram seus desfiles normalmente realizados em Kiev, a capital ucraniana, e em Minsk, na Bielorússia. No dia 3 de maio a nuvem estava sobre o Japão e no dia 5 de maio chegou aos EUA e Canadá. Mikhail Gorbáchov demorou 18 dias para falar sobre o acidente, só o fazendo em 14 de maio.


Denúncia: 'sarcófago' de cimento de Chernobyl tem fendas e buracos


08 de Junho de 2009

SÃO PAULO (SP), BRASIL — Prazo de validade da proteção que envolve a usina nuclear expirou há três anos. Novos vazamentos radioativos podem acontecer.
O 'sarcófago' de cimento que abriga o quarto reator da usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, está cheio de buracos e representa uma grande ameaça à população local. A denúncia foi feita pelo Greenpeace Rússia, que alerta: caso um novo 'sarcófago' não seja instalado em breve, há o sério risco de vazamento de material radioativo.
"O prazo de validade do 'sarcófago' expirou há três anos. Já não cumpre suas funções", afirmou Vladimir Chuprov, coordenador da campanha de Energia do Greenpeace na Rússia.
Segundo Chuprov, o consórcio internacional criado para resolver o problema de Chernobyl arrecadou bilhões de euros para colocar o novo 'sarcófago' mas as obras ainda não foram iniciadas. A nova proteção, no entanto, tem prazo de validade de apenas 100 anos.

Mais uma vez o caso Chernobyl nos mostra o quanto é arriscado trabalhar com a tecnologia nuclear. Anos se passaram e a usina ainda traz riscos de contaminação e prejuízos econômicos", afirma André Amaral, coordenador da campanha de Energia Nuclear do Greenpeace no Brasil.

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Projetado para durar duas décadas, o contêiner, que funciona como um sarcófago para lacrar o reator, está carcomido pela umidade. A viga que suporta o telhado está apoiada numa parede abaulada pelas infiltrações. As rachaduras se espalham por uma área de 800 metros quadrados. As juntas das placas de aço que isolam o reator não estão soldadas e a água da chuva passa pelas frestas e buracos. Ao entrar no casulo radioativo, a água se contamina atingindo o solo. E animais. E o homem.
Uma geração depois do desastre, o governo dos três países mais afetados ainda negociam como financiar a construção de outro sarcófago. Maior que um campo de futebol e tão alto quanto a Estátua da Liberdade (93 m), ele vai custar US$ 800 milhões e levará cinco anos para ficar pronto. Será tarefa para um Hércules porque existe lixo radioativo enterrado por toda parte. É nesse local que os operários terão de fincar as estruturas do novo abrigo. Trágico detalhe: são grandes os riscos de contaminação na hora de retirar tudo o que está soterrado – o solo europeu está cada vez mais carregado de césio-137, uma das partículas expelidas após a explosão. A área de isolamento também aumentou. Inicialmente estava restrita a um raio de 30 quilômetros de Chernobyl e hoje cobre dezenas de milhares de quilômetros quadrados.
Não por acaso, Alemanha, Itália e Turquia abriram mão de seus programas nucleares. Os franceses e os japoneses foram exceção. De toda a energia produzida por eles, 80% e 30%, respectivamente, provêm dos reatores. 



Césio 137 de Chernobyl ainda contamina a Europa

Pierre Le Hir-Le Monde-19.05.2000
O césio 137 disseminado sobre a Europa pela nuvem de Chernobyl é mais persistente do que os cientistas pensavam. Nas regiões mais afetadas, esse elemento radioativo vai continuar a contaminar por muito tempo ainda a cadeia alimentar. Esta é a conclusão de um estudo realizado por equipes inglesas e holandesas, publicado na edição de 11 de maio de 2000 da revista britânica "Nature".

O trabalho vem confirmar uma pesquisa norueguesa que havia sido apresentada em 1999, a qual chegava a uma conclusão similar a partir de análises realizadas sobre peixes de um lago escandinavo. Desta vez, a concentração de césio 137 foi medida em plantas e peixes de lagos do condado de Cumbria, noroeste da Inglaterra.

Medições feitas anteriormente, nos anos que seguiram a explosão do reator ucraniano, em 26 de abril de 1986, haviam mostrado uma rápida diminuição da quantidade dessas partículas radioativas encontradas nos vegetais, na água ou nos peixes: essa "biodisponibilidade" havia diminuído pela metade no decorrer de um período de um a quatro anos.

Os especialistas haviam então aventado hipótese de que o césio transportado pela nuvem de Chernobyl, uma vez depositado no solo (pela chuva ou pelo vento), havia se fixado no húmus, onde ficava preso à argila. Ao projetar a curva da radiação, os pesquisadores fizeram a suposição de que a transferência da radiação nuclear nas plantes, pelas raízes; ou na água, pela correnteza; e em definitivo, na cadeia alimentar, teria praticamente desaparecido após uma década.

Cogumelos e Javalis

As recentes medições revelam que o processo vem se desenvolvendo de forma bem diferente. A diminuição do teor em césio 137 das amostras vem ocorrendo num ritmo muito mais lento: o ritmo do decréscimo não passa mais de 50% para um período de 30 anos -o que corresponde exatamente à taxa de decréscimo espontâneo (redução da radioatividade) do césio 137.

"A natureza nos ajudou nos primeiros anos, fixando a radioatividade no solo. Mas essa ajuda acabou. Um equilíbrio se estabeleceu entre a capacidade de retenção do solo e a faculdade de migração do césio. De agora em diante, só podemos contar com o processo de decréscimo radioativo natural", comenta Henri Métivier, do Instituto de Proteção e Segurança Nucleares (IPSN).

A descoberta deste fenômeno não traz nenhuma conseqüência para a França, onde, segundo relatório do IPSN em 1997, "na maior parte do território, a contaminação proveniente das conseqüências do acidente de Chernobyl diminuiu a tal ponto que se tornou cada vez mais difícil encontrar seus sinais". Na maioria dos casos, a radioatividade em césio 137 diminuiu até alcançar níveis inferiores aos que eram medidos antes da catástrofe de Chernobyl, e que resultavam dos testes de armas atômicas na atmosfera.

No entanto, algumas zonas montanhosas e florestais que foram mais "servidas" do que outras, em particular a Córsega, Vosges, o Jura e os Alpes, com destaque para a região do Mercantour, continuam a apresentar uma radioatividade muito acima da média francesa. Nessas áreas, os animais selvagens e os cogumelos podem estar claramente acima do limite de 600 becquerels por quilo (Bq/kg), determinado pela União Européia, para os gêneros alimentícios comercializados: em 1996, nas Vosges, um javali abatido por caçadores apresentou níveis de radiação acima de 1.600 Bq/kg.

No mesmo ano, a associação independente CRII-Rad havia assinalado naquela região de montanhas concentrações acima de 368 mil Bq/kg de campo ou de floresta. Mas o IPSN garante que esses pontos críticos são, ao mesmo tempo, "de tamanho muito reduzido e pouco acessíveis".

A Nuvem de Chernobyl

Bastaram algumas horas, depois da explosão do reator 4 da central nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, no dia 26 de abril de 1986, para tornar inabitáveis e incultiváveis durante dezenas de anos cerca de 40.000 km2. O iodo, devido a seu curto período radioativo, desapareceu rapidamente, e raras são as medidas dos índices de contaminação. Mas, desde 1989, observa-se na região um aumento dos cânceres da tireóide, em particular nas crianças, que tinham menos de 5 anos no momento do acidente. No restante da Europa, constata-se sempre uma radioatividade superficial, principalmente devido ao césio 137.

A nuvem radioativa, empurrada pelos ventos, deslocou-se para a Rússia e a Escandinávia, contaminando zonas ao sul de Moscou, no sul da Finlândia, na Suécia e na Noruega. Alguns dias mais tarde, a nuvem sobrevoou o centro e o sul da Europa (República Checa, Áustria, Suiça, Itália e Grécia), bem como algumas regiões do Reino Unido. A contaminação é mais grave nas regiões onde choveu durante a passagem da nuvem. 



Multidão de Inválidos

Em Borodyanka, um distrito contaminado onde 6.000 pessoas tiveram de ser reassentadas, Vladimir Krasnoschyok, assessor do prefeito, explicou como 3.000 pessoas (de uma população de 56.000) são reconhecidas como inválidas, de acordo com a legislação, por causa das conseqüências do acidente de Chernobyl, essencialmente por problemas de tireóide, estômago e leucemia.

Falta dinheiro para pagar as aposentadorias e para garantir às vítimas o tratamento assegurado pela lei. Apenas 80% das 10 mil crianças e 7% dos 5.500 adultos com direito a isso conseguem continuar os tratamentos termais. As declarações oficiais tentam manter o equilíbrio entre os objetivos de segurança e os da ajuda às vítimas. Mas a comparação dos números é indiscutível.

O Chernobyl Shelter Fund, estabelecido depois de 1995 pelo Grupo dos Sete (G-7) e administrado pelo Banco Europeu para Reconstrução e Desenvolvimento (Berd) para a reconstrução do sarcófago do reator destruído, já reuniu mais da metade dos US$ 758 milhões exigidos para a primeira fase. Mas o Chernobyl Trust Fund, estabelecido em 1995 pela ONU para financiar um programa humanitário, avaliado em US$ 800 milhões, só arrecadou até hoje US$ 1,5 milhão. Fora do sarcófago, os países ocidentais gastaram cerca de US$ 2 bilhões.

As motivações da comunidade internacional são evidentes. Embora Chernobyl tenha revelado a dimensão global do risco nuclear, o reator 3 da central ucraniana e outros 13 do mesmo tipo (11 na Rússia e 2 na Lituânia) continuam em serviço. O público conhece esse risco. E a indústria nuclear ocidental - que aliás assume a maior parte dos orçamentos de assistência - está ciente de que não sobreviveria a um novo acidente no Leste Europeu. Os dois pontos essenciais para a segurança da Ucrânia - fechamento de Chernobyl e reconstrução do sarcófago - estão sendo regulamentados de acordo com os termos do documento assinado em 20 de dezembro de 1995 entre o G-7, a União Européia e a Ucrânia.

Por uma parte, a conferência de doadores, organizada em Berlim nos dias 4 e 5 de julho de 2000, estabeleceu o orçamento da primeira fase da reconstrução do sarcófago. Por outro lado, no dia 5 de junho, o presidente da Ucrânia, Leonid Kuchma, comprometeu-se a desativar definitivamente o reator 3 até 15 de dezembro de 2000.



"Rigor científico" oculta maior parte dos malefícios da radiação

Os projetos internacionais incluem a extensão da rede de centros de reabilitação psicológica e social nos três países afetados por Chernobyl: Ucrânia, Rússia e Bielorússia. Desenvolvidos pela Unesco a partir de 1994, cerca de dez centros foram inaugurados. Oksanna Garnets, coordenadora do Programa Chernobyl da ONU na Ucrânia, não se cansa de defender a utilidade deles. "As pessoas sofrem de um complexo de vítimas", explica. "O objetivo dos centros não é o de dar-lhes assistência, mas o de ajudá-la a reconstruir suas próprias vidas."

Em Borodyanka, o centro desenvolve serviços de aconselhamento, de animação e de informação médico-social às populações em dificuldades. Em Slavutich, a cidade construída depois do acidente a 40 km de Chernobyl para os empregados da central nuclear, o centro enfrenta um problema específico: a angústia da população ante a perspectiva do fechamento do reator.

A maioria dos programas de assistência da ONU não foi posta em prática até hoje. Em 1993, as Nações Unidas deploraram que "o interesse da comunidade internacional pelos efeitos do acidente se traduza principalmente na investigação". Esta pesquisa não conduz ao reforço da ajuda às populações.

Seu principal desafio é defender a reputação da energia nuclear: trata-se de evitar que alguns efeitos sejam atribuídos "erradamente" às radiações.

A mensagem é clara: sim, as pesquisas demonstraram um aumento muito importante dos cânceres da tireóide em crianças e adolescentes. Elas registram cerca de 1.800 casos imputáveis ao acidente. Para todos os outros efeitos observados, embora sua ligação com a radiação possa ser suspeita em certos casos, isso não está demonstrado cientificamente. Estas são, por exemplo, as conclusões da conferência "Uma década depois de Chernobyl", organizada em abril de 1996 pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e Organização Mundial de Saude (OMS). Muitas vozes se levantam para denunciar a "redução da verdade à clandestinidade" e criticar a atitude, extremamente tímida, da OMS.

Esta última está ligada à AIEA por um acordo assinado em 1959. O acordo prevê uma consulta recíproca para a "salvaguarda do caráter confidencial de alguns documentos", quando uma organização se dedica a um campo que apresentar "um interesse maior para a outra parte". Agência de carater autônomo, a AIEA tem por missão "ampliar a contribuição da energia atômica à paz, à saúde e à prosperidade no mundo". Desde 1986, Mikhail Gorbáchov agradecia à AIEA "por sua atitude objetiva", por oposição à "malevolência" dos Estados Unidos ou do G-7.


Fontes: http://www.istoe.com.br/reportagens/19547_CHERNOBYL+AINDA+ASSOMBRA?pathImagens=&path=&actualArea=internalPage
http://www.energiatomica.hpg.ig.com.br/chernobylp96.htm
http://www.greenpeace.org/brasil/nuclear/noticias/den-ncia-sarc-fago-de-cimen
http://www.energiatomica.hpg.ig.com.br/monde.html

Comments (2)

Parabéns pelos post é um excelente blog que merece a observação de todos para os problemas causados com a Química. Muitos destes problemas a maior parte das pessoas não sabem que existem.

Adorei. Falou muito bem do assunto. Parabéns.

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